Bolsonaro usa presença de Elon Musk para atrair empresários, que se surpreendem com presença do presidente no encontro

Uma reportagem do Brasil de Fato, publicada em março deste ano, mostrou que o governo federal fez intensa pressão na Anatel pela autorização da operação, em território brasileiro, dos satélites da Starlink para monitorar Amazônia, trabalho que já é feito pelo Inpe
20 de maio de 2022

Empresários que participaram do evento promovido pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, no interior de São Paulo nesta sexta-feira (20), não contavam com a presença do presidente Jair Bolsonaro. Até a noite desta quinta (19), quando foram avisados de que Bolsonaro estaria presente, esperavam apenas a presença do bilionário Elon Musk, dono da Tesla e SpaceX.

O objetivo do encontro era discutir o pedido de Musk junto à Anatel para que sua rede de satélites (Starlink) se espalhe pelo Brasil, o que permitiria levar internet por essa plataforma à Amazônia, abrindo novas frentes de negócios na região.

De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, muitos empresários discutiram com seus assessores a possibilidade de cancelarem a ida ao evento sob o temor de que poderiam ser usados politicamente na promoção do presidente Bolsonaro, que disputa a reeleição.

Para eles, o risco seria de aparecerem aprovando o governo e a reeleição do presidente em um momento em que a disputa nem começou com pesquisas de intenção de voto mostrando a liderança do ex-presidente Lula (PT).

Já no convite do ministério enviado para órgãos do governo e para a agência reguladora do setor de telecomunicações, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), consta somente a presença de Bolsonaro, sem menção a Musk.

Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, a aproximação do governo com o bilionário, no entanto, constrange a Anatel, que também avalia a permissão para que outros gigantes concorrentes de Musk, como a Amazon, também atuem em território nacional.

Mais cedo, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse em sua conta no Twitter que Musk viria ao Brasil para discutir conectividade na Amazônia com autoridades do governo brasileiro.

Atualmente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao governo federal, monitora o desmatamento da floresta por satélites, incluindo alertas em tempo real. No passado, Bolsonaro questionou, sem apresentar evidências, a confiabilidade dos dados do Inpe, após o instituto apontar crescimento do desmatamento da Amazônia, gerando pressão internacional sobre seu governo.

Em sua fala, Bolsonaro não detalhou como Musk e suas empresas poderiam ajudar a combater a destruição da floresta, que tem registrado recordes recentes, mas disse que conta com o bilionário norte-americano para levar ao mundo o que ele afirmou ser a verdade sobre a Amazônia.

Ministério das Comunicações estaria pressionando Anatel

Uma reportagem do Brasil de Fato, publicada em março deste ano, mostrou que o governo federal fez intensa pressão na Anatel pela autorização da operação, em território brasileiro, dos satélites da Starlink.

Em tese, a agência reguladora é “administrativamente independente” da gestão federal. No entanto, os documentos obtidos via LAI, com as correspondências entre o Executivo Federal e a empresa, evidenciam a atuação do governo brasileiro em prol da Starlink. Além disso, demonstram a participação do Departamento de Comércio da Embaixada dos Estados Unidos na tentativa de acelerar o processo de autorização da Anatel aos satélites da empresa de Elon Musk.

Bolsonaro desconversa e diz que visita de Elon Musk não é de negócios

Jair Bolsonaro ignorou os interesses empresariais do bilionário Elon Musk e afirmou nesta sexta-feira, após se encontrar com o dono da Tesla e da Starlink, que a visita do empresário é de cortesia, e não de negócios.

Bolsonaro ainda renovou afagos ao bilionário. “O que mais nos chamou a atenção foi sua preocupação com a Amazônia de verdade”, declarou o presidente, que chamou Musk de “mito da liberdade”. “Tanto é que quando você comprou o Twitter muita gente aqui no Brasil foi como se fosse um grito de independência”, acrescentou. “Nosso governo trabalhará para encarnar o seu espírito, da importância da liberdade de todos nós.”

Simpatizante do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, Elon Musk fechou um acordo para adquirir o Twitter em uma transação avaliada em US$ 44 bilhões. A operação, contudo, está suspensa. Musk já disse que reativará a conta de Trump no Twitter se obtiver o controle da plataforma.

Bolsonaro, que foi eleito com forte presença nas redes sociais em 2018, ainda disse que a “liberdade simbolizada pelo telefone celular” não pode ser calada e reiterou sua admiração pelo povo norte-americano. “Queremos democracia, queremos a liberdade, o respeito”, ressaltou ainda o presidente.

Redação ICL Economia
Com informações das agências e do Brasil de Fato

 

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