Confrontado pelos recentes indicadores da economia brasileira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deu ontem (12) pela primeira vez sinais de que a taxa de juros do Brasil (Selic) pode começar a cair, mas não na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que acontece na terça e quarta-feira da semana que vem. “A curva de juros futuros tem tido queda relevante. Isso significa que o mercado está dando credibilidade ao que está sendo feito, o que abre espaço para atuação de política monetária à frente”, disse Campos Neto, sem especificar a data de início do alívio do aperto.
Sem tirar do punho a ortodoxia que o rege, Campos Neto ressaltou que o Banco Central precisa agir com “parcimônia” e que os juros não podem ser baixados de forma artificial, sob o risco de não se alcançar o resultado almejado.
A queda na Selic tem sido motivo de queda de braço entre o presidente do BC, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a equipe econômica do governo federal. Nem mesmo o bom resultado do PIB (Produto Interno Bruto), que cresceu 1,9% no primeiro trimestre ante o mesmo período do ano anterior, a revisão para baixo da inflação pelo mercado finaceiro, o registro do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) abaixo do que esperava o mercado e a aprovação do arcabouço fiscal pela Câmara dos Deputados convenceram a autoridade monetária a baixar a Selic, que está no maior patamar desde 2016 (13,75% ao ano).
As declarações de Campos Neto ocorreram em um evento do setor do varejo em São Paulo. Sobre o novo conjunto de regras fiscais que tramita no Congresso, ele disse que o mercado tem reagido bem a elas, com queda de juros futuros e câmbio “andando na direção certa”.
Ele também pontuou que o país provavelmente terá deflação em junho, mas depois o indicador de preços deve subir, fazendo com que a inflação fique entre 4,5% e 5% em 2023. “As inflações de mercado ainda estão acima da meta [3,25% neste ano, sendo considerada cumprida se oscilar 1,5 ponto percentual para mais ou para menos], mas estão caindo”, afirmou.
Contudo, ele lembrou que os núcleos de inflação, que desconsideram preços mais voláteis, seguem elevados no Brasil e em outros países da região, destacando que são “a parte mais preocupante” do atual cenário.
Presidente do BC enfrenta saia-justa ao ser cobrado por Luiza Trajano, do Magazine Luiza, sobre taxa de juros
No evento do varejo organizado pelo IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), Campos Neto enfrentou uma saia-justa com a presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano, que foi incisiva com ele ao pedir, mais de uma vez durante sua fala, um “sinal” do dirigente da autoridade monetária sobre um corte dos juros.
Ao pedir a palavra no evento, ela disse que já ligou para ele “mais de 20 vezes” recentemente e que havia mandado muitos recados sobre a necessidade de a Selic ser reduzida.
Constrangido, Campos Neto repetiu o que havia dito momentos antes: que não poderia dar certeza sobre o movimento do juro porque ele é apenas um num total de nove votos no Copom (Comitê de Política Monetária). Por sua vez, Luiza, conhecida por sua espontaneidade e assertividade nas palavras, insistiu e acrescentou: “Baixa os juros, mas não é 0,25 (ponto porcentual), não, que é muito pouco”.
O presidente do BC e os demais presentes riram. Na sequência, conforme publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo, o anfitrião do evento disse que precisava encerrá-lo porque já havia recebido sinais da assessoria de Campos Neto sobre outra agenda dele no dia de ontem.
Fora do microfone, mas ainda podendo ser ouvida, a empresária disse: “Na hora que aperta, a assessoria manda recado”. Ela prometeu ligar para ele mais 20 ou 30 vezes se for necessário. E cobrou a sinalização feita por Campos Neto, que não a deu.
Mesmo com o sinal do anfitrião de que encerraria o evento, Luiza insistiu: “Não faz isso não, deixa ele dar o sinal”.
O presidente do BC disse então que voltaria ao evento em um ano e que tinha a certeza de que a avaliação feita posteriormente sobre o trabalho da autarquia seria reconhecido. “Vai ter muita gente quebrada até lá”, retrucou Luiza Trajano.
Não foi somente Luiza Trajano quem reclamou dos juros. Segundo o Estadão, outros empresários presentes no evento também reclamaram da Selic elevada.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias, do G1 e de O Estado de S.Paulo