Como se não bastasse a alta nos preços dos alimentos, preparar as refeições ficou ainda mais difícil com o preço do botijão de gás de cozinha de 13 quilos custando quase 10% do salário mínimo. O valor de venda, em média, registrado na última semana foi de R$ 113,24. Isso equivale a 9,3% do salário, atualmente em R$ 1.212.
O levantamento divulgado pelo Observatório Social da Petrobras (OSP), organização ligada à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), aponta que o preço do GLP (gás de cozinha) bateu novo recorde histórico em abril, atingindo a maior média mensal real desde março de 2001, quando foi iniciada a série histórica. Em março, o gás de cozinha já tinha alcançado o maior preço médio real da série, vendido a R$ 109,31.
Segundo os dados, o percentual de comprometimento em relação ao valor do salário mínimo (9,3%) já é o maior desde 2007, quando o botijão custava R$ 33,06 e o salário mínimo era de R$ 350. Em 2012, com um salário mínimo, era possível comprar 16 botijões de gás de 13 quilos, que hoje seriam apenas 11 botijões, com a perda do poder aquisitivo.
De acordo com estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o poder de compra do brasileiro no segmento de combustíveis é o pior nos últimos dez anos, refletindo o congelamento do salário mínimo frente à inflação trazida pela alta do petróleo no mercado internacional.
“O encolhimento do salário mínimo, sem aumento real pelo terceiro ano seguido em 2022, se soma ao cenário de alta dos combustíveis e escalada da inflação, o que afeta o orçamento das famílias”, destaca o economista do Dieese, Cloviomar Cararine.
Os economistas do ICL, André Campedelli e Deborah Magagna, ressaltam que a prévia da inflação divulgada nesta quarta (27) capturou o efeito da alta dos combustíveis que ainda não havia sido observado no valor de março, o que impactou de maneira contundente o valor do índice (IPCA-15) para o mês. “Caso os valores observados na prévia se confirmem para o índice final do IPCA, teremos um segundo mês com elevação muito forte, acima do normal inclusive em situações de alta inflação. Isto pode ser um sinal extremamente negativo para a economia brasileira, pois deve forçar o COPOM a elevar ainda mais a taxa de juros, prejudicando cada vez mais a atividade econômicas, mesmo que a medida não cause grandes efeitos no tipo de inflação que está ocorrendo no Brasil atualmente”, afirmam os economistas no Boletim Economia Para Todos Investidor Mestre.
Auxílio gás
Sem acompanhar a alta do preço, o auxílio gás pago pelo governo às famílias de baixa renda deixa de cumprir sua finalidade de bancar metade do preço de um botijão. O benefício hoje é de apenas R$ 51 – 44,5% do preço médio de R$ 113,24.
Um dos efeitos imediatos e mais perversos do alto preço do gás é o crescimento do uso da lenha. O economista do OSP Eric Gil Dantas explica que “entre os anos de 2013 e 2016, de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a população consumia mais GLP do que lenha. Mas, a partir de 2017, a lenha voltou a ser mais utilizada do que o gás de cozinha nas residências do país. E, em 2020, esse consumo já era 7% maior do que o de GLP”.
O coordenador-geral da Fup (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar, avalia que os aumentos se devem muito à política de preço de paridade de importação (PPI) implantada pela Petrobras em outubro de 2016, com reajustes dos combustíveis com base nas cotações internacionais do petróleo, variação cambial e custos de importação de derivados, “mesmo o Brasil sendo autossuficiente em petróleo”.
Redação ICL Economia
Com informações das agências