As lavouras de cana-de-açúcar do estado de São Paulo já somam prejuízo de R$ 500 milhões com os incêndios que se alastraram nos últimos dias, segundo dados da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil), divulgado ontem (28). Até a última terça-feira (27), as perdas eram estimadas em R$ 350 milhões.
As informações da Orplana, que foram publicadas no site g1, 80 mil hectares de canaviais do estado de SP foram afetados pelos incêndios. O foco queimou mais de 6 milhões de toneladas de cana que estavam em pé, o que corresponde a cerca de 1,5% da produção total do estado.
Ao g1, o presidente-executivo da Orplana, José Guilherme Nogueira, disse que parte da cana queimada em pé pode ser aproveitada na produção de açúcar e etanol, mas a colheita precisa ser feita com rapidez, pois após uma semana há risco de aparecimento de fungos e bactérias na planta.
Segundo ele, parte da rebrota atingida terá que ser replantada, o que vai gerar um custo para o produtor de R$ 13 mil por hectare.
Outra análise, feita pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e divulgada anteontem (27), mostra que mais de 80% dos incêndios que assolaram o estado de São Paulo nos últimos dias aconteceu em áreas de uso agropecuário e a intensa cortina de fumaça que tomou conta de dezenas de municípios se formou em apenas 90 minutos.
A onda de incêndios atingiu o interior de São Paulo no fim de semana, deixando 48 municípios da região em alerta máximo para queimadas. Duas pessoas morreram e mais de 800 tiveram que deixar as suas casas. Seis suspeitos tinham sido presos até ontem, acusados de provocar o incêndio.
Somente no estado de São Paulo, a estimativa é de que 3.837 propriedades rurais foram atingidas em 144 municípios, causando perdas de R$ 1 bilhão para a agricultura e pecuária. O fogo não só queimou a cana, como plantações de frutas e seringueiras e carbonizou animais de criação, como bois e vacas.
A Orplana disse que canaviais de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também foram atingidos pelos incêndios iniciados em São Paulo, mas os dados ainda estão sendo apurados.
Lavouras de cana-de-açúcar já sofriam com a estiagem. Queda da safra deve ser de 12%
Antes dos incêndios, a cana-de-açúcar já vinha sofrendo com a estiagem. Quando a safra de cana-de-açúcar começou, em abril, o setor estimava que o estado de SP colheria 420 milhões de toneladas, projeção que foi sendo frustrada pouco a pouco por causa da seca.
Hoje, a Orplana estima uma colheita de 370 milhões de toneladas, queda de 12% (de 50 milhões de toneladas) em relação à previsão inicial.
O presidente da Orplana disse ao g1 que a seca deixa a planta da cana mais fina, rachada e a “isoporiza”, reduzindo a sua quantidade de açúcar. “A cana acaba não ficando boa para a extração e, portanto, para a produção de açúcar e etanol”, explicou.
Embora o fogo tenha dizimado apenas 1,5% da produção total do estado, o problema é que o fogo também queimou rebrotas, o que vai reduzir a produtividade da próxima safra.
Cada planta de cana consegue rebrotar de cinco a seis vezes, o que significa que, com uma mesma planta, o produtor consegue ter de cinco a seis safras. Com as perdas provocadas pelo incêndio, portanto, alguns agricultores terão que replantar ou terão menos safras com o mesmo plantio, o que tende a aumentar os custos de produção.
Preços
Na segunda-feira passada (26), os contratos futuros do açúcar bruto na bolsa de Nova York subiram 3,5%, puxados pelos incêndios no Brasil, o maior produtor de cana do mundo.
“O incêndio foi o gatilho para alta de preços na bolsa de Nova York. Mas o mercado também está precificando a seca e a quebra que já estavam acontecendo. Não dá para colocar tudo na conta do incêndio. A questão é que o mercado ainda não estava precificando a seca”, pontuou o presidente da Orplana.
Na terça-feira (27), o açúcar renovou alta na bolsa de NY, fechando o dia com um avanço de 3,36%. Ontem, porém, os preços iniciaram trajetória de queda.
Redação ICL Economia
Com informações do g1