Nobel de economia: ‘Desigualdade na AL tem raiz no colonialismo, exploração dos povos indígenas e na escravidão’

Um dos laureados com a premiação, James A. Robinson, vê melhorias nos níveis de pobreza na China, mas o mesmo não aconteceu como a África Subsaariana e a América Latina.
22 de outubro de 2024

Um dos economistas laureados com o prêmio Nobel de Economia de 2024, o professor da Universidade de Chicago James A. Robinson passou três décadas estudante o tema da desigualdade, com foco em suas origens. “A nossa pesquisa mostra que a pobreza e a desigualdade na América Latina estão profundamente enraizadas no colonialismo, na exploração dos povos indígenas e na existência da escravidão”, disse, referindo-se ao trabalho desenvolvido ao lado de Daron Acemoglu e Simon Johnson, com os quais dividiu o prêmio.

Ele é professor de estudos de conflitos globais e diretor do Instituto Pearson para o Estudo e Resolução de Conflitos Globais da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos e se destacou por sua influente pesquisa sobre a relação entre o poder político, as instituições e a prosperidade.

Ao lado de Acemoglu e Johnson, elaborou estudos empíricos e teóricos para entender as disparidades na prosperidade entre as nações e sua análise da desigualdade. As regiões da África Subsaariana e América Latina estão no foco dos estudos do economista de 64 anos.

Em entrevista à BBC News Mundo, o coautor de livros como “Origens Econômicas da Ditadura e da Democracia”, “Por que as nações fracassam: As origens do poder, da prosperidade e da pobreza” e “O corredor estreito: Estados, sociedades e o destino da liberdade”, disse que busca entender como surgiu historicamente a diferença entre as nações que prosperam e aquelas que permanecem pobres, e suas consequências para o bem-estar humano. “Especificamente, tentamos entender como as instituições estabelecem as regras que influenciam a prosperidade e a pobreza em diferentes sociedades”, explicou.

Na avaliação dele, houve grandes melhorias nos níveis de pobreza em algumas partes do mundo, “como a China”. Contudo, o mesmo não aconteceu como a África Subsaariana e a América Latina. “E, em países como os Estados Unidos, vemos ameaças à inclusão social e à prosperidade. Ainda há enormes desafios para a criação de sociedades mais inclusivas, prósperas e democráticas no mundo”, enfatizou.

Desafios da desigualdade na América Latina

Robinson trabalhou alguns anos em países como Chile, Colômbia e Bolívia. Na região, destaca que as raízes da desigualdade estão profundamente entrelaçadas no colonialismo, exploração dos povos indígenas e escravidão.

“Essas desigualdades se autorreproduzem de várias maneiras atualmente. A América Latina tem grandes problemas de inclusão, marginalização e exploração. É por isso que é pobre, e ainda está tentando encontrar uma saída”, disse.

O trabalho que levou Robinson e seus colegas a ganharem o Nobel aborda os impactos da colonização europeia no mundo e como as instituições nessas sociedades sofreram alterações a partir desse processo.

Enquanto em algumas regiões as instituições estabeleceram os fundamentos para sistemas políticos e econômicos inclusivos, em muitos outros lugares o objetivo era explorar a população indígena. Portanto, a análise classifica as instituições em “inclusivas” e “extrativas”. Esse processo acabou gerando uma “reversão de riqueza”.

Dos países da América Latina, o economista vê progressos no Chile nas últimas décadas, “desde o colapso da ditadura”. “Podemos pensar na Costa Rica ou em países como a Bolívia no sentido da ascensão dos povos indígenas”, frisou.

Porém, outros países da região seguem na direção oposta, segundo ele. Neste caso, entre os exemplos citados estão Venezuela e Argentina, “que seguem padrões complicados”,  e a Nicarágua, com a “consolidação de uma autocracia no país”.

Democracia

Robinson aponta que a democracia é um sistema relativamente novo na América Latina. “Pense na América Central, que só conseguiu criar sistemas mais democráticos a partir da década de 1990”, lembrou.

“Um dos problemas é que foram feitas muitas promessas às pessoas na América Latina sobre a democracia, prometeram a elas que seus problemas acabariam e, obviamente, isso não era verdade. A democracia tem sido decepcionante na América Latina, as pessoas se desesperam e buscam outras soluções”, pontuou.

Segundo ele, criar instituições democráticas que trabalhem para mudar a vida das pessoas leva tempo.

Mas cita como exemplo as eleições colombianas, um dos processos mais democráticos que levou o presidente Gustavo Petro ao poder. “Mas não é fácil, há muitos desafios pela frente”, pontuou.

O caminho para criar países mais democráticos e, portanto, menos desiguais, passada pela construção de instituições políticas e econômicas mais inclusivas. “Este é o problema na América Latina, na África Subsaariana, nos Estados Unidos e em muitos outros lugares. Ainda há muitos elementos do que chamamos de instituições extrativistas, em vez de instituições inclusivas. Nos Estados Unidos, persistem os altos níveis de pobreza, um grande aumento na desigualdade e um declínio na mobilidade social. Eu moro em Chicago, e você vê isso todos os dias. Portanto, trata-se de incluir as pessoas e dar a elas oportunidades na esfera política e econômica”, disse.

Redação ICL Economia
Com informações da BBC News Mundo

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