Empresários que participaram do evento promovido pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, no interior de São Paulo nesta sexta-feira (20), não contavam com a presença do presidente Jair Bolsonaro. Até a noite desta quinta (19), quando foram avisados de que Bolsonaro estaria presente, esperavam apenas a presença do bilionário Elon Musk, dono da Tesla e SpaceX.
O objetivo do encontro era discutir o pedido de Musk junto à Anatel para que sua rede de satélites (Starlink) se espalhe pelo Brasil, o que permitiria levar internet por essa plataforma à Amazônia, abrindo novas frentes de negócios na região.
De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, muitos empresários discutiram com seus assessores a possibilidade de cancelarem a ida ao evento sob o temor de que poderiam ser usados politicamente na promoção do presidente Bolsonaro, que disputa a reeleição.
Para eles, o risco seria de aparecerem aprovando o governo e a reeleição do presidente em um momento em que a disputa nem começou com pesquisas de intenção de voto mostrando a liderança do ex-presidente Lula (PT).
Já no convite do ministério enviado para órgãos do governo e para a agência reguladora do setor de telecomunicações, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), consta somente a presença de Bolsonaro, sem menção a Musk.
Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, a aproximação do governo com o bilionário, no entanto, constrange a Anatel, que também avalia a permissão para que outros gigantes concorrentes de Musk, como a Amazon, também atuem em território nacional.
Mais cedo, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse em sua conta no Twitter que Musk viria ao Brasil para discutir conectividade na Amazônia com autoridades do governo brasileiro.
Atualmente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao governo federal, monitora o desmatamento da floresta por satélites, incluindo alertas em tempo real. No passado, Bolsonaro questionou, sem apresentar evidências, a confiabilidade dos dados do Inpe, após o instituto apontar crescimento do desmatamento da Amazônia, gerando pressão internacional sobre seu governo.
Em sua fala, Bolsonaro não detalhou como Musk e suas empresas poderiam ajudar a combater a destruição da floresta, que tem registrado recordes recentes, mas disse que conta com o bilionário norte-americano para levar ao mundo o que ele afirmou ser a verdade sobre a Amazônia.
Ministério das Comunicações estaria pressionando Anatel
Uma reportagem do Brasil de Fato, publicada em março deste ano, mostrou que o governo federal fez intensa pressão na Anatel pela autorização da operação, em território brasileiro, dos satélites da Starlink.
Em tese, a agência reguladora é “administrativamente independente” da gestão federal. No entanto, os documentos obtidos via LAI, com as correspondências entre o Executivo Federal e a empresa, evidenciam a atuação do governo brasileiro em prol da Starlink. Além disso, demonstram a participação do Departamento de Comércio da Embaixada dos Estados Unidos na tentativa de acelerar o processo de autorização da Anatel aos satélites da empresa de Elon Musk.
Bolsonaro desconversa e diz que visita de Elon Musk não é de negócios
Jair Bolsonaro ignorou os interesses empresariais do bilionário Elon Musk e afirmou nesta sexta-feira, após se encontrar com o dono da Tesla e da Starlink, que a visita do empresário é de cortesia, e não de negócios.
Bolsonaro ainda renovou afagos ao bilionário. “O que mais nos chamou a atenção foi sua preocupação com a Amazônia de verdade”, declarou o presidente, que chamou Musk de “mito da liberdade”. “Tanto é que quando você comprou o Twitter muita gente aqui no Brasil foi como se fosse um grito de independência”, acrescentou. “Nosso governo trabalhará para encarnar o seu espírito, da importância da liberdade de todos nós.”
Simpatizante do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, Elon Musk fechou um acordo para adquirir o Twitter em uma transação avaliada em US$ 44 bilhões. A operação, contudo, está suspensa. Musk já disse que reativará a conta de Trump no Twitter se obtiver o controle da plataforma.
Bolsonaro, que foi eleito com forte presença nas redes sociais em 2018, ainda disse que a “liberdade simbolizada pelo telefone celular” não pode ser calada e reiterou sua admiração pelo povo norte-americano. “Queremos democracia, queremos a liberdade, o respeito”, ressaltou ainda o presidente.
Redação ICL Economia
Com informações das agências e do Brasil de Fato