Artigo de Deborah Magagna e André Campedelli *
O grande destaque da semana passada foi o lançamento da nova política industrial do governo Lula,
chamada de Nova Indústria Brasil. Nela, foram definidas metas de curto e longo prazo para o estimulo
do setor, que vem passando por graves problemas desde os anos 1990. Mesmo com uma pequena
melhora durante o segundo governo Lula, a reversão da evolução observada foi acentuada, fazendo
com que hoje tenhamos uma situação muito difícil para o setor industrial brasileiro.
Mas é óbvio que isso teria reação, principalmente da ala liberal e dos economistas e analistas de
mercado da grande mídia brasileira. Essa parcela parece querer que o país viva em um eterno
subdesenvolvimento, sobrevivendo a base da agropecuária, da indústria de transformação de baixa
complexidade e da extração de minérios. Uma economia rudimentar e lastreada em serviços, incapaz
de gerar renda para uma população com mais de 200 milhões de pessoas, porém, que garanta a renda
de uma velha elite que comanda o país a muito tempo nos bastidores.
A verdade é que nenhum país do mundo conseguiu se desenvolver de verdade sem se utilizar de
políticas estatais para tal. Os Estados Unidos fizeram isso baseados nas ideias de Hamilton, enquanto List foi o grande autor da Alemanha ao propor tais medidas de desenvolvimento econômico. O autor
sul-coreano Ha-Joon Chang ficou famoso por modernizar tais ideias para o século XX e mostrou como
que os países desenvolvidos se utilizam de políticas estatais para o crescimento socioeconômico e logo
depois propõem ao resto do mundo a utilização de medidas liberais, movimento que ficou conhecido
como Chutando a Escada.
Os grandes exemplos do mundo são dos países que mais vêm crescendo e desenvolvendo sua indústria nos últimos anos. China e Índia abusam de benefícios estatais para conseguir evoluir seus pátios industriais. Crédito subsidiado com baixas taxas de juros, engenharia reversa e condução de políticas de pesquisa e desenvolvimento pelo próprio governo são largamente utilizados por estes países que já estão na fronteira industrial de diversos ramos, como na tecnologia de informação, farmacêutica, química etc. E acreditem: até mesmo os Estados Unidos atuam dessa maneira, mas utilizando sua força militar com tal propósito.
Mas, quando tais ideias são colocadas na mesa aqui no Brasil, elas são chamadas de atrasadas e pouco eficientes. Como que a indústria, por mágica, fosse florescer e se desenvolver. Ou pior ainda, muitos falam que a indústria não é necessária para um país se desenvolver, o que deixaria nervosos os pais do liberalismo econômico, como Adam Smith, e até mesmo economistas austríacos, o símbolo do
ultraliberalismo econômico. Até mesmo Hayek e Bown-Bawerk falavam que a verdadeira riqueza de um
país estava nos bens que produziam outros bens, ou seja, na indústria de bens de capital.
Mas a nossa elite econômica e intelectual continua com ideias que parecem ter saído do feudalismo do
que de um livro de economia do século XX, ainda mais de discussões modernas sobre o tema. O
liberalismo à brasileira tem uma ojeriza de estado quase que doentia. Mas não nos deixaremos pautar
por tais críticas que não passam de ideologia liberal travestida de argumento técnico. O país precisa de
uma indústria de ponta, que gere bons empregos e renda, para conseguir de fato se desenvolver no
médio e longo prazo.
*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais
*André Campedelli é economista do ICL e professor de Economia. Doutorando pela Unicamp, mestre e graduado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, com trabalhos focados em conjuntura macroeconômica brasileira