Pobreza cai para 31,6% da população em 2022, após alcançar 36,7% em 2021

Programas sociais reduzem extrema pobreza em cerca de 80%
6 de dezembro de 2023

O percentual de pessoas em extrema pobreza, ou seja, que viviam com menos de R$ 200,00 por mês, no Brasil, caiu para 5,9% em 2022, após alcançar 9,0% em 2021. Já a proporção de pessoas em situação de pobreza, que viviam com até R$ 637,00 por mês, caiu de 36,7% em 2021 para 31,6% em 2022. Em termos de contingente, em 2022, havia 12,7 milhões de pessoas na extrema pobreza e 67,8 milhões na pobreza, com queda de cerca de 6,5 e 10,2 milhões de pessoas, respectivamente, nessas situações de um ano para o outro. Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada hoje (06) pelo IBGE.

O Instituto considerou, nessa análise, os parâmetros do Banco Mundial de US$2,15/dia para extrema pobreza e de US$ 6,85/dia para a pobreza, em termos de Poder de Paridade de Compra (PPC) a preços internacionais de 2017. Essas são as linhas utilizadas para o monitoramento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 1 (ODS1: Erradicação da Pobreza), e foram atualizadas pelo Banco Mundial em 2022, sendo, até então, utilizados os valores de US$1,90 PPC 2011/dia para extrema pobreza e US$ 5,50 PPC 2011/dia para pobreza.

Nos parâmetros anteriores, os percentuais de pessoas em extrema pobreza (5,2%) e pobreza (24,1%) seriam menores, porém, o movimento apresentado na série histórica é o mesmo, com aumento de 2020 para 2021 e queda entre 2021 e 2022. Além disso, observa-se que a atualização da linha impactou mais o percentual de pessoas na pobreza do que na extrema pobreza.

“Na linha de extrema pobreza não há uma diferença significativa entre os valores da linha antiga e da linha atualizada ao longo da série, pois ela é basicamente de consumo para subsistência e sua atualização se dá principalmente por uma questão de preços. Já a linha de pobreza mostra uma diferença maior, ligada a dinâmica do rendimento e padrões de consumo mais heterogêneos de países de renda-média alta”, destaca André Simões, analista da pesquisa.

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Fonte: IBGE

Entre 2021 e 2022, a pobreza e a extrema pobreza recuaram em todas as regiões, com destaque para o Norte (-7,2 p.p. e -5,9 p.p., respectivamente) e o Nordeste (-6,2 p.p. e -5,8 p.p.). “Essas regiões concentram o maior volume de pessoas nessas situações e também são as regiões onde há um impacto maior dos programas sociais de transferência de renda”, contextualiza Simões. Destaca-se, ainda, o Centro-Oeste, que apresentou a maior queda na pobreza (-7,3 p.p.), relacionada, principalmente, ao dinamismo no mercado de trabalho da região em 2022.

A região Nordeste, em 2022, detinha 27% da população total do Brasil, mas concentrava 43,5% da população na pobreza e 54,6% da população em extrema pobreza. Já o Norte, que reunia 8,7% da população total, detinha 12,8% das pessoas em situação de pobreza e 11,9% das pessoas em extrema pobreza. Mais da metade (51%) da população do Nordeste estava em situação de pobreza. O Sudeste, com 42,1% da população do país, concentrava 30,7% das pessoas na pobreza e 23,8% das pessoas na extrema pobreza.

Duas em cada cinco mulheres pretas ou pardas estão na pobreza

As pessoas pretas ou pardas representavam mais de 70,0% dos pobres e dos extremamente pobres. Essas desigualdades também se mantiveram nas taxas de pobreza e extrema pobreza: em 2022, 40,0% das pessoas de cor ou raça preta ou parda eram pobres, num patamar duas vezes superior à taxa da população branca (21%) e 7,7% delas eram extremamente pobres, mais que o dobro da taxa entre brancos (3,5%).

