A austríaca Marlene Engelhorn, 31 anos, é descendente de Friedrich Engelhorn, fundador da farmacêutica alemã BASF, e tem herança estimada em valor aproximado de R$ 20 bilhões, segundo a Forbes. Ela quer distribuir R$ 133 milhões de sua herança, de forma aleatória, em seu país de origem.
A herdeira cresceu em Viena e participa do movimento por políticas fiscais que redistribuam a riqueza herdada e abordem a desigualdade econômica estrutural. Também defende a tributação sobre heranças, assunto que faz a Faria Lima estremecer no Brasil. Mas a Áustria também não cobra imposto sobre heranças desde 2008, quando aboliu a taxação, sendo um dos poucos países europeus a não fazer essa cobrança.
Por isso, Engelhorn quer que 50 austríacos determinem como devem ser redistribuídos os 25 milhões de euros que ela pretende disponibilizar de sua herança.
“Herdei uma fortuna e sem ter feito nada para isso”, disse ela. “E o Estado nem quer impostos sobre isso”, complementou.
Sem essas leis tributárias em vigor, ela recorre ao público para decidir como seu dinheiro deve ser gasto.
Na última quarta-feira (10), 10 mil convites destinados a cidadãos austríacos selecionados aleatoriamente foram enviados pelo correio na Áustria. Esse número será reduzido a 50, com o objetivo de refletir a população do país com base em dados demográficos como sexo, idade e rendimento.
O grupo, denominado “Guter Rat” (ou “bom conselho”, em português), vai se reunir na cidade de Salzburgo, na Áustria, durante seis fins de semana este ano, para discutir a melhor forma de gastar o dinheiro.
No momento em que a desigualdade social dispara, postura da herdeira da BASF surpreende
Em seu perfil oficial na rede social X (antigo Twitter), Marlene gravou um vídeo defendendo a tributação sobre grandes fortunas. Ela fez parte do movimento que reuniu milionários e bilionários no ano passado, no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, que pediram para ter sua fortuna taxação. Assinaram a carta-manifesto, por exemplo, o ator norte-americano Mark Ruffalo, o Hulk dos filmes da Marvel, e Abigail Disney, herdeira do império Disney.
A história de Engelhorn vem a público no momento em que a organização internacional Oxfam divulgou relatório na edição deste ano do Fórum Econômico, mostrando que a riqueza dos cinco mais ricos do mundo mais que dobrou (114%) desde 2020, enquanto 5 bilhões de pessoas empobreceram.
A herdeira da BASF tomou essa atitude por acreditar que muitos herdeiros não devolvem suas riquezas à sociedade e ainda se aproveitam de privilégios fiscais.
Em 2021, ela havia dito que queria distribuir pelo menos 90% do total de sua herança, já que não fez nada para ganhar o dinheiro e apenas teve sorte na “loteria de nascimento”. Agora, não se sabe se ela ainda vai manter esse percentual.
Segundo a austríaca, o governo deveria impor impostos sobre riqueza e herança — mas, como não o faz, “ela está tomando as rédeas nas próprias mãos”. Isso seria uma forma de combater a desigualdade de riqueza no país.
“Muitas pessoas lutam para sobreviver com um emprego e pagam impostos sobre cada euro que ganham com o trabalho. Vejo isso como um fracasso da política e, se a política falhar, os próprios cidadãos terão de lidar com isso.”
Ela ainda ainda afirmou que sua vida de herdeira é algo que independe de suas conquistas pessoais. “Foi acumulada porque outras pessoas fizeram o trabalho, mas minha família pôde herdar a propriedade de uma empresa e, assim, todas as reivindicações aos frutos de seu trabalho”, escreveu no site do projeto.
Da redação ICL Economia
Com informações da BBC e de O Globo