Trechos de discursos machistas do novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, têm circulado nas redes sociais. Em um deles, o economista afirma que mulher recebe menos porque engravida e “falta mais para ir ao médico” do que os homens. Sachsida, no áudio, define isso como “comportamento racional” dos empresários.
“É simplesmente o comportamento racional do empresário […] o custo de oportunidade da mulher é mais alto, porque ela é mais eficiente fora do mercado. Se o casal tiver um filho provavelmente é a mulher que vai cuidar do filho. Aí você vai dizer para mim: ‘Adolfo, mas o homem fica bêbado mais que a mulher? Fica. Então menos para o homem neste ponto. Mas também quem vai mais ao médico é a mulher, então, ela vai faltar mais para ir ao médico. O empresário está fazendo essas contas”, diz.
Sachsida é o novo ministro de Minas e Energia, no lugar do almirante Bento Albuquerque, exonerado a pedido, segundo consta na edição do Diário Oficial da União de quarta (11). A substituição ocorreu após mais uma queda de braço entre o presidente e Bento pelo controle de preços de combustíveis da Petrobras.
Em sua primeira declaração após a nomeação para o cargo, o novo ministro de Minas e Energia afirmou que vai solicitar o início dos estudos para a privatização da Petrobras. “Como parte do meu primeiro ato, solicito também o início dos estudos tendentes à proposição das alterações legislativas necessárias à desestatização da Petrobras“, disse.
No mesmo vídeo, ao explicar o que significa o termo a priori, Sachsida diz que quando você bate o olho numa mulher e a vê “com um bustiezinho, uma calça colada, você fala assim: ‘pô, essa mulher deve ser solteira'”. “Pode me chamar de machista à vontade”, continua ele.
Em outro trecho, ele afirma que a licença maternidade de seis meses é algo “criminoso contra a mulher”. “Você dar uma licença maternidade de 6 meses para a mulher é mais ou menos como você chegar para um empresário e falar: ‘Não promova mulher porque, se ela engravidar, ela vai ficar seis meses fora da empresa’.” Seria mais um motivo pelo qual a mulher recebe menos.
“Cara, você consegue imaginar uma empresa ficar seis meses sem o seu gerente? Não tem jeito. Quando eu fui contra essa ideia de dar licença maternidade de seis meses, o pessoal me xingou. Não é nada disso, é que eu me preocupo com as mulheres”, completa.
Segundo IBGE, mulher recebe menos que o homem quando se comparam trabalhadores do mesmo perfil
No vídeo —nomeado como “Aprenda Economia com o Sachsida: Aula 7” e publicado há seis anos em seu canal no YouTube— o novo ministro aponta também que mulher recebe menos porque os homens topam jornadas de trabalho mais extensas do que as mulheres.
“Você conversa com seus amigos e suas amigas e pergunta: ‘Quem de vocês topa trabalhar 12 horas por dia durante 15 anos para daqui 15 anos ser o chefe ganhando mais?’ Você vai ver que uma proporção maior de homens topa isso. Talvez seja fator cultural, social, não sei”, diz.
“Você vai ver que uma magnitude expressiva de mulheres prefere uma jornada menor. Ou porque precisa ficar com os filhos ou porque ela pretende ficar mais com a família ou porque ela acha que a regra de sustentação é do homem. Eu não sei a explicação, eu sei do resultado”, afirma.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que realmente a mulher recebe menos, consequência de uma cultura machista expressada pelo ministro. Em média, as mulheres ganham 20,5% menos que homens no Brasil mesmo quando se comparam trabalhadores do mesmo perfil de escolaridade e idade e na mesma categoria de ocupação.
Para Sachsida, “muito do que nós chamamos de discriminação contra a mulher é porque às vezes ela é obrigada a sair do mercado de trabalho para ter filhos”.
“Homem não fica grávido, mulher fica. Qual é a idade que mulher costuma ficar grávida? Entre 20 e 30 anos. O que acontece é o seguinte: se você pegar, vai ver que entre os 20 e os 40 anos de idade é que o seu salário dá grandes pulos. […] Só que essa faixa coincide também com a época em que a mulher sai do mercado porque teve filho. Então, parte da experiência que ela deveria acumular no período não acumula porque, basicamente, ela está cuidado do filho. Não estou dizendo que isso está errado, estou dizendo apenas como funciona”, diz Sachsida.
Sachsida diz ainda que é contra as cotas raciais e que alemães, italianos e japoneses foram mais “maltratados” no Brasil nos últimos anos do que os negros.
“É difícil argumentar que 200 anos depois do final da escravidão exista uma dívida histórica [com os negros]”, afirmou. “Se tem algo que o Brasil pode ensinar para o mundo é a maneira como as raças interagem. Olha a minha cor aqui ó [ele mostra o braço], eu sou branco, eu sou negro. A minha irmã é mais escura do que eu. Ela é branca, ela é negra”, diz.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias