Em mais uma troca de farpas na disputa por hegemonia na geopolítica mundial, o governo chinês respondeu às críticas dos Estados Unidos de que os projetos da China no Brasil e na América Latina são “enganosos”. As críticas foram feitas na semana passada por Brian A. Nichols, secretário de Estado-Adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo.
Respondendo às críticas, Pequim afirmou que as considerações do secretário-adjunto são “infundadas e ridículas”. Segundo os chineses, o norte-americano quis difamar a parceria e minar as relações sino-brasileiras. A China é, atualmente, o maior parceiro comercial do Brasil, com impactos consideráveis na balança comercial do país.
Na entrevista ao Estadão, concedida na semana passada, Nichols classificou os projetos chineses como de baixa qualidade e que, a longo prazo, não influenciam positivamente o crescimento econômico dos países parceiros, que deveriam ser beneficiados. Em tom mais acusatório, também disse que os projetos envolvem casos de corrupção.
O porta-voz da embaixada chinesa em Brasília, ministro-conselheiro Li Qi, enviou nota à reportagem do Estadão, na qual disse que “as declarações dos altos funcionários dos EUA são infundadas e ridículas, tendo como objetivo difamar a cooperação econômica externa da China e minar as relações amistosas e cooperativas entre a China e o Brasil e outros países da América Latina. Manifestamos forte insatisfação e veemente repúdio a essas declarações”.
Sobre a acusação de que os projetos estão envolvidos em corrupção, o governo chinês afirmou que adota “atitude de tolerância zero em relação à corrupção, exigindo que as empresas chinesas cumpram rigorosamente as leis e regulamentos locais durante os processos de licitação, construção, operação e gerenciamento de projetos”.
Diplomata que criticou projetos da China na América Latina foi enviado por Joe Biden após visita de Lula à China
A aproximação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a China está no radar do governo norte-americano. As declarações de Nichols, que visitou Brasília a mando do presidente Joe Biden, fazem parte da ofensiva dos Estados Unidos contra o plano dos chineses de ampliar sua presença na América Latina, África e Ásia. Nichols é a principal autoridade no Departamento de Estado dos EUA para tratar de temas relacionados às Américas.
Ele foi o segundo diplomata de alto escalão enviado por Biden em missão ao Brasil, desde que o presidente Lula retornou de uma ampla visita de Estado à China, em abril, na qual relançou as relações com Pequim e assinou 20 acordos bilaterais.
Na visita ao Brasil, Nichols disse que a iniciativa privada americana poderia financiar empreendimentos e projetos na área de energia limpa.
Na entrevista ao jornal, Nichols disse que os Estados Unidos têm o dever de responder à ofensiva chinesa em países emergentes, o chamado Sul Global, onde buscam influência econômica e geopolítica. Segundo ele, setores econômicos, empresas e o Estado, por meio de agências governamentais voltadas para financiamento e desenvolvimento, precisam oferecer alternativas concretas aos governantes, para que deixem de buscar parcerias com o Partido Comunista Chinês.
No Sul Global, a China tem investido em uma série de projetos de infraestrutura, como pontes, portos, hidrovias, rodovidas e ferrovias, para escoamento de produtos. O projeto é chamado de Belt and Road, conhecido como Iniciativa Cinturão e Rota ou ainda Nova Rota da Seda. A iniciativa completa dez anos em 2023.
Mais de 20 países na América Latina já participam do Belt and Road. Sobre o projeto, a chancelaria de Pequim disse que “a Iniciativa Cinturão e Rota é uma iniciativa de cooperação internacional aberta e inclusiva, sem quaisquer intenções militares ou geoestratégicas. A cooperação entre a China e os países parceiros baseia-se nos princípios da participação voluntária, igualdade, benefício mútuo, abertura e transparência. Nenhum dos países parceiros concorda com a alegação de que a Iniciativa Cinturão e Rota causa a chamada ‘armadilha da dívida’”.
Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo