Ao longo do governo de Jair Bolsonaro (PL), a renda do trabalhador brasileiro vem decaindo devido à mudança na política de reajuste do salário mínimo. Somada à inflação alta, essa mudança corroeu o poder de compra do brasileiro mais pobre. A pá de cal veio com a pandemia de Covid-19, que contribuiu para deteriorar ainda mais o mercado de trabalho e os salários ofertados. Esse cenário é retratado em estudo da LCA Consultores, o qual mostra que cerca de 70% dos trabalhadores brasileiros (cerca de 65 milhões de pessoas) ganhavam até dois salários mínimos no terceiro trimestre deste ano (R$ 2.424/mês). A maioria, no entanto, estava na faixa de quem ganhava apenas um salário mínimo.
Usando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o estudo dividiu a massa salarial em três grupos. Naquele período, dos 97.575 milhões de trabalhadores brasileiros, 35,63% recebiam até 1 salário mínimo (R$ 1.212), sendo a maior proporção entre os grupos de renda (34,766 milhões de pessoas). Entre os que ganhavam de um a dois (31,56%), estavam 30,798 milhões de indivíduos. Por fim, entre os que recebiam acima de dois mínimos (32,81%), havia 32,009 milhões de brasileiros e brasileiras.
Publicado pelo portal de notícias G1, o estudo da LCA aponta que a parcela de trabalhadores que ganhava até um salário mínimo passou a ser a maior entre os três grupos a partir de junho de 2020, com exceção do mês de dezembro daquele ano. Por sua vez, o grupo que recebia acima de dois mínimos passou a ter a menor proporção de trabalhadores entre as faixas de renda, com exceção do mês de setembro deste ano.
Uma das explicações é que, para entrar ou retornar ao mercado de trabalho, os trabalhadores muitas vezes aceitam empregos com menor remuneração, situação que piorou durante a crise sanitária de Covid-19. “No geral, o trabalho ficou mais barato durante a pandemia. O mercado de trabalho brasileiro ainda ocioso e frágil contribui para baixos salários, porque há excesso de oferta de mão de obra muito barata”, disse o economista da LCA Bruno Imaizumi ao G1. Também contribuem para isso a baixa instrução e qualificação dos trabalhadores.
Para minorar essa situação, a equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), articula com parlamentares mudanças no teto de gastos para viabilizar a volta da política de reajuste salarial que vigorou nos governos petistas, que tinha por base a inflação e o crescimento da economia. A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição deve ser protocolada nesta quarta-feira (23) no Senado. O aumento real do mínimo está entre as promessas de campanha do petista.
Salários mínimos pagos por 11 setores aos trabalhadores mostram tendência de deterioração na pandemia
A situação do mercado de trabalho brasileiro piorou com a famigerada reforma trabalhista do governo de Michel Temer, que beneficiou apenas os patrões e não criou o número de vagas prometidas. A legislação completou cinco anos recentemente, deixando para trás um rastro de precarização de direitos dos trabalhadores brasileiros. Lula já prometeu rever aspectos da reforma.
Ainda que o número de vagas tenha dado sinais de recuperação a partir deste ano, pesquisas do IBGE mostram que a grande massa dos trabalhadores continua na informalidade e com a renda cada vez mais aquém das necessidades.
A taxa de desemprego, medida pelo IBGE, vem caindo desde março, e em setembro chegou a 8,7%, menor taxa desde o trimestre encerrado em junho de 2015. No entanto, dados do próprio instituto mostram ainda que o mercado assalariado do país também tem um recorte racial. Os brancos ganham R$ 3.099 em média. Esse valor é 75,7% maior do que o registrado entre os pretos, que é de R$ 1.764. Também supera em 70,8% a renda média de R$ 1.814 dos trabalhadores pardos.
O estudo da LCA mostra que houve alta na proporção de trabalhadores que ganham de 0 a 1 salário mínimo em todos os 11 setores analisados no período entre o último trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2022. As maiores altas foram, respectivamente, em alojamento e alimentação e serviços domésticos, que estão entre os mais afetados pela pandemia.
No caso de alojamento e alimentação, houve alta de mais de 12 pontos percentuais entre o período pré-pandemia e setembro deste ano no grupo de quem ganha até um salário mínimo (de 38,4% para 50,9%).
“Foi o setor mais prejudicado pela pandemia e o último a se recuperar. Essa recuperação veio sobretudo via informalidade, algo já em elevado grau no setor”, disse o economista da LCA Consultores.
Por outro lado, ele pontuou que o estudo mostra que há uma tendência de alta entre quem ganha acima de dois salários mínimos e de recuo nas faixas de renda menores. Porém, ressaltou que essa melhora tem ocorrido de forma “muito lenta, assim como o resto da economia”.
Redação ICL Economia
Com informações do portal de notícias G1