As gigantes norte-americanas Chevron e a ExxonMobil iniciaram uma corrida por petróleo para garantir reservas da commodity para as próximas décadas. Na última segunda-feira (23), a Chevron firmou um acordo de US$ 53 bilhões com a operadora americana Hess, dando-lhe uma posição na produção de petróleo na costa da Guiana. Duas semanas antes, a ExxonMobil anunciou uma compra por US$ 60 bilhões da Pioneer Natural Resources, a maior operadora do campo de petróleo mais abundante do mundo, a Bacia do Permiano, no Texas e Novo México, nos Estados Unidos.
Reportagem publicada pelo Financial Times e traduzida pela Folha de S.Paulo aponta que os dois acordos estão em uma escala raramente vista desde as megafusões do final dos anos 1990 e início dos anos 2000: BP-Amoco, Exxon-Mobil e Chevron-Texaco, que formaram as gigantes modernas.
Os acordos bilionários fechados pelas duas maiores petroleiras dos Estados Unidos para aquisições de concorrentes ocorrem em um momento em que o mundo discute a transição energética para fontes mais renováveis devido às mudanças climáticas. E também acontecem a despeito das previsões de órgãos, como a AIE (Agência Internacional de Energia), de que a demanda por petróleo atingirá o pico antes de 2030.
“Vivemos no mundo real e temos que alocar capital para atender às demandas do mundo real”, avaliou o CEO da Chevron, Mike Wirth, em uma entrevista recente ao Financial Times, prevendo que a demanda por petróleo “continuará a crescer até 2030 e além”.
Enquanto isso no Brasil, um projeto da Petrobras para exploração de petróleo e gás na margem equatorial brasileira enfrenta resistência de órgãos ambientais e ambientalistas, devido aos impactos que pode trazer para a região.
Em sessão solene na Câmara dos Deputados para celebrar os 70 anos da petroleira brasileira, o diretor-executivo de processos industriais da petroleira, William França, defendeu que a transição energética deve estar associada à exploração de petróleo na margem equatorial, faixa do território que vai do litoral do Rio Grande do Norte ao do Amapá. Segundo ele, “o combustível fóssil é, e ainda será por muitos anos, o motor da economia mundial, inclusive no Brasil”.
No mundo todo, corrida por petróleo rendeu US$ 254 bilhões em acordos de fusões e aquisições no setor
Somente neste ano, foram celebrados no mundo todo acordos de fusões e aquisições no setor de petróleo e gás no valor de US$ 254 bilhões, segundo dados da London Stock Exchange Grupo. É o maior valor desde 2014.
“É uma corrida armamentista”, disse um negociador de acordos envolvido na recente onda de fusões da área. “Na maioria dos setores, o acordo um não necessariamente leva ao acordo dois e ao acordo três. Acredito que, neste caso, levará, porque o tempo é essencial e os dois maiores jogadores já fizeram suas aquisições”, complementou.
Na opinião de analistas, uma das fusões mais atraentes poderá ser entre BP e Shell, embora tenham alertado que vários obstáculos se colocam no caminho de qualquer acordo desse tipo e que não têm conhecimento de tais discussões.
As duas empresas, com sede no Reino Unido, reclamaram que suas avaliações ficaram para trás em relação à Exxon e Chevron, acreditando que isso se deve em parte à maior pressão sobre as empresas de energia na Europa para adotar a transição para energia limpa.
Nos casos da Exxon e da Chevron, nenhuma delas migrou para energias renováveis, como eólica e solar, preferindo “moléculas em vez de elétrons”, como disse o CEO da Chevron.
Na Europa, por sua vez, a tendência a migrar para uma energia mais verde pode dificultar acordos significativos no setor de petróleo.
Por essa razão, analistas acreditam que as petroleiras europeias podem ficar para trás na corrida por grandes projetos no setor de petróleo e gás.
Uma fonte ouvida pelo Financial Times disse que “já havia uma lacuna de avaliação [em relação às gigantes dos EUA], mas com esses acordos recentes, a lacuna de produção também está se tornando mais evidente, o que aumentará a pressão sobre as duas empresas [BP e Shell] para encontrar uma solução”.
Analistas não descartam como caminho até mesmo a fusão entre as duas para fazer frente à concorrência norte-americana. Mas esse não seria um caminho fácil, devido às leis antitrustes e às pressões ambientais.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo. Fonte: Financial Times