Moradores de favelas gastam R$ 37 bi com ‘bets’ em 12 meses; 7 em cada 10 moradores dizem apostar

Comércio das comunidades já sente o efeito negativo das 'bets'.
7 de outubro de 2024

Estudo realizado pelo instituto de pesquisas Favela Diz mostra que 70% dos moradores de favelas são adeptos das apostas on-line, as chamadas bets, com consequências para o comércio dessas localidades.

O instituto entrevistou 1.352 moradores de comunidades brasileiras no mês de setembro. A maioria dos entrevistados para a pesquisa “Casas de apostas bets nas favelas do Brasil” é adepta principalmente das apostas esportivas on-line. Nesse grupo, quase metade joga diariamente.

A maior parte dos apostadores está na faixa etária de 18 a 34 anos (86,5%). “Se um jovem já tem a tendência natural de se viciar em jogos, esse risco aumenta consideravelmente com dinheiro envolvido”, disse Marx Rodrigues, CEO do Favela Diz, a reportagem do UOL.

Os dados coletados mostram que os moradores dessas comunidades gastaram mais de R$ 37 bilhões nos últimos doze meses, com uma média de R$ 3,1 bilhões por mês. A margem de erro da pesquisa é de 2,1%.

O CEO da Favela Diz explicou que o marketing da jogatina é direcionado principalmente aos mais suscetíveis. “Pegam um público com grau de instrução mais baixo, majoritariamente mais imediatista e com dificuldade de se controlar. São pessoas que já acompanham esse fenômeno da ostentação e da exposição de riquezas e felicidade nas redes sociais, e que também buscam isso”, afirma Marx Rodrigues, do Favela Diz.

Bets trazem consequências negativas ao comércio das comunidades

O comércio das favelas já está sentido o baque da jogatina comendo solta nessas localidades. Segundo a pesquisa, mais de 53,5% dos moradores afirmam que estão comprando menos em lojas locais por conta das apostas.

Além disso, 24,2% relataram que estão frequentando menos restaurantes e bares, e 61,1% acreditam que as apostas on-line estão contribuindo para o fechamento de comércios locais.

Pequenos empresários, que dependem da clientela local, enfrentam uma queda drástica nas vendas. Em vez de comprarem, moradores estão direcionando os recursos para apostas, com gastos médios mensais entre R$ 101 e R$ 500, com uma parcela, inclusive, apostando mais de R$ 500.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está regularizando esse mercado e prevê o fechamento de até 2 mil sites que não se regularizaram.

Ontem (6), o presidente Lula chegou a admitir, pela primeira vez, que pode encerrar a liberação desse tipo de aposta, caso a regulamentação desse mercado não obtenha resultado para controlar os gastos excessivos e o endividamento da população. “Estamos fazendo uma regulação. Ainda no mês de outubro vamos tirar 2 mil sites de apostas neste país e depois vamos ver o que a regulação vai garantir de benefícios, de certeza de que a coisa está sendo feita com seriedade”, disse Lula ontem, em entrevista depois de votar, em São Bernardo do Campo (SP).

Saúde mental

As bets já viraram caso de saúde pública no Brasil, e o ICL (Instituto Conhecimento Liberta) saiu na frente para denunciar o problema.

A dependência em jogos de azar é classificada como um transtorno mental pela OMS (Organização Mundial da Saúde), e estudos apontam que indivíduos viciados em apostas têm mais chances de desenvolver depressão, ansiedade e até comportamentos suicidas.

O aumento no número de pessoas buscando tratamento para vícios em apostas levou à sobrecarga de serviços de apoio, como os Caps (Centros de Atenção Psicossocial).

Redação ICL Economia
Com informações do UOL

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