Entre as mulheres pretas ou pardas, os percentuais foram ainda maiores, chegando a 41,3% de pobres e a 8,1% de extremamente pobres. O arranjo domiciliar formado por mulheres pretas ou pardas, sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos também concentrou a maior incidência de pobreza: 72,2% dos moradores eram pobres e 22,6% eram extremamente pobres.

A pobreza é maior nos domicílios onde vivem crianças. Entre as pessoas com até 14 anos de idade, 49,1% eram pobres e 10,0% eram extremamente pobres, um percentual muito superior ao da população com 60 anos ou mais: 14,8% de pobres e 2,3% extremamente pobres.

Rendimento do trabalho impacta a pobreza e programas sociais, a extrema pobreza

A participação dos benefícios de programas sociais no rendimento domiciliar das pessoas em situação de extrema pobreza chegou a 67,0% em 2022. Já a renda do trabalho foi responsável por apenas 27,4% do rendimento deste grupo. No Nordeste, os benefícios de programas sociais representaram 72,4%, caindo para 48,2% na região Sul, enquanto a participação da renda do trabalho foi de, respectivamente, 23,7% e 38,6%.

Entre os domicílios considerados pobres, o rendimento de benefícios de programas sociais chegou a 20,5% do total do rendimento. A renda do trabalho, por sua vez, foi responsável por 63,1%. No Sudeste, a proporção é ainda maior, com a renda do trabalho chegando a 70,2% do rendimento dos domicílios, enquanto no Nordeste, o percentual foi de 54,3%, em 2022.

“Isso mostra a importância das transferências de renda para a composição da renda dos domicílios das pessoas extremamente pobres e a maior influência do mercado de trabalho na composição da renda da população pobre”, observa Simões. Na população total, a distribuição de rendimentos por fonte ficou em 74,5% para trabalho; 18,1% aposentadoria e pensão; 3,0%, benefícios de programas sociais e 4,4% para outras fontes.

Programas sociais reduzem extrema pobreza em cerca de 80%

Além da maior participação na composição da renda da população extremamente pobre, os benefícios de programas sociais governamentais também impactam na redução, principalmente, da extrema pobreza. O estudo analisou a hipótese de não existirem os referidos programas, e os dados mostraram que a extrema pobreza teria sido cerca de 80% maior, elevando o percentual atual de 5,9% para 10,6%.

Com relação à pobreza, os impactos da ausência dos benefícios de programas sociais governamentais teriam sido menores, com uma proporção de pobres 12,0% maior do que o efetivamente registrado em 2022, passando de 31,6% para 35,4%.

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Fonte: IBGE

Já o índice de Gini do rendimento domiciliar per capta, indicador que mede a desigualdade na distribuição de renda, teria sido 5,5% maior na hipótese de ausência dos benefícios de programas sociais, passando dos atuais 0,518 para 0,548. Nos Nordeste e Norte, os programas sociais impactaram na redução no Gini em 11,6% (0,517 com os benefícios para 0,585 sem os benefícios) e 8,9% (0,509 com os benefícios e 0,559 sem os benefícios), respectivamente, se mostrando como importante elemento para a redução da desigualdade econômica nessas regiões.

Mais sobre a pesquisa

A Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2023 tem como objetivo sistematizar e apresentar um conjunto de informações relacionadas à realidade social do país, a partir de temas estruturais de grande relevância para a construção de um quadro abrangente sobre as condições de vida da população brasileira.

Nesta edição, traz indicadores sobre estrutura econômica e mercado de trabalho; padrão de vida e distribuição de rendimentos; condições de moradia e educação. Os recortes por grupos populacionais destacam desigualdades de rendimentos, gênero, cor ou raça, grupos de idade, situação de domicílio e arranjo domiciliar, mostrando a evolução dos indicadores em séries históricas. Há detalhamentos por grandes regiões, unidades da federação e, em alguns indicadores, municípios das capitais.

Da Agência de Notícia do IBGE

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