João Paulo Pacífico*
Falo sem qualquer pudor: o mercado financeiro tem uma grande culpa nos problemas sociais e ambientais que assolam a nossa sociedade e o nosso planeta.
Explico: já não faltam evidências dos gigantes problemas climáticos que estamos criando. A vida será cada vez mais difícil, especialmente para as pessoas mais pobres.
Extremos climáticos já são uma realidade, chuvas excessivas que causam mortes, seca histórica na Amazônia, recorde de temperaturas no Brasil e no mundo.
A única forma de frear isso é mudando o comportamento da sociedade. E no sistema capitalista o dinheiro é quem manda.
E o que o mercado financeiro está fazendo para combater as mudanças climáticas?
Greenwashing, que é a falsa sustentabilidade. Quando alguém faz uma propaganda mostrando algo bom que (supostamente) fez para esconder tudo de ruim que faz. Como por exemplo financiar combustíveis fósseis, dar crédito para quem desmata e não exigir redução de poluentes, mas faz propaganda que plantou meia dúzia de árvores.
Nessa semana saiu uma reportagem do O Joio E O Trigo mostrando que os bancos Santander, BTG e UBS venderam títulos de investimento supostamente sustentáveis, quando na verdade estavam financiando agricultores envolvidos com desmatamento e trabalho análogo à escravidão.
E adivinha o que vai acontecer com eles?
Nada. Amanhã todos já terão esquecido.
Em relação ao lado social, a única coisa que o mercado financeiro tenta fazer é promover algumas mulheres.
Pessoas pretas não têm espaço. Crédito para os mais pobres só em taxas impagáveis, que tornam os clientes reféns do banco, aumentando a desigualdade social.
E assim o mercado segue agravando a crise climática e a desigualdade social.
Porque tem 2 coisas que o mercado financeiro faz bem:
1. propagandas bonitas
2. eventos (para fingir que estão fazendo algo)
Não tenho esperança nessa geração de pessoas gananciosas que trabalham no mercado financeiro. Apesar disso, sigo lutando para fazer diferente.
Como dizia Darcy Ribeiro:
“Fracassei em tudo o que tentei na vida…
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”
*João Paulo Pacifico é CEO Investimentos de Impacto do Grupo Gaia