Datafolha: 67% dos brasileiros não fazem reserva financeira e quase a metade também não paga Previdência

Para o economista Eduardo Moreira, Datafolha mostra as dicotomias do Brasil, que, de um lado, é um país com recordes de exportação de commodities e alimentos, enquanto, de outro, coloca "os brasileiros mais pobres", que não sabem se conseguirão comprar comida amanhã.
11 de dezembro de 2023

Pesquisa Datafolha divulgada ontem (10) mostra que, quando o assunto é dinheiro, os brasileiros mais pobres estão totalmente desprotegidos contra eventuais infortúnios da vida. Segundo o levantamento, quase 67% (dois terços da população) dos cidadãos e cidadãs deste país não têm nenhuma reserva financeira para segurar os gastos em caso de perda de emprego ou eventuais emergências, como uma doença.

Além disso, quase metade da população com 16 anos ou mais também não contribui para a Previdência, o que sugere um futuro financeiro no mínimo difícil na velhice, quando, ironicamente, despesas com saúde crescem mais.

A pesquisa nacional Datafolha foi realizada no dia 5 de dezembro em 135 municípios. Foram ouvidas 2.004 pessoas e a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Daqueles que conseguem guardar algum dinheirinho para ter o mesmo padrão de vida, a quantia reservada é suficiente apenas para mantê-los por um período menor que três meses. Do universo total, apenas 10% dos entrevistados conseguem fazer isso.

Apenas 6% consideram ter reservas para se manter entre seis meses e um ano. Outros 6% privilegiados afirmam que sua poupança poderia sustentá-los, sem rebaixar o padrão, por mais de um ano.

Outro recorte preocupante é que apenas metade (52%) consegue contribuir para o sistema oficial do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Por meio de contribuições mensais ao longo da vida ativa, a Previdência garante aposentadorias mensais entre R$ 1.320,00 e R$ 7.507,49.

Do total de entrevistados, apenas uma parcela pequena (13%) declarou ter algum plano de previdência privada, que reforça a aposentadoria no futuro.

Para Eduardo Moreira, falta de reserva financeira reforça as desigualdades sociais e econômicas do país

datafolha

O economista Eduardo Moreira. Crédito: Reprodução ICL Notícias

O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, viu com indignação o resultado da pesquisa Datafolha, que reforça os contrassensos do Brasil, um país que bate recordes de exportações do setor agro, enquanto de outro há uma camada da população que não sabe se e como vai envelhecer.

“Que país é esse que exporta cada vez mais petróleo, cada vez mais comida, que exporta cada vez mais comida industrializada e as pessoas mais pobres não conseguem juntar 1 centavo?”, questionou, durante o ICL Notícias desta segunda-feira (11), live diária transmitida pelas redes sociais.

Moreira fez ainda uma alegoria sobre a reserva de emergência daqueles que conseguem guardar dinheiro por apenas três meses. “Hoje tem a comida que está no fogão, mas não tem na dispensa. A alegoria é essa. Tua dispensa [tem comida suficiente para] menos de três meses. Ou seja, 9 em cada 10 brasileiros, se perder o emprego, a fonte de renda, dura três meses, no máximo, e a gente comemorando que é líder de exportação de alimento”, comparou.

Sobre a metade que diz contribuir para a Previdência, o fundador do ICL lembrou que, com a reforma da previdência aprovada no primeiro ano do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), grande parte desses brasileiros não vai usufruir dos recursos guardados, pois as regras postergaram o tempo dessas pessoas se aposentarem.

“A expectativa de vida dos mais pobres é pelo menos 25 anos menor que a dos ricos. Ou seja, um bom pedaço das pessoas mais pobres vai morrer antes de poder se aposentar”, disse.

Pela regra atual, os homens precisam de ao menos 20 anos de contribuição com a Previdência Oficial e 65 anos de idade para conseguirem se aposentar. O problema é que as pessoas mais pobres, seja por falta de atualização curricular ou por doença, não consegue permanecer no mercado de trabalho para contribuir todo esse tempo.

“E sabe para aonde vai o dinheiro dele, que ele contribuiu e não usufruiu, não pegou de volta? Metade vai para a amortização e pagamento dos juros da dívida, ou seja, para o 1% mais rico do país”, disse Moreira, que ainda cobrou uma “rede de proteção social para proteger essas pessoas que não têm recolocação, não tem saúde”.

Datafolha mostra que apenas 8% dos brasileiros se preparam para a aposentadoria

Ainda no tema aposentadoria, o Datafolha também mostrou que caiu de 12% para 8%, nos últimos cinco anos, o total de brasileiros que de alguma maneira se prepara para a aposentadoria.

Um atenuante nesse quadro é que mais de um terço dos brasileiros (36%) declaram aplicar dinheiro em caderneta de poupança ou em algum outro tipo de investimento.

Cálculos recentes do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Cemec/Fipe) mostraram que o nível de poupança das famílias brasileiras cresceu de 2019 a 2023. O total acumulado nesse período foi de R$ 760 bilhões.

Boa parte desses recursos (R$ 500 bilhões) foi acumulada durante a pandemia de Covid-19 (2020-2021), quando as pessoas ficaram mais presas em casa.

Mas, levando-se em conta os dados do Datafolha, grande parte desse dinheiro pertence às famílias mais ricas, já que 67% dos entrevistados declararam não ter reserva financeira alguma.

Além disso, ao Datafolha 56% dos entrevistados declararam ter cartão de crédito (ante 41% em 2015), sendo que 10% desses afirmaram ter dívidas em atraso relacionadas a essa modalidade de pagamento.

Outros 19% afirmaram ter recorrido a empréstimos bancários nos últimos seis meses, mas apenas 3% dizem estar com parcelas em atraso. Segundo a pesquisa, a grande maioria da população, contudo, não recorre a financiamentos para a compra de imóveis (93%) ou veículos (88%).

A pesquisa Datafolha também mostrou que um quarto da população (24%) recebe o Bolsa Família —percentual muito próximo ao de levantamentos em anos anteriores.

 

Assista ao ICL Notícias no vídeo abaixo:

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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