Sob Lula, volume de recursos destinado pelo BNDES à indústria já supera o do agronegócio

No acumulado de janeiro a setembro, o setor contou com 27% de todo o crédito aprovado pelo BNDES, ante 26% da agropecuária.
4 de novembro de 2024

O volume de empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao setor industrial subiu no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e já é o maior em relação ao total acumulado em oito anos. De janeiro a setembro, o montante liberado para o segmento já supera o destinado ao agronegócio, algo inédito em oito anos.

No acumulado de janeiro a setembro, o setor industrial contou com 27% de todo o crédito aprovado pelo BNDES, ante 26% da agropecuária. No mesmo período do ano passado, a ordem foi inversa. O campo ficou com 31% e as fábricas, com 18%.

Nos últimos 12 meses até junho (último período com dados completos consolidados), foram aprovados R$ 208 bilhões aos diferentes setores. O valor representa o dobro do verificado dois anos antes (a preços constantes).

O aumento de recursos ao setor industrial ocorre em meio a uma série de iniciativas importantes do governo Lula 3 para retomada do setor, sendo o principal deles o Nova Indústria Brasil, lançado em janeiro deste ano, que deve gerar R$ 20 bilhões em investimentos.

O próprio presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, chegou a defender o programa, dizendo que o país precisa “enfrentar o complexo de vira-lata”. “Temos que proteger o mercado. Senão, não tem industrialização como o mundo está vendo”, defendeu. “Temos de enfrentar o complexo de vira-lata”, complementou.

Na semana passada, em evento no Palácio do Planalto, Mercadante, destacou o momento de aumento de investimentos do setor. “Depois de muito tempo, presidente [Lula], é a primeira vez que a indústria lidera o crescimento nesse último trimestre. E o investimento lidera o crescimento”, disse.

A indústria foi um dos setores responsáveis por ajudar o país a registrar taxa de desemprego de 6,4% no trimestre encerrado em setembro, a segunda menor da série histórica da PNAD Contínua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, iniciada em 2012.

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o Nova Indústria Brasil fez com que mais empresas demandassem recursos do BNDES. A demanda dobrou neste ano, na comparação com um ano antes.

BNDES: “indústria foi totalmente deixada de lado em governos anteriores”

À reportagem da Folha, José Luis Pinho Leite Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, disse que a instituição está em processo de gradual retomada do apoio ao setor após os números observados nos últimos governos.

“Nos anos anteriores aos do governo do presidente Lula, a indústria foi totalmente deixada de lado. O BNDES deixou de apoiar o setor industrial no sentido não só de financiamento, porque diminuiu muito, mas também deixou de ter uma diretoria que olhava para a indústria”, afirmou.

“Estamos nos reaproximando do setor industrial sem deixar de apoiar os outros. Não queremos deixar de apoiar o agro nem a infraestrutura”, disse. “O agro também demanda máquinas e equipamentos do setor industrial. Não queremos deixar de apoiar isso”, completou.

Lembrando que o setor do agronegócio ainda é bastante próximo ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Lula buscou, por vários meios, uma proximidade com o segmento.

Tanto que, no ano passado, uma das primeiras medidas do presidente foi anunciar um volume recorde de recursos para o Plano Safra 2023/2024, no valor de R$ 364,22 bilhões.

Apesar do aumento do volume de recursos do BNDES à indústria, o montante está longe do que foi no passado. Em meados dos anos 1990, por exemplo, a indústria liderava as aprovações e chegou a obter mais de 50% dos recursos concedidos pela instituição (ao longo dos anos, a infraestrutura passou a ser a campeã).

“Você não sai do nada e volta ao que era lá em 2010, no governo Lula, que era 40% [de aprovação para a indústria]. Você vai caminhar aos pouquinhos. E é isso que nós estamos fazendo”, disse Gordon.

Entre os segmentos dentro da indústria que receberam mais recursos estão:

  • Alimentos e bebidas: 25% do total à indústria;
  • Mecânica: 18%;
  • Química e petroquímica: 12%; e
  • Transportes (12%) lideram as aprovações no setor.

CNI

“O BNDES tinha se fechado bastante para todos os setores e as aprovações tinham caído muito. É um momento de inflexão importante, com demanda maior, um mercado de trabalho crescendo e concessões de crédito avançando. As aprovações para a indústria cresceram significativamente em 2023 e estão crescendo neste ano em relação ao mesmo período do ano passado”, disse Mário Sérgio Telles, superintendente de Economia da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

No entanto, ele comentou que a condição geral do setor, como problema tributário, custos de energia e de infraestrutura, além do financiamento do crédito, estão longe do ideal. “Não é um momento espetacular. Longe disso”, afirmou.

Ainda assim, dados compilados pela CNI mostram que produção, faturamento, emprego e intenção de investimento na indústria cresceram nos últimos meses. A utilização da capacidade instalada, por outro lado, mostra uma melhora em agosto ainda com margem de elevação sem pressão nos preços.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

 

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.