Executivos da Petrobras e Federação Única dos Petroleiros (FUP) alertam para o risco iminente da falta de diesel no Brasil. Para a cúpula da estatal, o principal motivo seria a defasagem do valor do combustível em relação ao mercado internacional, com o governo segurando os preços de olho na reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Já a FUP destaca escassez de oferta no mercado internacional.
Os avisos da diretoria da Petrobras têm sido feitos desde o último ano, porém foram reforçados depois da decisão do governo Bolsonaro de demitir o presidente da estatal.
Antes de ser demitido, o presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, havia alertado o Ministério de Minas e Energia sobre a possibilidade de falta de diesel. O documento apresentado ao governo mostrava o cenário de desabastecimento do combustível em pleno auge da colheita da soja, o que teria impacto direto no Produto Interno Bruto (PIB).
“Sem sinalização de que os preços de mercado serão mantidos adiante, há um risco concreto de escassez de diesel no auge da demanda, durante a temporada de colheita, afetando o PIB do Brasil. (…) Os estoques globais de diesel estão bem abaixo da média histórica”, diz o documento. “A Petrobras sozinha não pode resolver a alta global nos preços de energia”, diz o documento.
Também a Federação Única dos Petroleiros (FUP) alerta que o Brasil corre o risco de desabastecimento de óleo diesel no início do segundo semestre deste ano, em função da prevista escassez de oferta no mercado internacional e do baixo nível dos estoques mundiais. Segundo a FUP, a dependência pelo produto importado revela o equívoco da política do governo Bolsonaro, que não criou novas refinarias, reduziu investimentos no setor do refino e decidiu vender unidades da Petrobras.
Apesar de ser autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil importa atualmente cerca de 25% de suas necessidades de diesel no mercado interno, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP), devido à baixa utilização das refinarias brasileiras e a não conclusão de obras importantes no setor.
Se o valor do diesel ficar mais caro lá fora do que no país, importadores deixarão de trazer o produto
A demanda brasileira pelo produto tende a aumentar a partir de junho/julho próximo com o aumento da safra agrícola, a maior circulação de caminhões e a esperada retomada do consumo no período pós pandemia da Covid-19. De acordo com o atual política de preços da Petrobras, se o preço lá fora fica mais caro do que no país, os importadores deixam de trazer o produto.
A saída para o governo evitar a falta de diesel seria a Petrobras bancar essa conta, importando o produto mais caro para vender mais barato no país.
Este mês, a Petrobras reajustou em 8,87% o preço do diesel nas refinarias. O preço médio do combustível para as distribuidoras passou de R$ 4,51 para R$ 4,91 o litro. Em um ano, o diesel subiu 52,53%.
Segundo a FUP, a troca de pessoas no comando da Petrobras não influenciará nos preços dos combustíveis. “Esse é mais um ataque de Bolsonaro à maior empresa do País. Mais um movimento eleitoreiro e desesperado do presidente para tentar se distanciar do preço dos combustíveis”, afirma em conta no Twitter.
Em vídeo divulgado nas redes sociais (Facebook), o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Chorão Caminhoneiro, avisa o presidente do Brasil que a categoria já está parando por não ter condições de rodar. “A classe pobre não tem condições de comer, chame a responsabilidade senão esse país vai estar parado e a responsabilidade é sua”, afirma Chorão.
Guerra eleva o risco da falta de diesel nos próximos meses
A guerra entre Rússia e Ucrânia afetou diretamente os estoques do insumo no mundo, fazendo com que grandes exportadoras enviassem o diesel para a Europa, devido às sanções impostas ao petróleo russo. O Brasil deixa para importar o combustível de setembro em junho. Normalmente a carga vem do México em duas ou três semanas.
Os estoques de diesel no Brasil são suficientes para atender a, no máximo, um mês da demanda doméstica, dizem os analistas do setor.
A Petrobras já tem buscado alternativas como fornecedores na África Ocidental ou na Índia, que demoram mais a chegar no país. Um carregamento da Índia, por exemplo, levaria 45 a 60 dias para desembarcar no Brasil.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e redes sociais