Parece brincadeira, mais é verdade. A Câmara dos Deputados instalou ontem (17) CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que vai investigar as atividades do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No comando da CPI do MST estarão integrantes do suprassumo da extrema-direita brasileira, como o ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro e hoje deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), cuja folha corrida por suspeita de envolvimento com crimes ambientais dispensa apresentações.
Na presidência da CPI estará o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), que chama o movimento de “terrorista” e “grupo criminoso travestido de movimento social” em livro recém-lançado. Ele é autor de “Fazuéle: De volta à Cena do Crime”, que conta também com artigos de parlamentares bolsonaristas, como a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), Carla Zambelli (PL-SP). Bia Kicis (PL-DF), Mário Frias (PL-SP), além do próprio Salles e outros.
Trecho do livro diz que “os atos de terrorismo do MST vão justamente contra o importante setor econômico que responde por um terço do PIB brasileiro e passou a ser referência mundial de eficiência, qualidade e produtividade”.
Salles também aborda a questão na obra, custeada pela próprio Zucco. “O governo [do presidente Luiz Inácio Lula da Silva] não tem respondido de maneira efetiva à onda de invasões do MST e grupos afins”.
Do que se pode depreender da formação da CPI, ela já nasceu com viés acusatório contra o MST. Para o jornalista Xico Sá, que comentou o tema na edição desta quinta-feira (18) do ICL Notícias, programa diário transmitido via YouTube, o governo Lula “está menosprezando o potencial dessa CPI, mas deveria ir com tudo”.
Na avaliação dele e da jornalista e comentarista do ICL Notícias, Heloísa Villela, a CPI será o grande palco da extrema-direita no ano. “O Salles vai usar a CPI como trampolim dele para concorrer à Prefeitura de São Paulo. Por isso, o campo governista acredita que ele será muito diplomático, adotará a linha da conversa, mas é claro que a turma dele estará ali para fazer barulho enquanto ele faz papel de responsável. A turma do bate-boca vai distribuir fake news e nós [imprensa] devemos estar preparados para [combater] isso”, disse.
Na opinião de Heloísa, o MST deve estar muito preparado contra essa CPI, como para “entrar na Justiça com denúncia de difamação por terem sido chamados de terroristas”.
Sâmia Bomfim diz que CPI do MST já nasceu para criminalizar o movimento. Salles já tem ‘relatório pronto’
Articulada por partidos de oposição ao governo de Lula, a CPI do MST foi instalada a pedido do deputado bolsonarista Tenente Coronel Zucco, com justificativas pouco fundamentadas. Segundo o proponente, que será presidente da comissão, a investigação pretende descobrir “o verdadeiro propósito” do MST, os financiadores do movimento e a situação atual de propriedades que foram ocupadas.
A sessão de instalação deu o tom do que promete ser a CPI. A lista de integrantes, titulares e suplentes, conta com cinco deputados que usam patentes militares junto a seus nomes, contando o próprio Zucco, e outros três que se apresentam como “delegado” ou “delegada”. O grupo tem ainda outros nomes alinhados ao bolsonarismo, como Kim Kataguiri (eleito vice-presidente da comissão).
A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), uma das integrantes da comissão indicada por partidos de esquerda, chegou a pedir o impedimento da nomeação de Salles como relator devido às acusações de crimes aos quais ele responde, mas o pedido foi negado por Zucco.
“Ele [Salles] quer criminalizar um movimento social, sendo que ele praticamente já tem um relatório pronto. Nas declarações que deu à imprensa, já tem uma série de conclusões sobre o que é o MST. Já disse, inclusive, que eles devem ser criminalizados. Nem começou a fazer o inquérito, não começaram as apurações”, disse Sâmia na sessão de instalação.
O prazo previsto para os trabalhos da Comissão é de 120 dias. As atividades começam formalmente nesta quinta-feira (18) e, a princípio, devem ser concluídos até setembro. As reuniões devem acontecer duas vezes por semana, às terças e quintas-feiras.
Apesar de tentarem dar um verniz de isenção à investigação, os parlamentares de extrema-direita tentarão usar a CPI para desestabilizar o governo Lula. Integrantes da base aliada e apoiadores se mobilizam para usar o espaço da CPI para apresentar à sociedade a verdade e derrubar mitos e notícias falsas que circulam a respeito do movimento.
“A CPI sempre tem características de ser, por um lado, um palco em que muitos parlamentares buscam apenas aparecer para a imprensa, outros usam esse palco para falar para suas bases. Então, a extrema-direita vai criar vários factoides para botar nas suas redes sociais”, disse João Pedro Stédile, integrante da direção nacional do MST, ao Brasil de Fato.
Redação ICL Economia
Com informações de Brasil de Fato e coluna Painel da Folha de S.Paulo