O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu início ontem (28) à primeira viagem internacional após a cirurgia para colocação de prótese no quadril, em setembro. A viagem de Lula inclui quatro países em um roteiro de oito dias: Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Alemanha. Em Dubai, nos Emirados Árabes, o petista participará da COP28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023).
Além da participação na conferência do clima, Lula também aproveitará a viagem para estreitar laços comerciais com os países que serão visitados. Ontem, ele já cumpriu agenda oficial com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita.
A Arábia Saudita é o principal parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio. No ano passado, o comércio entre os dois países somou US$ 8 bilhões e, até outubro deste ano, foram mais de US$ 5,5 bilhões negociados.
Em postagem em seu perfil oficial na rede social X (antigo Twitter), Lula escreveu: “Me reuni com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita. Conversamos sobre investimentos sauditas no Brasil em diversos setores, e sobre o potencial de exportações brasileiras”.
A Arábia Saudita é a única nação do Oriente Médio a participar do G20, grupo formado pelos ministros das finanças e chefes de bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais União Africana e União Europeia. O país é um forte aliado dos Estados Unidos na região.
Antes de embarcar para cumprir a agenda internacional na última segunda-feira (27), ao lado da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, o presidente indicou o ministro da Justiça, Flavio Dino, para o STF (Supremo Tribunal Federal), e o vice-procurador-geral eleitoral Paulo Gonet para a PGR (Procuradoria Geral da República).
Somente neste primeiro ano de mandato, Lula já viajou ao exterior 15 vezes. Quando retornar ao Brasil, em 5 de dezembro, terá passado mais de 60 dias fora do país e visitado 25 países.
Além de Lula e Janja, a comitiva também inclui os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura), além de autoridades como Aloizio Mercadante (presidente do BNDES), Jean Paul Prates (Petrobras), Jorge Viana (Apex-Brasil) e Rodrigo Pacheco (presidente do Senado).
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deve se juntar a Lula em Dubai, para a COP28 e também na agenda na Alemanha.
Viagem de Lula: comitiva brasileira participa de reuniões de interesse econômico nesta 4ª feira (29)
Nesta quarta-feira (29), a comitiva brasileira passa o dia em reuniões de interesse econômico.
De acordo com a BBC, o governo brasileiro tem interesse em receber investimentos do Saudi Arabia Public Investment Fund, um fundo soberano de US$ 775 bilhões — onde há poucos projetos brasileiros. Na visão brasileira, há espaço para colaboração nas áreas de tecnologia e defesa.
Hoje, Lula participou de uma mesa Brasil-Arábia Saudita. Durante o discurso para empresários e ministros, ele afirmou que o Brasil pode alcançar uma balança comercial na casa dos US$ 1 trilhão. “Eu acho que se o Brasil assumir a responsabilidade pelo tamanho que tem e pela importância que tem na geopolítica, eu queria dizer aos nossos ministros, aos empresários aqui, a gente pode sonhar em 2030 em ter uma balança comercial de US$ 1 trilhão”, disse.
Entre janeiro e novembro, a balança comercial do Brasil ficou na casa dos US$ 86,5 bilhões. No período, o país exportou cerca de US$ 300 bilhões, enquanto importou US$ 213 bilhões.
Durante seu discurso, Lula falou sobre o fortalecimento da parceria entre Brasil e Arábia Saudita, apontando a possibilidade de criação de um investimento cruzado entre a Petrobras e a Arábia Saudita para produzir fertilizantes em larga escala, visto que há uma incerteza criada pela Rússia e a Ucrânia, dois países com grande presença na exportação de commodities.
O presidente Lula também disse nesta quarta-feira que um dos motivos que levou à entrada da Arábia Saudita no Brics foi a perspectiva do país produtor de petróleo ajudar a fortalecer o banco do bloco de países.
Outra possibilidade é captar investimentos do país árabe em obras do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Após cumprir a agenda na Arábia Saudita, Lula embarca para o Qatar. Em Doha, o petista novamente participará de fórum com empresários e se encontrará com o emir e líder máximo do país, Tamim bin Hamad al-Thani.
Recentemente, o país ajudou a mediar uma trégua no conflito entre Israel e o Hamas, com troca de reféns por prisioneiros palestinos. Lula deve tratar da guerra no encontro com o emir.
“O Qatar é um país que tem uma interlocução com as partes e com o qual o Brasil tem mantido um canal de diálogo aberto. Ultimamente, na questão da repatriação dos brasileiros que se encontravam em Gaza, o ministro [das Relações Exteriores] Mauro Vieira se referiu ao Qatar, mais de uma vez, como sendo um interlocutor importante neste processo”, disse Sobral Duarte.
Lula participa da COP28 na 6ª feira e sábado
A COP28 começa hoje, em Dubai, mas a participação de Lula está prevista para sexta-feira (1º) e sábado (2). A agenda ambiental tem sido uma das principais marcas da política externa do governo.
Marina Silva disse que o governo pretende mostrar na cúpula os resultados no combate ao desmatamento na Amazônia, que caiu 22,3% no período de agosto de 2022 e julho de 2023, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). No período, a área desmatada foi de 9.001 quilômetros quadrados, ante 11.594 km² no período anterior (agosto de 2021 a julho de 2022).
Um dos principais temas da conferência deste ano será a mudança da matriz energética mundial para fontes mais limpas. Lula deve discursar em plenária de líderes mundiais.
No domingo (3) e segunda-feira (4), o presidente visita a Alemanha, onde se encontrará com o chanceler Olaf Scholz. “As principais áreas [de interesse da viagem] são meio ambiente; mudança climática; desenvolvimento global; agricultura; bioeconomia; energia; saúde; ciência e tecnologia e inovação. Além disso, a Alemanha é um dos países que defendem [a assinatura do] acordo [comercial] Mercosul-União Europeia”, disse a embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes, secretária para Europa e América do Norte do Itamaraty.
Há expectativa de que o acordo comercial entre os dois blocos possa finalmente ser firmado no próximo mês.
Lideranças dos dois blocos buscam assinar o acordo antes da posse do presidente eleito de ultradireita na Argentina, Javier Milei, em dezembro. Durante a campanha, Milei deu declarações contra o bloco e até cogitou a saída do país da coalizão.
Em dezembro, haverá uma cúpula no Rio de Janeiro, onde o tratado pode vir a ser firmado.
Redação ICL Economia
Com informações do G1 e da BBC