Falta de mão de obra qualificada no Brasil desafia setores econômicos

Setores estão aumentando salários, investindo em treinamento e adotando rodízio de equipes, por exemplo, para lidarem com a falta de mão de obra qualificada.
5 de novembro de 2024

Com o aquecimento do mercado de trabalho brasileiro, um problema tem afetado alguns setores econômicos: a falta de mão de obra qualificada. Esse tema, aliás, foi debatido na reunião do B20, braço empresarial do G20, realizada no fim de outubro em São Paulo.

Na ocasião, a empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, cobrou do empresariado um papel mais efetivo no combate às desigualdades. “Gostaria que saíssemos desse B20 sem o mundo das teorias, sem o mundo de diagnóstico, e no mundo de fazer acontecer. A gente sabe tudo o que tem de fazer. Todo mundo aqui falou que só a união entre o governo, sociedade, empresários vão fazer isso dar certo, só que a gente não consegue fazer isso no mundo”, afirmou Trajano. “Temos de partir para fazer acontecer. O diagnóstico todo mundo sabe: que os empregos vão mudar”, disse a presidente do conselho de administração da rede varejista.

Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que o Brasil abriu 247.818 vagas formais em setembro, com saldo positivo em todos os estados.

O cadastro considera apenas vagas formais e mostra que o setor de serviços liderou essa abertura de oportunidades, com 128,4 mil postos, seguido pela indústria (59,8 mil), comércio (44,6 mil) e construção (17 mil). A agropecuária perdeu 2.000 postos.

Porém, uma sondagem feita pela FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que a construção civil é um dos primeiros a sentir os efeitos da falta de trabalhadores capacitados.

Em setembro deste ano, 29,4% dos empresários da construção apontaram escassez de mão de obra qualificada como fator que limita o desenvolvimento de negócios. Esse é o patamar mais alto desde o fim de 2014.

Problema de mão de obra qualificada ganhou relevância no ano passado

“Desde o ano passado, a falta de mão de obra qualificada voltou a ganhar relevância e se manteve como limitação para as empresas”, disse Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV Ibre.

“O período até 2013 foi de grande crescimento do setor imobiliário, com Minha Casa, Minha Vida, obras da Copa e das Olimpíadas. Era uma economia que estava crescendo. Agora, o ritmo é mais lento, mas as preocupações do setor começam a crescer.”

Os anos pré-crise de 2014 a 2016 foram de aquecimento do mercado imobiliário. À época, era noticiada oferta de vagas para engenheiros recém-formados, a vinda de profissionais de outros países e aumentos salariais para toda a cadeia da construção.

Em julho deste ano, o FGV Ibre perguntou ao setor o que as empresas estavam fazendo para contornar a dificuldade de contratação. No total, 33,1% disseram ter aumentado a remuneração, 51,5% investiram em treinamento e 46% adotaram rodízio de equipes, deslocaram trabalhadores entre obras, por exemplo.

O setor calçadista também tem enfrentado problemas com mão de obra qualificada. À reportagem da Folha de S.Paulo, a Kidy, empresa que enfrentou período crítico durante a pandemia, disse que optou por renovar cargos, deixando-os mais atrativos para que os funcionários mais novos permaneçam na empresa e busquem posições internas, além de contar com um programa de capacitação do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

Dados da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) a partir do Caged mostram que o setor encerrou agosto com saldo positivo de 12,4 mil postos.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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