O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso contundente contra a desigualdade, na cerimônia de encerramento da Cúpula para o Novo Pacto Financeiro, que acontece em Paris, na França, desde ontem (22). “Não é possível que, em um encontro com líderes mundiais, a palavra desigualdade não apareceu”, disse.
O objetivo da cúpula era o de justamente debater o combate à pobreza e às mudanças climáticas. O encontro promoveu seis mesas redondas para discutir a reforma de instituições financeiras multilaterais e bancos de desenvolvimento, com o objetivo de alavancar o investimento em infraestrutura básica e ações climáticas nos países em desenvolvimento.
“Junto da questão climática, temos que colocar a desigualdade. Salarial, de raça, de gênero, de saúde”, enfatizou o petista, acrescentando que o mundo aumentou a concentração de riqueza. “Se não discutir a desigualdade com igual prioridade à questão climática, podemos ter um clima muito bom e o povo morrendo de fome em vários países”, completou o petista.
Ele também enfatizou em seu discurso um lema de sua campanha, de colocar o pobre no Orçamento. Em Paris, o presidente brasileiro disse que é fácil governar para os pobres e afirmou que o governo precisa agora, com a volta da fome, fazer de novo tudo que foi feito em 2003.
“Vamos acabar com a fome. Dilma [ex-presidenta Dilma Rousseff] sabe que podemos. Agora ela pode preparar a caneta para assinar uns empréstimos para o Brasil e para os países mais pobres”, afirmou, referindo-se ao fato de que a ex-mandatária agora está no comando do banco dos Brics (grupo de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
O presidente defendeu reformas no Banco Mundial e no FMI (Fundo Monetário Internacional) e voltou a criticar o critério do assentos permanentes no conselho de segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), que, segundo ele, não representa mais a realidade de 2023, mas a de 1945.
Ao lado da desigualdade, Lula foca questão climática em seu discurso e “passa o pito” nas nações ricas: “Quem aqui cumpriu o Protocolo de Kyoto?”
Quando defendeu que a ONU tenha mais representatividade e força política, Lula afirmou que “sem isso, a questão climática vira uma brincadeira”. E citou, como exemplo, a falta de implementação dos acordos climáticos.
“Vamos ser francos: quem aqui cumpriu [o Protocolo de] Kyoto? [A decisão de] Copenhague, COP21? [O Acordo de] Paris?”, questionou.
Nem o enfraquecimento da OMC (Organização Mundial do Comércio) passou ao largo do discurso do petista, que atribuiu o problema ao retorno do protecionismo entre os países.
Ontem, o petista participou do evento Power Our Planet no Campo de Marte, em frente à Torre Eiffel, a convite de Chris Martin, vocalista da banda britânica Coldplay. O festival ocorreu paralelamente à cúpula.
Em seu discurso para uma multidão, ele responsabilizou os países ricos pela crise climática. “Não é o povo africano que polui o mundo, não é o povo latino-americano que polui o mundo. Na verdade, quem poluiu o planeta nos últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial. E, por isso, têm que pagar a dívida histórica que têm com o planeta Terra”, afirmou Lula, que foi muito aplaudido durante o discurso.
Lula destacou a Amazônia em números, ao lembrar que a maior floresta tropical do planeta está inserida em oito países sul-americanos e abriga mais de 400 povos indígenas e seus mais de 300 idiomas. “A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e responde por 40% das florestas tropicais do planeta. Representa 6% da superfície e tem o rio mais caudaloso da Terra”, ressaltou o presidente.
Um dos momentos mais aplaudidos foi quando Lula reafirmou o compromisso de zerar o desmatamento na floresta até 2030.
“Quando tomei posse, em 1º de janeiro, assumi a responsabilidade de que, até 2030, teremos desmatamento zero na Amazônia. A Amazônia é um território soberano do Brasil, mas, ao mesmo tempo, pertence a toda humanidade. E, por isso, faremos todo o esforço para manter a floresta de pé”, afirmou.
Ao lado de Macron, Lula diz que “está doido para fazer um acordo com a União Europeia”
No encerramento da cúpula de Paris, Lula, que estava sentado ao lado de Macron, abordou o acordo que vem sendo negociado há duas décadas entre o Mercosul e a União Europeia.
“Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Não é possível a carta adicional que foi feita pela União Europeia. Vamos mandar resposta, mas é preciso que comecemos a discutir”, disse. Logo após o encerramento da cúpula, Lula e Macron seguem para uma reunião bilateral durante o almoço.
Um dos focos da viagem de Lula à Europa, o petista quer negociar um dispositivo aprovado pelo parlamento francês, em abril, que proíbe a venda nos países do bloco de produtos ligados a desmatamento. “Não é possível que haja uma carta adicional fazendo ameaças a parceiro estratégico”, reclamou Lula durante o encerramento da cúpula.
Aos presentes, ele reforçou o convite para a COP30 do Clima e também para a Cúpula da Amazônia, que acontece em agosto e deve reunir líderes dos países amazônicos para formular propostas para as grandes florestas, que depois também devem ser integradas em articulações com Indonésia e países africanos.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo