A fome no Brasil aumentou. A parcela de brasileiros que não têm dinheiro para alimentar a si ou à sua família subiu de 17% em 2014 para 36% no final de 2021. Os dados são do Gallup, que entrevistou cerca de 2 milhões de pessoas em 160 países, e foram analisados no Brasil pelo Centro de Políticas Sociais do FGV Social. Os números indicam recorde da série iniciada em 2006.
A taxa de insegurança alimentar na população brasileira dobrou a partir de 2014 e passou de 30% para 36% nos últimos dois anos, ou seja, durante a pandemia. É a primeira vez, dede 2006, que a insegurança alimentar brasileira supera a média simples mundial. Comparando a média simples de 120 países com o Brasil, antes e durante a pandemia da Covid-19, a insegurança alimentar aumentou 1,5% no mundo contra 6% no país, o que indica ineficácia de ações do governo no combate à fome e à pobreza.
Mulheres são mais afetadas pela fome no Brasil
De acordo com a pesquisa, a a fome no Brasil afeta mais mulheres, famílias pobres e pessoas entre 30 e 49 anos. Entre os 20% mais pobres brasileiros, 75% responderam afirmativamente se havia faltado dinheiro para a compra de alimentos nos últimos 12 meses. Já entre as mulheres, a taxa chegou a 47%; e a 45% para as pessoas com idades entre 30 e 49 anos — percentuais acima da média global.
As mulheres, principalmente aquelas entre 30 e 49 anos, onde o aumento foi maior, tendem a estar mais próximas das crianças e gerando consequências para o futuro do país, uma vez que subnutrição infantil deixa marcas físicas e mentais para toda vida.
Para Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais FGV Social, “a insegurança alimentar mais elevada nesses segmentos tem efeitos de longo prazo preocupantes por causa do maior número de crianças envolvidas e da desnutrição entre elas”.
Brasil volta a figurar no Mapa da Fome da ONU
O resultado desse contexto é o retorno do Brasil ao Mapa da Fome da ONU em níveis ainda mais alarmantes. O Brasil havia deixado essa condição em 2014, quando a proporção de pessoas em famílias com falta de dinheiro para alimentação era de 17%.
A situação das famílias brasileiras é ainda pior em 2022, dado que a inflação acumula alta de 12,2% em 12 meses, puxada principalmente pela disparada dos preços dos alimentos e o agravante do processo de precarização do emprego, que tem como consequência salários mais baixos.
A pesquisa refletiu o momento em que foi realizada, em que o auxílio emergencial foi pago a cerca de 39 milhões de famílias, com valores entre R$ 150 e R$ 375 mensais. Hoje, somente 17 milhões de famílias recebem R$ 400 mensais do Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família reformulado.
Brasil vive momento de regressão com Bolsonaro
O sociólogo Jessé Souza, em comentário no ICL Notícias, afirmou que o aumento da insegurança alimentar no Brasil é extremamente expressivo sob qualquer ponto de vista. “A gente nota de várias maneiras, no meio rural, mas especialmente nas grandes cidades. Quem sai na rua nota o aumento da fome, do desespero, da pobreza, cada vez mais gente nas ruas”. Ele enfatizou que o país vive uma “regressão, não só moral, política, social, de como as pessoas se comportam com as outras, mas também econômica, com esse neoliberalismo misturado com fascismo turbinado de Bolsonaro”.
Jessé ainda ressaltou que a questão mais importante nas próximas eleições de outubro não é a pauta de costumes, “construindo ódios artificiais”, mas, sim, a centralidade do debate e uma visão pragmática que dê respostas a “como podemos criar uma sociedade mais humana”. “É importante que haja uma discussão e um debate público sobre que tipo de país a gente quer construir”, acrescentou.
Redação ICL Economia
Com informações das agências