O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidirá, até o fim desta semana, se vai adotar ou não o horário de verão. A volta da medida está em estudo devido à seca severa pela qual atravessa o Brasil, com reflexos nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, maior fonte da energia elétrica no país.
Além disso, o calor aumenta o uso de eletrodomésticos como o ar-condicionado e, consequentemente, eleva o consumo de energia.
Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que o horário de verão ajuda a impulsionar a economia, além de dar suporte ao sistema elétrico em um “momento realmente crítico” na geração causado pela seca.
“É aquele horário que o cidadão vai para casa, liga o ar-condicionado, liga o ventilador. Ele vai tomar banho, vai tomar todo mundo quase que junto, abre a televisão para assistir um jornal, para poder assistir um filme, e naquele horário nós temos um grande pico, e é exatamente no momento onde nós estamos perdendo as energias intermitentes”, disse.
O horário de verão foi extinto em 2019, no primeiro ano do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sob a alegação de que a economia de energia era baixa e não justificava a adoção da medida.
Na ocasião, o governo afirmou que o adiantamento dos relógios em uma hora perdeu “razão de ser aplicado sob o ponto de vista do setor elétrico”, por conta de mudanças no padrão de consumo de energia e de avanços tecnológicos, que alteraram o pico de consumo de energia. Mesmo com a crise hídrica de 2021 não houve retorno da medida.
A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o ONS (Operador Nacional do Sistema) vão apresentar nos próximos dias um estudo sobre o horário de verão nas atuais circunstâncias.
A decisão final, no entanto, caberá ao presidente Lula, com base em decisão não só técnica, mas também política, já que o horário de verão mexe com a rotina da sociedade.
Entenda os efeitos positivos e negativos do horário de verão
Efeitos negativos:
- Pouca economia de energia: estudos já mostraram que o, do ponto de vista da economia, o horário de verão não tem razão de ser. Ao site g1, Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende BR (observatório do setor elétrico no Brasil) estima que a economia chega a apenas 0,5%, pois os hábitos da população mudaram ao longo das últimas décadas. Além disso, aparelhos de ar-condicionado e ventiladores ficam ligados praticamente o dia inteiro quando faz calor, e o pico do uso de energia é no meio da tarde, e não mais no início da noite, período que poderia ter influência do horário de verão.
- Impactos no corpo humano: especialistas também lembram que há um impacto nos ciclo circadiano do corpo humano, que é o ritmo natural do próprio corpo e tem duração de 24 horas do dia, regulando as principais atividades e processos biológicos. Com o relógio adiantado em uma hora, não só anoitece mais tarde, como também demora um pouco mais para amanhecer em relação ao horário normal. Essa mudança é prejudicial, por exemplo, aos trabalhadores que acordam cedo, que saem de casa ainda escuro. Também representam risco à segurança, já que a rua, no escuro, tende a ser menos segura.
Efeitos positivos:
- Ajuda ao sistema elétrico em horário crítico: embora economize pouca energia, a medida ajuda o sistema elétrico nacional em um momento crítico, que é o início da noite. A explicação é que, quando anoitece, algumas usinas que compõem o sistema do país junto com as hidrelétricas (eólicas e solares) geram menos energia. No intervalo entre a queda da solar e o aumento da eólica, há um pico de consumo que precisa ser suprido por energia hidrelétrica ou térmica. Essas últimas, mais caras e poluentes, podem ser acionadas quando as hidrelétricas têm seu funcionamento prejudicado. Nesse contexto, o horário de verão pode dar uma pequena ajuda e um alívio ao sistema elétrico. Ou seja, como o pico de consumo de energia costuma ocorrer no início da noite, então adotar o horário de verão pode ter o efeito de deslocar o pico de consumo.
- Setor de bares e restaurantes: para o setor de bares e restaurantes, o horário de verão é uma maneira de dinamizar suas atividades, pois “prolonga” a luz do dia. Além disso, defensores do horário argumentam que a iluminação natural na volta para casa dá maior sensação de segurança e as cidades se tornam mais pulsantes.
No Brasil, o horário de verão foi instituído durante a gestão de Getúlio Vargas, em 1931 e 1932, mas só passou a ser adotado sem interrupções a partir de 1985, com o fim da ditadura militar. Ao longo do tempo, ocorreram alterações sobre os estados e as regiões que o adotaram.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do g1