O Nobel de economia, professor da Universidade de Columbia (EUA) e antes economista-chefe do Banco Mundial (1997-2000), Joseph Stiglitz, afirma que os bancos centrais do mundo erram ao combater a inflação atual com elevação de juros. Isso porque, na avaliação do economista, a alta no custo de vida que aflige o mundo hoje é provocada principalmente por restrições na ponta da oferta causadas pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, além de mudanças no padrão de consumo também derivadas da crise sanitária. Com 80 anos, o economista conclui que governos de centro-esquerda se tornaram melhores gestores da economia do que a direita no século 21.
O presidente Lula tem reiterado que não tem nenhuma justificativa para que a taxa de juros esteja em 13,75%. Lula considera uma vergonha o elevado percentual e a explicação dada para a sociedade sobre a alta taxa de juros.
Joseph Stiglitz explica que as taxas de juros estavam anormalmente baixas, próximas de zero desde a grande recessão de 2008. Então, fazia sentido para os bancos centrais aproveitarem a situação atual para normalizar as taxas de juros. Mas, agora, para ele, passou do ponto, para além da normalização.
Em entrevista para a BBC Brasil , Joseph Stiglitz afirma que a política de elevar taxas de juros, que é a resposta normal para um excesso de demanda agregada, é inapropriada no contexto atual. Na verdade, até pode exacerbar as pressões inflacionárias. Isso porque uma das coisas necessárias para aliviar pressões no lado da oferta é investimento. E taxas de juros elevadas tornam esse investimento mais difícil.
Para o Joseph Stiglitz, no cenário atual, elevar juros – uma medida de política monetária que tem por objetivo aumentar o custo e restringir a oferta de crédito, esfriando a economia para reduzir a inflação – pode fazer mais mal do que bem, defende o Nobel.
Joseph Stiglitz afirma que elevação de juros coloca Brasil em desvantagem competitiva e estrangula as empresas brasileiras
Em entrevista para a reportagem da BBC News Brasil, Joseph Stiglitz afirma que há um custo enorme em ter taxas de juros altas. Isso coloca o Brasil em desvantagem competitiva, estrangula as empresas brasileiras, enfraquece a economia do país. Então, o presidente Lula estaria absolutamente correto em estar preocupado com essas questões.
Uma pesquisa teórica mais recente, realizada em um período longo de tempo, mostra que, em momentos de rápido ajuste da economia e mudança estrutural, que estamos vivendo no mundo pós-covid e à medida que segue para a transição verde, uma taxa de inflação mais alta, na verdade, facilitaria o ajuste, explica Joseph Stiglitz.
Na opinião do economista, atualmente copresidente da ICRICT (sigla em inglês para Comissão Independente de Reforma Tributária Internacional de Empresas), o aumento da progressividade do sistema tributário do Brasil deve ser uma prioridade. Diante do elevado nível de desigualdade do país, isso deve estar no topo da agenda, afirma.
Joseph Stiglitz diz que é importante ter um sistema tributário eficiente e isso exige simplificação. Mas o que é ainda mais ou igualmente importante para o Brasil é reformular o sistema tributário para combater a desigualdade. O economista é um dos defensores de um imposto global sobre multinacionais e do aumento da tributação sobre os mais ricos.
O nobel afirma que a centro-esquerda volta ao poder na América Latina em momento “que não poderia ser pior”, com pandemia, inflação, restrições fiscais e a economia mundial em desaceleração.
Mas, Joseph Stiglitz avalia que os governos da América Latina poderão ser bem sucedidos se conseguirem manter o foco no fato de que foram eleitos para criação de uma “prosperidade compartilhada”, isto é, um crescimento inclusivo, que garanta a melhora de vida da parcela mais pobre da população.
Redação ICL Economia
Com informações da BBC Brasil