O total de brasileiros que terminaram o ano de 2021 na pobreza soma um contingente de 47,3 milhões de pessoas, quando considerada a renda das famílias. Este é o maior percentual em 10 anos. Os dados sobre pobreza são de levantamento feito pelo Imds (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social), produzido com base na Pnadc (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) e divulgado pela Folha de S. Paulo.
Os números da piora da situação impressionam. Em 2021, quase 11 milhões caíram na pobreza em todo o país e mais da metade dos que perderam renda (6,3 milhões) passaram para a faixa de extrema pobreza. Hoje são 20 milhões de brasileiros na pobreza onde falta, inclusive, comida no dia a dia.
O levantamento aponta que crianças e negros são os mais afetados com a pobreza. No final de 2021, a pobreza infantil comprometia 19 milhões de brasileiros de zero a 17 anos, ou seja, 35,6% do total da população do país nesta faixa etária. Já a população negra representava 73% do total das pessoas em situação de pobreza, concentrando-se em regiões e estados com mais pobreza do país.
A desigualdade social no Brasil se amplia devido à falta de políticas sociais e de combate à inflação do atual governo, que se somaram ainda aos efeitos trazidos pela pandemia da Covid-19.
Pobreza é maior em estados da região Nordeste
A maior alta do avanço da pobreza foi registrada em Sergipe (12,5%), o que significa quase o triplo da média do país. Santa Catarina (aumento de 1,3%) e Mato Grosso (1%) foram os estados com menores índices.
Na Região Nordeste, o número de pessoas que caíram na pobreza saltou para 22,8 milhões, um aumento de 5,5 milhões, e representa 40% da população desta parte do país.
O estado de Pernambuco, por exemplo, terminou 2021 com quase 44% da população na pobreza, 4,2 milhões de pernambucanos.
No Centro-Oeste, que se beneficiou com a alta das commodities (grãos produzidos pelo agronegócio) durante a pandemia, a pobreza registrou um recorde atípico. Historicamente, de 7% a 8% da população vive na pobreza. Em alguns momentos, o percentual subiu para casa de 9%. No ano passado, no entanto, foi a 11%.
A pesquisa indica também que, no Sul, o ano de 2021 ano terminou com 3 milhões de pessoas na pobreza, um aumento de 400 mil pessoas.
No caso das regiões metropolitanas, de 2016 a 2020, a parcela de pobres oscilou entre 15% e 16% do total da população. Em 2020, quando as maiores cidades viveram o lockdown devido à Covid-19, a taxa ficou em 15,5%. No entanto, em 2021, subiu para quase 20%, com 3,8 milhões de habitantes dessas áreas urbanas caindo na pobreza.
O Imds trabalha com o cenário de redução da pobreza em 2022, com a retomada do setor de serviços e o pagamento do Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família. Mas, por outro lado, adverte que sobre o aumento da inflação: caso não seja controlada, será um elemento que poderá continuar aumentando a pobreza no país.
Ainda na avaliação do Imds, os efeitos sobre o Brasil do baque global da pandemia, seguido das consequências da guerra da Ucrânia, mostram que a política pública na área social no Brasil precisa avaliar a criação de novos instrumentos.
O economista Paulo Tafner, presidente do Imds, afirma que “muitas famílias vivem com uma renda tão pequena que podem cair abaixo da linha da pobreza se deixarem de ganhar regularmente R$ 2 por dia (…) e mecanismos simples, como um seguro social para mitigar choques, poderiam impedir esses efeitos.”
Outra sugestão seria a criação de um sistema de seguridade para o trabalhador informal, o que evitaria a pobreza temporária, causada pela falta repentina de trabalho
As séries do Imds que contabilizam pobreza tomam como base a renda per capita familiar (por pessoa) apurada a partir das séries da Pnadc do IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A linha de corte para pobreza é a mesma adotada pelo Banco Mundial, viver com renda diária no valor de US$ 1,9, cerca de R$ 10, ou menos que isso.
Redação ICL
Com informações da Folha de S. Paulo