A alta de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) ontem (3), pelo Copom (Comitê de Política Monetária), confirma o Brasil na posição de país com os juros mais altos do mundo. Desde maio, o Brasil lidera o ranking mundial de juros reais mais elevados, ganhando cada vez mais distância do segundo colocado, o México. Isso significa crédito caro para a realização de investimentos, maior endividamento das famílias e aumento do custo de vida.
Levantamento compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management mostra que, com a nova alta da Selic, para 13,75% ao ano, os juros reais (descontada a inflação) do Brasil atingiram 8,52% ao ano, ou seja, mais que o dobro da taxa mexicana, de 4,20%.
A taxa de juros real é calculada com desconto da inflação prevista para os próximos 12 meses, e é considerada a melhor medida comparativa com outros países. Nesse quesito, o Brasil ocupa a primeira colocação, seguido por México, Hungria (3,50%), Colômbia (3,18%), Indonésia (2,20%) e Chile (1,79%).
Já os juros nominais são aqueles sobre os quais a inflação não é descontada. Nesse ranking, o Brasil ocupa a terceira posição (13,75%), com a Argentina (60,00%) e Turquia (14,00%) na dianteira, e à frente de Hungria (10,75%), Chile (9,75%) e Colômbia (9,00%).
O aumento da Selic realizado ontem pelo Copom coloca a taxa básica de juros no maior patamar desde janeiro de 2017. A decisão foi unânime e, além disso, a autoridade monetária sinalizou que o ciclo de ajustes para cima da taxa básica deve continuar na reunião que acontece em setembro.
A alta de ontem foi a 12ª promovida pelo Copom. A trajetória ascendente permanece desde março do ano passado, quando a Selic saiu de seu menor patamar histórico, de 2% ao ano. A última vez em que a Selic teve um valor mais alto do que o atual foi no ciclo de 19 de outubro de 2016 até 30 de novembro de 2016, quando foi a 14% ao ano.
Trata-se do maior ciclo de aperto monetário da história do Copom, muito em função da pandemia de Covid-19 e, também, da má condução da política econômica brasileira. O maior choque de juros anterior havia ocorrido em 1999.
Incerteza sobre o futuro da inflação deve deixar os juros mais altos até o ano que vem
As projeções sobre estouro das metas de inflação neste e no próximo ano e a herança fiscal deixada pelo governo de Jair Bolsonaro ao seu sucessor deverão ser o combustível para que a autoridade monetária mantenha o aperto monetário na próxima gestão, que começa em 1º de janeiro de 2023. Ou seja, o caminho pavimentado pelo governo Bolsonaro deverá deixar muitos buracos a serem consertados pelo futuro presidente do país.
Se no cenário doméstico a situação não está fácil, o ambiente internacional tampouco está. Tanto o Fed (Federal Reserve) quanto o BCE (Banco Central Europeu) iniciaram uma trajetória de aumentos de suas taxas de juros para tentar frear a escalada da inflação, tanto nos EUA quanto na zona do euro, as quais bateram recordes recentemente. Em um mundo globalizado, essas decisões jogam pressão sobre o Brasil também, principalmente em questões cambiais e sobre o comércio de commodities, entre outros.
Caso o Copom opte por elevar a Selic mais uma vez em setembro, a taxa básica poderá alcançar o patamar de outubro de 2016, quando atingiu os 14% ao ano. Isso foi indicado no comunicado do órgão ontem. “O Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião.”
O comunicado é uma má notícia. Ainda que os índices inflacionários estejam dando sinais de arrefecimento, o atual cenário brasileiro de crescimento econômico pífio e a perda generalizada de renda aumenta a tendência de valorização do dólar, encarecendo os custos dos produtos e serviços e gerando mais inflação.
Ademais, o aumento da Selic eleva as taxas de créditos bancários, prejudicando investimentos e elevando o endividamento dos cidadãos, os quais têm também seu poder de compra reduzido.
Dados da Serasa Experian mostram que 97% da população economicamente ativa deviam R$ 1 trilhão em abril, e que o ciclo de inadimplência se acentuou a partir do início do quarto trimestre de 2021, quando a inflação passou ao patamar de dois dígitos.
Em abril deste ano, a taxa média cobrada pelos bancos foi a maior em três anos e, em 2021, a alta do juro bancário foi a maior em seis anos, enquanto os gastos com juros da dívida pública também foram os maiores em seis anos.
A expectativa do mercado é de que essa despesa deve bater recorde em 2022, elevando a dívida pública, indicador valorizado pelos investidores internacionais.
Redação ICL Economia
Com informações das agências