Não causa estranhamento que, no último domingo (25), o jornal Folha de S.Paulo tenha defendido, em editorial, as privatizações da Petrobras, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. Afinal, a grande mídia reza na cartilha neoliberal desde sempre e tem funcionado como porta-voz da “Faria Lima” em todas as ocasiões.
Nas palavras da publicação, o “trio de gigantes deve ser o próximo tabu a ser derrubado no bem-sucedido programa brasileiro de desestatização”. Quando o assunto é privatizar, a grande mídia enaltece os prós escondendo os contras. Vide o caso da Eletrobras, empresa de energia privatizada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que enfrenta, agora, um verdadeiro desmonte.
Outro exemplo é a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), uma empresa rentável que foi privatizada a toque de caixa pelo governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O editorial provocou a reação de membros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em seu perfil oficial no X (antigo Twitter), o secretário de Desenvolvimento Industrial, Uallace Moreira, rebateu as argumentações do editorial com declarações contundentes. “Lembra da crise de 2008/2009? Sabem quem salvou o Brasil? As operações dos bancos públicos: Banco do Brasil; Caixa Econômica e o BNDES”, destacou Moreira, lembrando que essas instituições foram cruciais para a recuperação do país em um dos momentos mais delicados da economia global recente.
Moreira enfatizou que os bancos públicos têm um papel contracíclico, essencial para estimular o crescimento econômico em tempos de crise. “Bancos públicos são contracíclicos e essenciais para estimular o crescimento econômico. Isso acontece no mundo inteiro, e não só no Brasil”, afirmou, destacando a importância dessas instituições no financiamento de políticas públicas que promovem o desenvolvimento de forma mais equilibrada e justa.
Sobre a Petrobras, Moreira foi igualmente enfático. Ele destacou que a estatal não é apenas uma produtora de petróleo e gás, mas também uma impulsionadora do investimento produtivo no país. “Quanto maior o investimento da Petrobras, maior a taxa de investimento total do Brasil”, pontuou. Além disso, ele lembrou que a Petrobras é a segunda maior exportadora do Brasil, gerando divisas e contribuindo significativamente para o acúmulo de reservas internacionais.
Ele ainda lembrou que, em 1999, o Goldman Sachs pedia a privatização da Petrobras, Caixa Econômica e Banco do Brasil. 2024, ou seja, o mesmo pedido do editorial da Folha. “Coincidência?”, escreveu.
Esther Dweck rebate editorial da Folha em defesa das privatizações
A ministra da Gestão e da Inovação, Esther Dweck, também não deixou o episódio passar em branco. No domingo (25), ela respondeu veementemente ao editorial, em algumas publicações em seu perfil oficial também na rede X.
“O editorial da Folha hoje desconhece o papel estratégico das estatais para a economia brasileira, incluindo setor financeiro e energético”, declarou a ministra, destacando que a defesa da privatização feita pelo jornal ignora o impacto social e econômico das estatais no desenvolvimento do Brasil.
Dweck enfatizou a relevância da Caixa Econômica Federal no financiamento habitacional, afirmando que “dois em cada três reais usados em crédito habitacional no Brasil, para todas as faixas de renda, vêm da Caixa Econômica Federal.”
Além disso, ela lembrou que o Banco do Brasil desempenha um papel vital no agronegócio e na agricultura familiar: “O Banco do Brasil é responsável por grande parte dos empréstimos que movem o agronegócio e a agricultura familiar no Brasil. Ambos bancos apresentaram resultados sólidos em seus balanços recentes.”
A ministra também ressaltou o papel crucial da Petrobras na segurança energética do país, afirmando que a empresa “ampliou em 2023 a sua produção e segue com solidez financeira mesmo com as oscilações do mercado internacional.”
Dweck ainda destacou a importância da estatal na transição energética: “Além de seguir garantindo autossuficiência brasileira em petróleo, sua capacidade de investimento e desenvolvimento tecnológico é fundamental para o Brasil ocupar um papel de vanguarda na transição mundial para a energia limpa.”
Respondendo ao argumento de que as estatais poderiam funcionar melhor sob controle privado, Dweck lembrou que “Banco do Brasil e Petrobras já são empresas de capital aberto. Ambas seguem regras de transparência e gestão para participação na Bolsa de Valores.” E sublinhou que as empresas públicas existem para implementar uma estratégia de desenvolvimento inclusivo e sustentável, afirmando que “as empresas públicas existem porque fazem parte de uma estratégia responsável de desenvolvimento inclusivo, sustentável e de longo prazo. É assim no Brasil e em economias como as da OCDE.”
Presidenta do PT também rebate
A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, também criticou o editorial, dizendo que o texto “escancara a cobiça privatista’ e “evidencia que o jornal está a serviço de poderosos interesses, mas não do Brasil”.
“As estatais brasileiras tiveram lucros somados de R$ 197 bi em 2023, dos quais R$ 49 bi foram para a União na forma de dividendos e participações. Petrobras, BB e Caixa foram responsáveis por R$ 170 bi desse lucro, e é justamente sobre estas três que a Folha, em seu editorial de capa, escancara a cobiça privatista no editorial desavergonhado deste domingo. Diante desses números, dizer que o conjunto das estatais seria “custosamente mantido” pelo Estado é mentira grosseira. Afirmar que as privatizações feitas pelos governos neoliberais foram “bem-sucedidas”, diante de descalabros com o serviço de energia de São Paulo ou de escândalos como o subfaturamento da Vale e da Eletrobras é menosprezar o bom-senso. O entreguismo da Folha evidencia que o jornal está a serviço de poderosos interesses, mas não do Brasil”, escreveu Gleisi no X, antigo Twitter.
Eduardo Moreira analisa editorial da Folha e mostra que mídia “dobra a aposta no sistema”
O economista e fundador do ICL, Eduardo Moreira, explicou no programa ICL Notícias de hoje (26) que países do mundo sofrem com as consequências das privatizações. “O mundo inteiro que privatizou e agora está reestatizando sabe que os programas de privatização não levaram o que prometeram às pessoas. Levram um lucro enorme para os acionistas e depois levaram um prejuízo enorme para os paíse que tiveram que recomprar suas empresas”.
Para Eduardo Moreira, o editorial é “propaganda da Folha de São Paulo para Bolsonaro”. “A mídia tenta vender a ideia de que a privatização é ir contra o atual sistema, mas, na verdade, é dobrar a aposta no sistema”.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e do Brasil 247