A guerra na Ucrânia provocou escassez de determinados produtos ao redor do mundo, obrigando países, como o Brasil, a repensarem suas estratégias. O país europeu é um dos grandes fornecedores de fertilizantes do mundo e o Brasil chega a importar 85% desses produtos atualmente. Por isso, o governo Lula estuda investir mais na produção desses componentes muito utilizados no agronegócio, a fim de manter certa autossuficiência e ficar menos à mercê de situações como a originada pelo conflito no leste da Europa.
Especialistas ouvidos por reportagem do G1 dizem que é possível o Brasil ter uma produção própria de fertilizantes químicos, mas veem dificuldades em o país alcançar a independência completa, pois o tamanho do mercado nacional é muito grande e há escassez de matérias-primas para a elaboração desses insumos, que precisam de NPK (nitrogênio, fosfato e potássio).
O ministro da agricultura, Carlos Fávaro, já havia afirmado que vai colocar em funcionamento três plantas de produção de nitrogenados (compostos orgânicos que fornecem nitrogênio) da Petrobras, que estavam paralisadas. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que dará continuidade ao PNF (Plano Nacional de Fertilizantes), instituído na gestão de Jair Bolsonaro, para definir um caminho para o Brasil diminuir a dependência de fertilizantes do exterior, aumentando a produção nacional de fertilizantes em 35% até 2050.
Ao G1, o diretor-executivo do Sinprifert (Sindicato Nacional da Indústria de Matérias-Primas para Fertilizantes), Bernardo Silva, disse que a desindustrialização do setor e a perda de competitividade vêm ocorrendo desde 1997, a partir do convênio ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que determinou pagamento de impostos na comercialização de fertilizantes dentro do país sem aplicar a mesma medida para importação. Assim, importar fertilizantes ficou mais barato do que comprar os produzidos em território nacional.
“Isso acabou retirando completamente a competitividade da indústria nacional e aqueles atores que estavam no mercado foram acumulando prejuízos e decidiram sair do setor”, explicou ao site. Entre as empresas que saíram do setor estão Vale e Petrobras.
Mas, mesmo assim, o país nunca foi autossuficiente na produção de fertilizantes. Contudo, a produção nacional era maior que o percentual de importação.
Baratear custos da produção de fertilizantes está entre os desafios do Brasil
Segundo o diretor-executivo do Sinprifert, a produção de fertilizantes no Brasil se tornou cara ao longo dos anos, com altos custos de mão de obra, matéria-prima, energia e gás natural, o que acabou estimulando a desindustrialização.
Com isso, os importados, por serem mais baratos, foram ganhando mais espaço no mercado nacional, tornando-se mais atrativos para os agricultores brasileiros.
O custo da planta de produção de fertilizantes também é bastante alto, segundo Paulo Sérgio Pavinato, professor no departamento de Ciência do Solo, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Ele apontou ainda que, além do investimento inicial, o retorno do valor investido pode demorar cerca de 20 anos, outro elemento que acaba desestimulando empresas de entrarem no negócio.
Além disso, as reservas de matérias-primas para fertilizantes, como o potássio e o fosfato, são limitadas. E, se fossem exploradas, durariam cerca de 20 anos, o que é pouco. Há reservas de alguns desses componentes na Amazônia, mas isso, segundo os especialistas, geraria celeumas diante dos impactos ambientais. Sem falar no custo considerável para viabilizar projetos de pesquisa nesse sentido.
Por tudo isso e mesmo que o governo busque alavancar a produção de fertilizantes no país, os especialistas não acreditam que o Brasil possa se tornar autossuficiente, principalmente por ter um mercado agrícola muito grande.
Ainda assim, o país tem condições positivas para reduzir sua dependência. “Nenhum país é [autossuficiente] tirando a China e a Rússia, mas, com o Plano Nacional, a gente tem grandes chances de reduzir pela metade a nossa dependência externa”, disse o diretor-executivo do Sinprifert.
Redação ICL Economia
Com informações do G1