Artigo de Deborah Magagna e André Campedelli *
Na última semana, tivemos a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), quando foi anunciado que a taxa básica de juros (Selic) ficaria ainda em 13,75%, e sem nenhuma sinalização de mudança. Mesmo com as explicações dadas no comunicado, é na ata da reunião que vemos as justificativas mais profundas sobre a decisão de se manter tal taxa em elevado patamar. E, nessa hora, vemos que o Banco Central parece que está completamente deslocado da realidade. Porém, a autoridade monetária fez um leve recuo, colocando a possibilidade de mudança da Selic já na próxima reunião, em agosto.
A ata é quase que um resumo de todas as desculpas que já foram dadas em momentos anteriores e que se mostraram equivocadas. Fala sobre risco fiscal e ainda em desconfiança sobre as novas regras fiscais; de falta de ancoragem de expectativas; de atuação de outros bancos centrais pelo mundo, os quais, segundo a ata, vêm atuando para aumentar a taxa de juros no mundo; e, também, fala sobre pressões inflacionárias que devem vir no segundo semestre. Agora, até mesmo o fenômeno climático “El Niño” é apontado como um problema que a taxa Selic deve coibir.
Infelizmente, sabemos que mudanças na taxa Selic não afetam as condições climáticas brasileiras. A Selic em 13,75% ao ano não faz aumentar o volume de chuvas e melhorar a produção de alimentos. Nem mesmo faz com que a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidisse produzir mais petróleo para baixar o preço internacional da commodity.
O que a taxa Selic faz é reduzir o ritmo de demanda da economia brasileira e a inflação do país vem sendo tratada dessa maneira, sendo que esse não é o problema de agora.
A inflação brasileira vem se mostrando cada vez menor, com um processo de desaceleração visível a todos. E nada disso foi graças à Selic, pois a queda dos preços dos alimentos e dos combustíveis foram responsáveis por tal situação.
A única consequência que a taxa Selic conseguiu trazer nesse elevado nível foi evitar um crescimento econômico mais robusto, que não dependa tanto da agropecuária para crescer. Em relação ao controle inflacionário, pode-se atribuir pouca responsabilidade à taxa básica de juros.
Mesmo assim, a ata da reunião do Copom mostra outro mundo, em que a inflação é resultado direto dos problemas fiscais, os quais resultam em um excesso de demanda, e que, graças a “firmeza” de Roberto Campos Neto (presidente do BC), estamos desacelerando a inflação. Falta a chamada “ancoragem das expectativas”, que nada mais é que uma palavra difícil para falar que falta o mercado passar a projetar a inflação próxima do que ela está hoje. Mas isso é tão irrelevante que não deveria ser desculpa para a atuação do Banco Central em sua condução de política monetária.
Um dos pontos mais importantes da ata foi mostrar que existiu divergência nesta última reunião, com os diretores divergindo sobre a manutenção ou mudança da taxa Selic. A ata não mostra com precisão qual foi o tamanho da divisão, mas expõe que, mesmo dentro do Copom, a opinião de Campos Neto já é vista como excessiva.
Até o próprio mercado mostrou desconforto com a situação. Ocorreram notas duras de grandes bancos falando sobre o absurdo da não sinalização de uma mudança para a próxima reunião. O mercado real, de bens e serviços, também sentiu bastante a decisão, pois a compra de bens financiados se viu mais uma vez atrelado a uma Selic elevada por pelo menos 90 dias, e foram outros que reclamaram publicamente da decisão. Talvez isso tenha feito que a ata tivesse uma leve sinalização de possível mudança para a próxima reunião, pois o barulho foi forte em todos os lados.
O Copom se mostra mais uma vez alheio à realidade brasileira. Na sua sanha de controle inflacionário, atrapalha a economia e enxerga uma realidade completamente diferente do que os dados mostram. A função do Banco Central é zelar pelo controle inflacionário e o emprego no país, mas hoje só atua como freio econômico brasileiro.
Cada vez mais fica insustentável ao país a figura de Campos Neto, que atua como o principal obstáculo para um crescimento econômico mais urbano e menos agrário.
*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais
*André Campedelli é economista do ICL e professor de Economia. Doutorando pela Unicamp, mestre e graduado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, com trabalhos focados em conjuntura macroeconômica brasileira