A Secretaria Especial de Comunicação da Presidência da República (Secom) divulgou, nesta quarta-feira (4), uma nota em que desmente uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo, assinada por Vera Rosa, sobre um empréstimo à Argentina. Segundo a matéria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria atuado diretamente para emprestar US$ 1 bilhão ao país vizinho com o objetivo de ajudar o ministro da Economia e candidato peronista à presidência, Sergio Massa, e impedir a vitória do extremista de direita Javier Milei.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também desmentiu o conteúdo da matéria do Estadão em entrevista à CNN Brasil. Isso porque a reportagem do jornal paulista afirma que a ministra teria recebido um telefonema de Lula no qual o presidente teria pedido para que ela liberasse o empréstimo à Argentina através da Comunidade Andina de Fomento (CAF), também conhecida como Banco de Desenvolvimento da América Latina. Tebet é a governadora brasileira no banco multilateral.
“Lula não me ligou (…) Despachei com minha secretária de assuntos internacionais, que disse que os demais países votariam a favor”, disse Tebet.
A ministra se refere à votação feita pelos países membros do CAF com relação a um empréstimo solicitado pela Argentina no valor de US$ 1 bilhão para suprir sua escassez de reservas. Segundo o Estadão, Lula teria atuado diretamente para conceder o empréstimo à Argentina, mas isso não é verdade. A liberação do valor foi aprovada em 28 de julho pelos países que compõem o banco com 19 votos dos 21 possíveis.
“Diferentemente do que vem sendo repercutido, o empréstimo de 1 bilhão de dólares feito pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) não teve intervenção do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Também ao contrário do informado, o Chefe de Estado brasileiro não conversou sobre o empréstimo com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet”, diz um trecho da nota da Secom.
O governo brasileiro explica que a Argentina apresentou o pedido de empréstimo-ponte à instituição financeira, que por sua vez convocou os países acionistas do banco para apreciar o pedido em julho de 2023.
“O Brasil possui 8,8% do capital da instituição e é seu quarto maior acionista, atrás de Colômbia, Peru e Argentina. O CAF é um banco multilateral de desenvolvimento, hoje com uma carteira ativa de mais de US$ 4 bilhões de empréstimos para o Brasil. A decisão pelo empréstimo do CAF à Argentina foi aprovada em 28 de julho pela diretoria do banco formado pelos países membros. O empréstimo foi aprovado com 19 votos dos 21 possíveis. O Brasil possui um voto, enquanto outros cinco países (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) possuem dois votos”, prossegue o comunicado do Palácio do Planalto.
Além do empréstimo à Argentina não depender exclusivamente do governo brasileiro, o país vizinho já quitou totalmente a dívida com o banco multilateral, em 25 de agosto – 5 dias antes do previsto.
Milei repercute fake news do Estadão
O candidato de extrema direita à presidência da Argentina, Javier Milei, compartilhou a reportagem do Estadão em suas redes sociais, endossando a notícia falsa de que Lula teria atuado para impedir sua vitória na corrida à Casa Rosada.
“A CASTA VERMELHA AGITA. Muitos comunistas furiosos com ações diretas contra mim e meu espaço… AVANÇOS DE LIBERDADE. VIVA A PORRA DA LIBERDADE”, escreveu Milei no X, antigo Twitter, junto ao link da matéria do jornal brasileiro.
Confira abaixo a íntegra da nota do governo Lula sobre o empréstimo à Argentina
“Diferentemente do que vem sendo repercutido, o empréstimo de 1 bilhão de dólares feito pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) não teve intervenção do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Também ao contrário do informado, o Chefe de Estado brasileiro não conversou sobre o empréstimo com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, governadora do Brasil na CAF.
A Argentina apresentou o pedido de empréstimo-ponte à instituição financeira, que por sua vez convocou os países acionistas do banco para apreciar o pedido em julho de 2023.
O Brasil possui 8,8% do capital da instituição e é seu quarto maior acionista, atrás de Colômbia, Peru e Argentina. O CAF é um banco multilateral de desenvolvimento, hoje com uma carteira ativa de mais de US$ 4 bilhões de empréstimos para o Brasil.
A decisão pelo empréstimo do CAF à Argentina foi aprovada em 28 de julho pela diretoria do banco formado pelos países membros. O empréstimo foi aprovado com 19 votos dos 21 possíveis. O Brasil possui um voto, enquanto outros cinco países (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) possuem dois votos.
De acordo com o comunicado do banco, a operação foi analisada em uma reunião virtual extraordinária onde houve uma reflexão sobre a possibilidade da América Latina e Caribe, por meio da instituição financeira, poder reagir de maneira ágil e efetiva, com espírito de urgência e espírito de solidariedade e confiança, à necessidade de um país acionista.
“Esta aprovação é uma demonstração de como o CAF conta com ferramentas e vantagens financeiras e de governança consideráveis para ser um ator relevante e oportuno nas decisões globais que envolvam a América Latina e o Caribe”, avalia o banco em seu comunicado.
No dia 25 de agosto de 2023, cinco dias antes do previsto, a Argentina liquidou o empréstimo feito pela CAF.
A Argentina é um país cuja saúde econômica é imprescindível para o Brasil. A corrente de comércio entre os dois países somou US$ 20,5 bilhões nos primeiros oito meses do ano, com saldo superavitário para o Brasil de US$ 4,4 bilhões, com forte presença de manufaturados”.
Da Revista Fórum