Devido à alta do diesel anunciada essa semana pela Petrobras, caminhoneiros ameaçam greve. A categoria também reagiu negativamente à decisão do governo Bolsonaro de agora afirmar que pretende privatizar a companhia.
Vídeos de caminhoneiros viralizam na rede social TikTok. Neles, os trabalhadores aparecem em postos, abastecendo seus tanques. Em um desses vídeos, o caminhoneiro registra que o valor total na bomba ultrapassa R$ 5.500, para armazenar pouco mais de 600 litros do combustível. O litro, na região de Barreiras, na Bahia, é vendido por R$ 8,24.
“Não tem condições, vou ter que fazer outro abastecimento ainda, para chegar a Mato Grosso. O frete foi R$ 11 mil. Não tem condições, os caminhões vão parar. É pane seca nas rodovias”, diz o caminhoneiro.
Em países como Canadá e Estados Unidos, o TikTok se transformou na principal ferramenta de caminhoneiros que organizaram paralisações em diversas cidades.
Na segunda-feira, a Petrobras anunciou um aumento de 8,87% no preço do diesel em suas refinarias. Caminhoneiros ameaçam greve porque o preço do combustível nos postos já acumula alta de 96% no governo Bolsonaro, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Caminhoneiros ameaçam greve também pela possibilidade de privatização da Petrobras
O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, pretende reunir representantes da classe no próximo domingo, para discutir uma paralisação nacional da categoria. “A situação passou de todos os limites e o diesel ainda está com o preço 10% defasado com base no preço internacional, ou seja, tem mais aumento nas bombas em breve”, afirmou a associação, em carta. “O cenário é de pré-caos.”
A associação também diz ser contra a privatização da Petrobras. “O Brasil precisa de uma estratégia de curto prazo para frear essa voracidade da Petrobras em saquear o bolso dos brasileiros, e não vender a PPSA e a Petrobras”, afirma a Abrava.
Bolsonaro promete ir à Justiça para obrigar Petrobras a reduzir combustíveis, mas CEO indicado pelo presidente quer manter política de preços
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 12, que vai recorrer à Justiça para tentar obrigar a Petrobras a reduzir o preço dos combustíveis. Ele admitiu, no entanto, que são remotas as possibilidades de conseguir decisão favorável e reclamou de interferências do Judiciário em medidas do governo para enfrentar os efeitos da alta na inflação.
“A gente espera redução do preço. Vamos ter que recorrer à Justiça. Sabemos que, quando eu recorro, é quase impossível eu ganhar”, disse Bolsonaro durante live transmitida nas redes sociais nesta quinta-feira, 12. O presidente abriu guerra contra a petroleira estatal pelos constantes reajustes no preço dos combustíveis, que influenciam no aumento da inflação. A disparada dos preços é um dos principais pontos de preocupação de Bolsonaro, que tenta a reeleição. Sem conseguir interferir na estatal, o chefe do Executivo exonerou ontem o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
“Estamos fazendo o possível na Petrobras, sem interferência, para ela entender seu papel. Entender como? Fazendo aqui mudanças, como fizemos no Ministério de Minas e Energia. Ministro Bento foi quem pediu para sair. Tínhamos um pequeno problema na Petrobras, ele decidiu assinar sua saída do Ministério de Minas e Energia”, afirmou.
O presidente voltou a dizer que a Petrobras tem “lucro absurdo” e cobrou novamente que governadores reduzam a alíquota do ICMS para diminuir o preço do diesel e do gás de cozinha.
“Abri mão do imposto federal do diesel e gás de cozinha, mas lamentavelmente com o ICMS, que é o imposto estadual, eu sancionei uma nova lei, onde, no final das contas, tendo em vista a fórmula de cálculo do ICMS, o diesel tinha que reduzir 0,30 centavos. Poucas semanas depois, em uma reunião do Confaz, eles aumentaram em 0,30 centavos. A arrecadação do ICMS dos combustíveis tem batido recorde ano após ano”, reclamou. Bolsonaro também culpou a interferência nos preços da Petrobras em governos petistas pelos aumentos atuais.
Ao contrário do que diz, Bolsonaro poderia agir nos preços dos combustíveis
O presidente da República pode, de maneira indireta, interferir nos preços praticados pela companhia. Isso porque a Petrobras é uma companhia de capital misto, e a União é a maior acionista individual da empresa, com mais de 50% das ações com direito a voto, e cerca de 29% do total de ações, segundo dados da B3.
Assim, a União tem direito de eleger mais profissionais para formar o Conselho de Administração da empresa. É o conselho que indica o CEO e diretores para, de fato, administrarem a companhia e definirem sua política de atuação, inclusive a de preços.
No atual conselho da Petrobras, a União indicou seis dos onze integrantes, que confirmou José Mauro Ferreira Coelho, escolhido pelo governo Bolsonaro para ser o CEO. E ele, assim como o novo ministro de Minas e Energia, se mostram favoráveis à continuidade do PPI (Preço de Paridade de Importação) praticado pela companhia desde o governo Temer.
Na prática, a política contribui para garantir lucros enormes aos acionistas da estatal, enquanto a maior parte dos brasileiros sofre com a explosão nos preços dos combustíveis.
Redação ICL Economia
Com informações do Estadão Conteúdo e UOL