A percepção negativa do brasileiro sobre a economia derrubou a avaliação do governo Lula, segundo dados mostrados pela pesquisa Quaest encomendada pela Genial Investimentos. O levantamento, divulgado ontem (25), mostra que, das 2 mil pessoas entrevistadas presencialmente em outubro para o levantamento, 32% acreditam que a economia deteriorou-se (em comparação com 23% em agosto), e 33% sentem que permaneceu inalterada (contra 39% no levantamento anterior). Um total de 2% não soube responder ou optou por não opinar.
Esse resultado negativo para a economia fez com que a atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tivesse aprovação de 54%, ante 60% da pesquisa anterior, realizada em agosto. Ou seja, a aprovação do governo caiu 6 pontos percentuais. Mas, importante salientar, aprovação de Lula continua acima dos 50%, como desde o início do governo.
A pesquisa mostra ainda que o desempenho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi avaliado como regular por 30% dos entrevistados, enquanto 26% consideram a administração positiva e 26%, negativa.
Os economistas do ICL (Instituto Conhecimento Liberta) Debora Magagna e André Campedelli demonstraram surpresa com o resultado do escrutínio, uma vez que ele vai na contramão de como o próprio mercado financeiro tem avaliado a economia.
Deborah estranhou o fato de que saiu de 37% para 42% aqueles que acreditam que a inflação dos alimentos piorou.
“Os boletos eu consigo entender [que a percepção piorou] porque as contas estão mais caras mesmo, mas os alimentos me pegaram [de surpresa] porque vemos que os [preços] dos alimentos estão caindo. A cesta básica está ficando mais barata na maioria das capitais do Brasil, o preço da carne está caindo bastante e até virando notícia. Claro, há a percepção das pessoas de que ainda está caro, mas está caindo, ou seja, não é que está ficando mais caro do que antes. O melhor retrato inflacionário que temos, hoje, está nos alimentos”, pontuou, ao comentar a pesquisa na edição de ontem (25) do ICL Mercado e Investimentos, programa diário sobre economia transmitido via redes sociais.
Pesquisa recente do Indicador de Inflação por Faixa de Renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o recuo no preço dos alimentos e bebidas ajudou a inflação a pesar menos no bolso das famílias de baixa renda nos últimos 12 meses.
André Campedelli vê ‘fake news’ e percepção histórica como razões para resultado da pesquisa Quaest
Também demonstrando surpresa com o recorte fotográfico mostrado pelo levantamento, André pontuou que o resultado é diferente do que mostram os fatos. “A realidade está mostrando tendência de desemprego caindo, o mercado financeiro está cada vez mais animado com a perspectiva de melhora da economia brasileira, a inflação dos alimentos é a melhor notícia, a renda do brasileiro está melhorando como a pesquisa do Dieese [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos] mostra. Houve aumento dos boletos em julho, mas não aumentou tanto assim”, disse.
Ele avalia que, historicamente, “o brasileiro enxerga inflação mesmo quando não existe inflação”. “A gente entende que isso acontece por causa dos anos 1980 [período de hiperinflação]. Mas, provavelmente, tem muita ‘fake news’ também, porque os dados estão mostrando que a economia está melhorando, mas a percepção [do brasileiro] não melhora”, observou.
Segundo a pesquisa, ao serem questionados sobre a expectativa para a economia brasileira nos próximos 12 meses, caiu em 9 pontos percentuais (de 59% para 50%) o número daqueles que acreditam que a economia vai melhorar. Ao mesmo tempo, subiu de 22% para 28% os que acham que vai piorar.
Contudo, os eleitores do presidente Lula continuam achando que a economia melhorou, enquanto subiu de 8% para 12% os que acham que piorou.
Já entre os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), subiu de 39% (levantamento de agosto) para 56% a percepção de que a economia piorou.
Também aumentou de 35% para 47% os brasileiros que acham que a inflação vai piorar e de 37% para 40% aqueles que acreditam na piora do desemprego.
Na avaliação de André, o resultado mostra que a polarização política continua muito presente entre os brasileiros.
Queda na aprovação é generalizada
Segundo o professor Felipe Nunes, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e diretor da Quaest, o cenário desenhado pela pesquisa de outubro é parecido com o de abril, “quando o governo ainda não havia conseguido avançar nas pautas econômicas”.
“A queda na aprovação identificada pela pesquisa deste mês não está concentrada em nenhum segmento. Pelo contrário, ela se deu de forma generalizada, em todas as regiões e em quase todos os estratos sociais”, analisou em seu perfil no X, antigo Twitter.
A pesquisa desta quarta-feira também mostrou que 42% dos entrevistados desaprovam o trabalho de Lula. Em agosto, esse índice era de 35%. Isso significa um aumento de sete pontos percentuais. Entre aqueles que não souberam analisar ou não responderam são 4%. Esse índice era de 5% em agosto.
Ele salientou ainda que não é só a economia que pesa contra o governo neste momento. “As notícias positivas sobre o governo não conseguem se destacar em relação às negativas”.
Conforme mostrou o levantamento, 36% dos entrevistados escutam mais notícias negativas do que positivas. Já o grupo contrário, daqueles que escutam mais notícias positivas do que negativas, é de 34%.
Ao se dividir a pesquisa por regiões, o Nordeste continua a ser a fração do território nacional onde o presidente tem maior aprovação (68%), ainda assim é menor do que o registrado em agosto deste ano (72%). No Sudeste, a aprovação é de 49%; no Sul, 50%, e no Centro-Oeste e Norte, também de 50%.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e ICL Mercado e Investimentos