Para desenvolver a indústria de transformação e retomar o patamar de produtividade da década de 1970, o Brasil precisaria fazer um investimento anual de R$ 456 bilhões, por um período de sete a 10 anos. É o que mostra estudo inédito feito pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
De acordo com o estudo, foi naquela década que o Brasil chegou no patamar mais próximo da produtividade da indústria norte-americana (55%).
Esse número hoje está em torno de 20%, e o Brasil investe aproximadamente 2,6% do PIB (Produto Interno Bruto) na indústria da transformação, quando seriam necessários 4,6%.
O estudo mostra como o setor perdeu investimento ao longo dos anos, com fortes prejuízos tanto tecnológico quanto para a capacitação de mão de obra.
O estudo foi abordado na edição, desta terça-feira (3), do ICL Mercado e Investimentos. O economista André Campedelli comentou que o valor necessário parece alto, mas não é tanto. “Sabe quem consome da gente cerca de R$ 500 bilhões quase todo ano em questão de investimento, de incentivo e tudo mais? A agropecuária. Ou seja, se dessem os mesmos incentivos da agropecuária para a indústria, em alguns anos a gente teria uma indústria competitiva, mas o agro é pop”, observou.
Segundo o economista do ICL, na própria imprensa há uma campanha pró agro, mostrando que esse setor, sim, representa a iniciativa privada do país “porque eles crescem sem nenhum incentivo governamental”, o que, na visão de Campedelli, é uma distorção, afinal, o agro recebe muitos incentivos e investimentos. “O setor industrial é muito importante para o desenvolvimento econômico e social de um país. A gente precisaria ter uma indústria mais competitiva”, disse.
O próprio estudo enfatiza a fala de Campedelli, ao mostrar que a indústria de transformação é estratégica para o desenvolvimento do país porque desempenha um papel de fortalecimento de todo o setor produtivo brasileiro, especialmente com seus investimentos em tecnologia e inovação.
Isso porque essa indústria realiza a transformação de matéria-prima em um produto final ou intermediário, que vai ser novamente modificado por outra indústria. Ou seja, é um motor para toda a cadeia industrial.
Investimento na indústria de transformação vem sofrendo quedas brutais com o passar dos anos
Em 2021, os investimentos na indústria de transformação correspondiam a apenas 12,9% do total de investimento aplicados no Brasil. O valor mais alto ocorreu em 2007, quando atingiu 21%.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o coordenador do estudo, o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, ressaltou que o quadro atual da indústria da transformação no país é grave. “Estamos lascados na infraestrutura e também na indústria”, diz Rocha. “É brutal a queda”, ressaltou.
Só para cobrir a depreciação dos ativos dos investimentos feitos no passado, que ocorre com o passar dos anos, é necessário investir pelo menos 2,7% do PIB. Ou seja, o nível de investimento atual não é suficiente nem para recuperar o que já está depreciado.
Rocha explicou que o estudo foi inspirado em dados divulgados pela Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), que mostram como está o investimento na infraestrutura e quanto teria de ser o investimento para suprir os gargalos nos mais diversos segmentos para cobrir a depreciação. O pedido partiu do presidente da Fiesp, Josué Gomes.
Ao Estadão, o economista disse que um dos “achados” do estudo é o apontamento de como a evolução do setor de fabricação de derivados de petróleo e combustíveis acabou distorcendo os dados globais, sobretudo na época anterior a 2016, quando os investimentos eram maiores.
“O cenário é ainda pior desconsiderando a fabricação de coque [combustível sólido obtido a partir da destilação do carvão mineral], de produtos derivados de petróleo e de biocombustíveis”, relatou Rocha.
O estudo também revelou as mudanças que vêm ocorrendo a partir de 2017. Entre 1996 e 2000, por exemplo, o segmento de petróleo e combustível teve uma participação de 9,2%, valor que subiu para 32,2% nos anos de 2017 a 2021.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu um plano de reindustrialização no país, com foco na transição energética e descarbonização. O plano deve ser divulgado entre outubro e novembro deste ano.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e de O Estado de S.Paulo