A greve no Metrô, na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e na Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), nesta manhã de terça-feira (3) na cidade de São Paulo, escancara o projeto de desmonte do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que pretende privatizar grande parte dos serviços essenciais do estado.
Até o momento, a paralisação conjunta desses trabalhadores tem sido considerada exitosa. “A greve está acontecendo e é um sucesso”, diz Múcio Alexandre Bracarense, secretário-geral do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil.
Hoje, às 18h, nova reunião dos sindicatos vai definir o futuro da greve. Se não houver aceno do governador, a paralisação pode continuar amanhã (4).
Na edição de hoje do ICL Notícias, live diária transmitida via redes sociais, o jornalista Rodrigo Vianna lembrou que a greve também afeta as universidades estaduais, incluindo USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e Unesp (Universidade Estadual Paulista), ocasionadas principalmente pela falta de professores em vários cursos.
Na avaliação de Vianna, a atuação de Tarcísio à frente do estado mostra que de “bolsonarista light” ele não tem nada. O governador de São Paulo foi ministro da Infraestrutura do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e se candidatou ao governo do estado sem nem ao menos conhecê-lo direito. Ele nasceu no Rio de Janeiro.
“Muita gente dizia que o Tarcísio é [a face de] um bolsonarismo light e ele não é coisa nenhuma! Ele é o herdeiro do bolsonarismo e ele está atacando os mesmos setores que o Bolsonaro atacou. O Bolsonaro atacou educação, porque ele sabia que ali tinha muita resistência ao projeto dele. E o Tarcísio também está atacando”, disse.
Diferentemente de Bolsonaro, Vianna avalia que, sob Tarcísio, as privatizações caminham até mais rapidamente. “Ele até é mais ágil que o Bolsonaro porque, como o Guedes [Paulo Guedes, ex-ministro da Economia] era muito incompetente, nem privatizar ele conseguiu. Só no final ele conseguiu privatizar pedaços da Petrobras, com enormes prejuízos para o Brasil”, pontuou. “Tarcísio vem com a faca nos dentes para mostrar ‘eu sou mais bolsonarista, mais eficiente que o próprio capitão Jair'”, complementou o jornalista.
Devido à greve, a Prefeitura de São Paulo determinou a suspensão do rodízio para os carros (para os caminhões, o rodízio foi mantido). Houve reforço no efetivo de ônibus, que tem 100% da frota nas ruas. Algumas linhas tiveram o itinerário estendido.
As aulas das escolas da rede pública estadual na capital paulista foram suspensas hoje, assim como os exames não emergenciais nos Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME) e os atendimentos nas unidades do Poupatempo, que precisarão ser reagendados.
As creches e escolas da rede pública municipal estão funcionando. Segundo a prefeitura, a decisão foi tomada devido à grande quantidade de mães, pais ou outros responsáveis que terão de trabalhar e, assim, não poderão cuidar das crianças.
Greve no Metrô, CPTM e Sabesp pretende frear proposta privatista dos serviços públicos
Está no centro do debate da paralisação de hoje o projeto privatista de serviços públicos essenciais no estado de São Paulo.
A privatização da Sabesp é promessa de campanha de Tarcísio e o projeto está em curso. O governo de São Paulo detém 50,3% do controle da autarquia – que é gerida em regime de sociedade anônima de capital aberto. O restante das ações é negociado na B3 de São Paulo e na Bolsa de Nova York. A companhia obteve, em 2022, lucro de R$ 3,12 bilhões, resultado 35,4% superior aos R$ 2,3 milhões registrados no ano anterior.
Para especialistas, o governador não deu ainda nenhuma explicação plausível para a privatização da Sabesp, por exemplo. A empresa, na avaliação deles, é bem administrada, com grande capacidade técnica, e não dependente de recursos do governo do estado, sendo capaz de financiar suas obras com recursos próprios ou captando de instituições financeiras.
No caso do transporte sobre trilhos, os sindicatos que representam os profissionais da categoria chegaram a propor que o dia fosse de “catraca livre”, ou seja, que os passageiros viajassem sem cobrança de passagem, mas o governo pediu, e a Justiça acatou o veto a essa medida, alegando “altos riscos de tumultos e possíveis acidentes nas estações”.
Ao decidirem pela greve, os profissionais da Sabesp se organizaram para garantir o atendimento emergencial a escolas e hospitais para evitar a interrupção do fornecimento de água em caso de acidentes, por exemplo. Além disso, as estações de tratamento de água seguirão funcionando – não haverá cortes de fornecimento devido à paralisação de hoje.
Trabalhadores organizam plebiscito
Esses trabalhadores estão organizando um plebiscito popular, que tem o objetivo de ouvir 1 milhão de cidadãos sobre as propostas de privatizações. As urnas do plebiscito passarão por diversas partes do estado de São Paulo até 5 de novembro.
Antes da greve, representantes dos sindicatos de trabalhadores do transporte protocolaram no governo do estado um pedido de audiência com o governador para discutir o tema. Apesar de terem recebido resposta oficial afirmando que a demanda seria avaliada, o encontro jamais foi marcado.
Redação ICL Economia
Com informações de Brasil de Fato e ICL Notícias