Com atraso, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou que os países ricos vão disponibilizar US$ 100 bilhões (R$ 407 bilhões) para combate às mudanças climáticas em países em desenvolvimento, a partir de 2020. Além dos recursos, ele anunciou que as nações ricas também decidiram criar um fundo para a biodiversidade e a proteção das florestas para a COP28, que acontecerá neste ano em Dubai, e avanços na renegociação das dívidas dos países mais pobres.
O anúncio foi feito no final da Cúpula para o Novo Pacto Financeiro Global, encerrada hoje (23) em Paris, na França.
“Durante a nossa cúpula, obtivemos coisas muito concretas. Finalizamos a muito aguardada promessa de US$ 100 bilhões em financiamento climático”, afirmou ele, que estava sentado ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas vale lembrar que a promessa foi originalmente feita na COP15, em 2009, e endossada cinco anos depois pelo Acordo de Paris. O objetivo era que, de 2020 a 2025, as nações mais ricas mobilizassem coletivamente os US$ 100 bilhões anuais para que os países em desenvolvimento pudessem fazer frente à emergência climática e responder e se preparar para seus impactos.
No entanto, a promessa não foi cumprida e resta saber se será desta vez, pois a declaração final do pacto diz que há “boa probabilidade” de a promessa se comprida este ano, e ainda está muito vago como isso será feito.
Além disso, o dinheiro anunciado fica muito aquém do necessário. Dados da ONU (Organização das Nações Unidas) estima que os países em desenvolvimento precisam, juntos, de ao menos US$ 6 trilhões (R$ 28,8 trilhões) até o fim da década para cumprir 40% de suas promessas climáticas.
O presidente Lula foi uma das lideranças globais presentes no evento. Em seu discurso, o petista fez críticas contundentes aos países ricos, e cobrou que tomassem ações efetivas para o combate à desigualdade e às mudanças climáticas.
“Não é possível que, em um encontro com líderes mundiais, a palavra desigualdade não apareceu”, disse o petista, que participaria de almoço com o presidente da França, ocasião em que o acordo Mercosul-União Europeia seria discutido
O objetivo da cúpula é aumentar o financiamento ambiental para os países de baixa renda e aliviar suas dívidas, além de tentar reformar os sistemas financeiros do pós-guerra.
Em seu perfil oficial na rede social Twitter, Macron disse que “a luta contra as desigualdades e a luta pelo planeta só encontrarão respostas com a união da comunidade internacional. Essa é a ambição da Cúpula de Paris”.
Ontem (22), o Banco Mundial afirmou que facilitará o financiamento para países atingidos por desastres naturais. Por sua vez, o FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou que atingiu sua meta de disponibilizar US$ 100 bilhões (R$ 477 bilhões) em direitos especiais de saque (SDRs) para nações vulneráveis.
EUA ainda não aprovaram legislação para liberar parte da cota para combate às mudanças climáticas
Os Estados Unidos ainda não aprovaram a legislação necessária para liberar sua parcela no valor anunciado pelo FMI. A cota do país representa mais de um quinto do total. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que esta é uma prioridade para o governo do presidente Joe Biden.
Ao comentar o tema, o chefe da Organização Mundial do Comércio, Ngozi Okonjo-Iweala, disse na cúpula que “os líderes estão fartos do status quo, eles querem mudanças”.
Um dos pontos discutidos na cúpula foram as dívidas das nações mais pobres, principalmente o tamanho e o tratamento que as nações mais ricas têm dado a elas.
No encontro na capital francesa, a Zâmbia fechou um acordo para reestruturar mais de US$ 6 bilhões (cerca de R$ 28,6 bilhões) em dívidas com outros governos.
Os problemas das dívidas da África estão associados ao duplo desafio enfrentado por alguns dos países mais pobres do mundo em lidar com os impactos das mudanças climáticas enquanto se adaptam à transição verde.
A China é o principal credor de muitos países africanos e tem sido criticada por lideranças ocidentais. Isso porque o gigante asiático, ao contrário do Clube de Paris, que anulou uma parte dos valores devidos pelas nações mais pobres altamente endividadas, disse que prefere analisar caso a caso.
O governo chinês tem sido acusado pelas lideranças de atrasar a reestruturação das dívidas, algo que nega.
Outro aspecto é que os países queriam um envolvimento maior do setor privado nas discussões. O Senegal, por exemplo, fechou um acordo com países mais ricos ontem para desenvolver projetos na área de energia renovável e acelerar sua transição para uma economia de baixo carbono.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e de O Globo