Finalizada a reunião de Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping, da China, assinaram ontem (20) 37 novos acordos bilaterais em diversas áreas, como agricultura, comércio, investimentos, indústria, energia, ciência, tecnologia e sustentabilidade. “Apesar de distantes na geografia, há meio século China e Brasil cultivam uma amizade estratégica”, disse Lula em seu discurso. “O superávit com a China é responsável por mais da metade do saldo comercial global brasileiro”, destacou Lula.
O presidente chinês veio ao Brasil para participar do G20, fórum internacional que reúne as 19 maiores economias do mundo, mais União Africana e União Europeia. A Declaração Final de Líderes do G20 contém, por exemplo, uma proposta de tributação progressiva dos super-ricos, um dos pilares da presidência transitória do Brasil à frente do bloco.
Um dos acordos assinados ontem em Brasília é na área de satélites, com a empresa SpaceSail, rival da Starlink, do bilionário sul-africano Elon Musk.
Em setembro passado, uma delegação brasileira encabeçada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e que também incluiu o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, esteve na China para os preparativos da visita de Xi Jinping ao Brasil.
Lula queria que nada desse errado, uma vez que a visita marca o cinquentenário das relações diplomáticas entre os dois países, completados em agosto.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, quando tomou o lugar dos Estados Unidos. O país asiático é o que mais recebe as exportações brasileiras do agronegócio, umas das principais fontes da riqueza do Brasil.
As relações entre Brasil e China foram azedadas ao longo do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em razão de hostilidades ideológicas entre o ex-presidente e o governo chinês. Ao assumir o governo, Lula fez questão de voltar a estreitar os laços.
Em março do ano passado, a China foi um dos primeiros países que Lula visitou. Agora, Xi Jinping retribui a visita.
No sábado, na reunião do G20, Xi celebrou o encontro e ressaltou o bom momento entre os dois países. “As relações China-Brasil encontram-se no melhor momento na história”, disse ao lado de Lula. “Nos últimos anos, sob a orientação estratégica conjunta do Presidente Xi Jinping e do Presidente Lula, os nossos dois países passaram a ser amigos de confiança mútua e futuro compartilhado, e atuam como forças positivas que contribuem juntos para a paz”, completou Xi.
Lula, por sua vez, ressaltou a presença de empresas brasileiras na China e vice-versa. Também frisou as trocas comerciais, as quais, na opinião dele, beneficiam os dois países.
“Empresas chinesas vêm participando de licitações de projetos de infraestrutura e têm sido parceiras em empreendimentos como a construção de usinas hidrelétricas e ferrovias. Isso representa emprego, renda e sustentabilidade para o Brasil. Indústrias brasileiras também estão ampliando sua presença na China, como a WEG, a Suzano e a Randon. Ao mesmo tempo, o agronegócio continua a garantir a segurança alimentar chinesa. O Brasil é, desde 2017, o maior fornecedor de alimentos para a China”, afirmou o presidente.
Veja do que tratam alguns dos principais acordos assinados pelo Brasil com a China
- Formação Conjunta da Comunidade de Futuro Compartilhado China-Brasil por um Mundo mais Justo e um Planeta mais Sustentável;
- Estabelecimento de sinergias entre o Programa de Aceleração do Crescimento, o Plano Nova Indústria Brasil, o Plano de Transformação Ecológica, o Programa Rotas da Integração Sul-americana, e a Iniciativa Cinturão e Rota;
- Fortalecimento da Cooperação para o Desenvolvimento Internacional entre a Agência Brasileira de Cooperação da República Federativa do Brasil e a Agência de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional da República Popular da China;
- Contrato de Captação entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o China Development Bank (CDB);
- Protocolo de Requisitos Fitossanitários para Exportação de Uvas Frescas de Mesa do Brasil para a China entre o Ministério da Agricultura e Pecuária da República Federativa do Brasil e a Administração Geral de Aduanas da República Popular da China;
- Protocolo sobre os Requisitos de Inspeção e Quarentena para a Exportação de Gergelim do Brasil para a China entre o Ministério da Agricultura e Pecuária da República Federativa do Brasil e a Administração Geral de Aduanas da República Popular da China;
- Protocolo entre o Ministério da Agricultura e Pecuária da República Federativa do Brasil e a Administração Geral de Aduanas da República Popular da China para a Importação de Farinha de Peixe, Óleo de Peixe e outras Proteínas e Gorduras derivadas de Pescado para Alimentação Animal do Brasil para a China;
- Protocolo entre o Ministério da Agricultura e Pecuária da República Federativa do Brasil e a Administração Geral de Aduanas da República Popular da China sobre Requisitos Fitossanitários para a Exportação de Sorgo do Brasil para a China;
- Memorando de Entendimento entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação da República Federativa do Brasil e o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da República Popular da China sobre Cooperação na Indústria Fotovoltaica.
Porém, dentre os 37 atos e protocolos assinados por Lula e Xi, um dos mais relevantes é o da área de satélites.
A SpaceSail pretende atuar com o serviço de internet de alta velocidade transmitida por satélites de baixa órbita (chamados de satélites “geoestacionários”). A tecnologia é vista como uma solução para conectar regiões de difícil acesso à infraestrutura de telecomunicações tradicional. A Telebras assinou, na terça-feira passada (19), o acordo com a chinesa, concorrente da Starlink, de Elon Musk.
O acordo prevê a intenção de cooperação entre a Telebras e a SpaceSail, caso a chinesa passe a operar no Brasil.
Hoje, a StarLink tem grande presença no Brasil. Porém, o bilionário sul-africano, que atuou fortemente para eleger o também bilionário republicano de extrema direita Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, teve muitos problemas com autoridades brasileiras recentemente.
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes chegou a suspender uma das empresas de Musk no Brasil, o X (antigo Twitter). A decisão foi tomada depois de o STF ter intimado o empresário a nomear um novo representante legal da empresa no Brasil, sob pena de suspensão da rede social.
O X anunciou o fechamento do escritório no Brasil em 17 de agosto passado. A medida foi tomada depois de decisão em que Moraes determinou a prisão da representante da plataforma no país, caso não fosse cumprida a ordens de bloqueios de perfis. Como as ordens não foram cumpridas, o X foi bloqueado.
Brasil não adere, no entanto, à Nova Rota da Seda
O Brasil, contudo, não quis aderir ao projeto “Cinturão e Rota”, também conhecido como “Nova Rota da Seda”. O projeto trilionário foi iniciado pela China em 2013. Prevê a realização de obras e investimentos para ampliar mercados para o gigante asiático e a presença do país no mundo.
Há anos a China vinha fazendo investidas para atrair o Brasil para o projeto. A concordância do país para que a ex-presidente Dilma Rousseff assumisse a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics, esteve entre as estratégias.
No entanto, diplomatas e especialistas disseram que a decisão brasileira de não aderir ao projeto é fruto de diversos fatores, como a tradição diplomática brasileira, o cenário internacional conturbado e a percepção entre os tomadores de decisão brasileiros de que o país teria pouco a ganhar com uma eventual adesão ao projeto.
O projeto trilionário voltado à infraestrutura, inclui construção de rodovias, ferrovias, portos e obras no setor energético, como oleodutos e gasodutos que conectam a Ásia à Europa.
Estima-se que, desde o início, os investimentos variem entre US$ 890 bilhões (R$ 4,46 trilhões) e US$ 1 trilhão (R$ 5 trilhões).
O nome “Nova Rota da Seda” remete à histórica rota comercial do primeiro milênio que ligava a Ásia à Europa Central. Originalmente focado na região conhecida como Eurásia, o projeto expandiu-se para regiões como África, Oceania e América Latina.
Segundo o centro de estudos norte-americano sobre relações internacionais Council on Foreign Relations (CFR), 147 países aderiram formalmente ou demonstraram interesse no plano. Isso representa dois terços da população mundial e 40% do PIB global.
Na América Latina, em torno de 20 países integram a iniciativa, incluindo a Argentina, que assinou um memorando de adesão em abril de 2022.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e BBC News Brasil