Um estudo divulgado pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostra que os brasileiros já gastaram mais de R$ 68 bilhões em jogos on-line e ao menos 1,3 milhão estão inadimplentes (clique aqui para acessar o estudo).
Entre junho de 2023 e junho de 2024, os consumidores gastaram cerca de R$ 68,2 bilhões em apostas, o que representa 0,62% do PIB (Produto Interno Bruto) e 22% da massa salarial.
A CNC avalia que o aumento significativo dos gastos dos brasileiros com apostas on-line “poderá produzir impactos relevantes sobre o nível de inadimplência das famílias”.
A entidade projeta que:
- Cada um ponto percentual no fluxo de gastos com apostas implica em um avanço de 0,118 ponto percentual na quantidade de famílias com contas em atraso.
- O avanço de 257% no fluxo desses recursos, em relação ao fim de 2022, deve ocasionar aumento de 3,9% na quantidade de famílias impactadas, um adicional de mais de 191 mil famílias entrando na inadimplência.
“As 191 mil famílias correspondem à projeção para novos inadimplentes, o que daria algo próximo a mais 600 mil brasileiros em situação de inadimplência até o final do ano”, disse Felipe Tavares, economista-chefe da CNC. “O público jovem e de baixa renda é o mais impactado. As apostas, que inicialmente parecem uma forma de entretenimento, acabam comprometendo uma parte considerável do orçamento, resultando na inadimplência e na redução do consumo de bens essenciais”, complementou.
Outro ponto que chama a atenção no estudo da CNC é o grau de confiança nas casas de jogos on-line: 70% dizem confiar ou confiar plenamente nelas.
O ICL (Instituto Conhecimento Liberta) saiu na frente a lançou uma campanha com a hashtag #ApostasMatam para denunciar esse que já se tornou um problema de saúde pública no Brasil. Outras pesquisas, realizadas até mesmo por grandes instituições financeiras, têm mostrado que brasileiros, especialmente jovens e das classes mais pobres, estão até mesmo deixando de comprar itens de necessidades básicas para apostar. Além disso, muitos têm se endividado no cartão de crédito.
“As apostas têm viciado e destruído vidas de crianças de até seis anos de idade e, infelizmente, vários influenciadores, que muitos têm como exemplos e ídolos, têm emprestado seu nome para divulgar essa doença que tomou conta do país e tem destruído muitas vidas, principalmente das pessoas mais pobres”, comentou o economista Eduardo Moreira, fundador do ICL.
Na quinta-feira passada (19), o ICL lança o documentário “Bets: Apostas Online – O Jogo Sujo que Ninguém Comenta”, com alertas sobre o perigo das apostas.
Setores econômicos lançam manifesto contra jogos on-line
O governo antecipou para outubro o bloqueio das empresas que não se regularizaram para operam no mercado de apostas on-line. O Ministério da Fazenda publicou uma portaria, na terça-feira passada, que dá prazo até 1º de outubro para bloquear o funcionamento dessas empresas.
Segundo o ministro Fernando Haddad (Fazenda), a medida faz parte de um enfrentamento do governo à “dependência psicológica dos jogos” no país.
As empresas de apostas de quota fixa que ainda não pediram autorização para funcionar terão suas atividades suspensas a partir de 1º de outubro. Anteriormente, isso só aconteceria em janeiro de 2025, mas o governo decidiu antecipar devido ao que vem sendo chamada de “pandemia” das bets no país.
A portaria publicada define que apenas empresas que solicitaram autorização de funcionamento ao governo e já estão atuando poderão funcionar a partir do próximo mês e até o fim de dezembro.
Após a medida do governo, 15 entidades empresariais do varejo e consumo divulgaram, na quinta-feira passada (19), um manifesto alertando para riscos associados ao crescimento dos gastos dos consumidores em geral com os jogos.
De acordo com reportagem do jornal O Globo, o setor de bares e restaurantes, lojas de moda e redes de franquias têm sentido seus negócios sendo afetados, o que é comprovado por algumas pesquisas que mostram que os brasileiros estão deixando de comprar até mesmo itens de necessidades básicas para apostar.
O estudo da CNC calcula que, só no primeiro semestre, os jogos on-line tiraram R$ 1,1 bilhão do consumo no varejo. A projeção, levando em conta o “elevado comprometimento de renda das famílias” com os jogos, é de um potencial de reduzir em até 11,2% a atividade varejista, diminuindo em R$ 117 bilhões o faturamento do setor por ano.
A oferta de sites de apostas esportivas é liberada no Brasil desde 2018, após lei aprovada no governo Michel Temer (MDB). O governo de Jair Bolsonaro (PL) teve quatro anos para regulamentar o mercado, mas não o fez. O governo Lula se dedicou à regulamentação, que teve início em 2023, com a edição inicial de uma medida provisória.
Esse vácuo da regulamentação fez com que vários sites internacionais aproveitassem para atuar no país, tornando o Brasil um dos líderes desse mercado.
Redação ICL Economia
Com informações da CNC