As empresas estão apostando no desenvolvimento da indústria de hidrogênio verde (H2V). Justamente em um momento em que a crise climática se mistura com a crise energética na Europa, a corrida ganhou senso de urgência. Para o Brasil, o setor pode ser uma oportunidade. O país tem condições de se tornar um dos principais produtores e exportadores de hidrogênio verde, por apresentar condições climáticas favoráveis à geração de energia solar e eólica. Em janeiro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamentos no valor de R$ 3,5 bilhões para o aumento da capacidade instalada em energias renováveis.
Atualmente, o Brasil é o terceiro país que mais produz energia renovável no mundo, atrás apenas de EUA e China. A alta oferta também coloca o país entre os mais competitivos em termos de preço.
Um estudo da BloombergNEF projeta o Brasil como um dos únicos capazes de oferecer hidrogênio verde a um custo inferior a US$ 1 por quilo até 2030. Considerando o longo prazo (2050), a cifra pode cair para US$ 0,55/kg.
Mas, para viabilizar esse cenário, o país precisará investir alto na indústria, algo em torno de US$ 200 bilhões (R$ 1,04 trilhão) até 2040, segundo estimativas da consultoria McKinsey. O hidrogênio verde (H2V) é derivado da água, num processo de extração que usa energia elétrica renovável para quebrar a molécula e separar o hidrogênio gasoso do oxigênio.
Na reportagem publicada na Folha de S Paulo, o líder global de energia da consultoria KPMG, Franceli Jodas, explica que o Brasil já começou a se movimentar com projetos pilotos nessa direção. Segundo ele, o hidrogênio verde é uma tecnologia nova e muito cara.
Atualmente, o Nordeste concentra a maior movimentação em torno do H2V no Brasil. A região quer se posicionar como um polo produtor, devido ao alto potencial para geração de energia solar e eólica, além da localização estratégica dos portos em relação ao mercado europeu.
Ceará é o estado com o maior número de projetos, já anunciados, envolvendo hidrogênio verde
O Ceará é o estado com o maior número de projetos já anunciados, mas Bahia, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte vêm logo atrás. Dados do Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará) mostram que o estado possui mais de 24 memorandos de entendimento feitos com empresas nacionais e estrangeiras, o que representa uma sinalização de investimento superior a US$ 29,7 bilhões (R$ 154,9 bilhões).
Na Bahia, a primeira fábrica de H2V está sendo construída. Em julho de 2022, a Unigel anunciou o projeto, com investimento inicial de US$ 120 milhões (R$ 626 milhões). A usina ficará no Polo Industrial de Camaçari e deve entrar em operação até o final de 2023. Após assumir as fábricas de fertilizantes da Petrobras, em 2020, a Unigel passou a ser produtora de amônia e viu que fazia sentido entrar no mercado de hidrogênio verde. A amônia verde é um dos subprodutos do H2V.
A usina da Bahia usará o H2V convertido em amônia como fonte de energia, combustível marítimo e para a fabricação de fertilizantes e acrílicos com menor pegada de carbono.
A expectativa é que no fim de 2023, a Unigel já tenha a usina pronta para fabricar as primeiras toneladas de hidrogênio verde. A previsão inicial é produzir 10 mil toneladas por ano, que serão convertidas em 60 mil toneladas de amônia verde. A segunda fase prevê expandir a produção em dez vezes.
Além da Unigel, outras empresas já deram os primeiros passos no mercado de H2V. A White Martins, por exemplo, assinou memorandos de entendimento no Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O objetivo é estudar a viabilidade de projetos com foco na exportação, bem como na aplicação na indústria brasileira.
A Shell é outra com interesse no hidrogênio verde. Em setembro de 2022, a petrolífera injetou R$ 50 milhões num projeto em parceria com Raízen, USP e outras organizações para desenvolver uma tecnologia capaz de transformar etanol em hidrogênio verde.
Antes disso, em maio, a companhia havia fechado um acordo para a construção de uma fábrica de H2V no Porto do Açu (RJ), com investimento entre US$ 60 milhões e US$ 120 milhões.
Todo mundo quer ser o grande exportador de hidrogênio verde, todos querem atender às demandas de energia da Europa, mas ainda é necessário desenvolvimento tecnológico.
De acordo com o líder global de energia da consultoria KPMG, os EUA lançaram em 2022 a chamada “Lei de Redução da Inflação”, um pacote de mais de US$ 400 bilhões (R$ 2,08 trilhões) para estimular soluções ambientais, incluindo o hidrogênio. “Estamos falando de uma corrida geopolítica para atender a uma demanda da Europa, que tem uma limitação forte na produção de energia.”
Segundo a Agência Internacional de Energia, apenas a substituição do hidrogênio “cinza” pelo verde ajudaria a economizar cerca de 830 milhões de toneladas de carbono por ano, o equivalente às emissões de Reino Unido e Indonésia somadas.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo