O mês de junho começou com diversos alertas de analistas e instituições importantes, como Banco Mundial e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para a forte desaceleração global e até mesmo de recessão em alguns países. Os alertas resultam de diferentes fatores, como a aceleração de alta de juros com a inflação persistente nos países desenvolvidos e lockdowns ameaçando o ritmo de crescimento da economia chinesa mais uma vez. Neste cenário, em uma semana, de 7 a 13 de junho, o Ibovespa teve uma baixa de 6,9%, saindo da casa de 110 mil pontos para 102 mil, enquanto o dólar saltou 6,6%, indo de R$ 4,80 para R$ 5,11, no mesmo período, refletindo o cenário de maior aversão ao risco.
Primeiro, veio a demonstração de preocupação do Banco Central Europeu (BCE) com a inflação. Depois, a divulgação dos dados de inflação nos Estados Unidos e, novamente, restrições na China com os surtos de Covid-19. Todos esses acontecimentos somaram-se às incertezas internas no Brasil, com o governo disposto a zerar o imposto sobre os combustíveis.
Apesar da manutenção, o BCE deixou claro em seu comunicado o compromisso de elevar as taxas em julho e também em setembro, sinalizando que depois disso um ritmo “gradual mas sustentado de altas de juros será apropriado”. O comunicado do BCE já começa afirmando que “a inflação elevada é um grande desafio para todos nós” e reafirma a intenção de levá-la de volta à meta de 2%.
Em maio, a inflação “subiu de modo significativo”, aponta o texto, citando sobretudo os preços de energia e alimentos como responsáveis, diante dos impactos da guerra da Rússia na Ucrânia. “Mas as pressões inflacionárias têm se disseminado e intensificado, com preços de muitos bens e serviços aumentando fortemente”, diz o BCE, que elevou projeções para a inflação neste ano, em 2023 e 2024 e cortou as do PIB da zona do euro neste ano e no próximo.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) divulgado na sexta-feira passada nos Estados Unidos mostrou um salto maior nos preços em maio do que as autoridades previam. Com isso, alguns analistas de Wall Street disseram na sexta-feira, após a divulgação dos dados de inflação, que esperavam que o Fed aumentasse as taxas em 0,75% nesta semana.
Na China, novos surtos de Covid-19 no gigante asiático reviveram os temores de que os lockdowns reduzam a demanda no maior produtor de aço do mundo. Um teste em massa também foi anunciado no centro comercial de Xangai, após um recente lockdown de dois meses, enquanto um surto foi detectado na Mongólia Interior, importante região produtora de carvão metalúrgico, que é um insumo da produção de aço.
O noticiário impactou fortemente o mercado de minério na véspera, com o contrato do minério para julho em baixa de cerca de 3% na segunda-feira na Bolsa de Cingapura. Já nesta terça, as esperanças de medidas políticas para apoiar uma economia doméstica em dificuldades ajudaram a reduzir as perdas e o minério recuou menos, 0,4%, no mercado futuro, mas os riscos continuam.
“O risco de novos lockdowns permanece alto enquanto a abordagem dinâmica de zero Covid-19 permanece em vigor”, disse a Fitch Ratings em comunicado. A Fitch cortou sua previsão de crescimento econômico para a China este ano de 4,8% para 3,7%, para refletir o impacto na atividade das recentes medidas de lockdown, na sequência de diversas revisões para baixo para a atividade econômica chinesa.
Segundo o ex-secretário do Tesouro e consultor econômico de governos democratas, Larry Summers, em entrevista ao programa State of the Union, da CNN, os Estados Unidos precisam estar preparados para o risco de recessão com a inflação no país no maior nível desde dezembro de 1981.
“Acho que, quando a inflação está tão alta e o desemprego tão baixo quanto agora, quase sempre isso é seguido dentro de dois anos por recessão. Eu olho para o que está acontecendo nos mercados de ações e títulos, para onde está o sentimento do consumidor e acho que certamente há um risco de recessão no próximo ano e acho que, dado onde chegamos, é mais provável do que não que tenhamos uma recessão dentro dos próximos dois anos”, afirmou.
Há muitas discussões sobre se uma recessão iminente ocorrerá nos EUA, mas os temores de pelo menos uma forte desaceleração econômica aumentam com a maior força da inflação e necessidade de uma alta de juros mais intensa, que pode afetar a atividade econômica.
Fatores internos no Brasil somam-se ao acontecimentos externos de desaceleração global, ampliando riscos
No Brasil, a mais recente preocupação é em relação ao Projeto de Lei Complementar (PLP) 18/2022, sobre o novo limite de alíquota de Imposto sobre Circulação de Bens e Serviços (ICMS) para itens como combustíveis, gás de cozinha, energia elétrica, telecomunicações e transporte coletivo, que agora passam a ser classificados como essenciais segundo o Código Tributário Nacional.
O projeto tem sido tratado com urgência no Congresso, a pedido do Executivo, e é considerado a principal ferramenta para combater as altas nos combustíveis e inflação no geral. Já aprovada, anteriormente, na Câmara dos Deputados, a matéria volta à Casa por conta das modificações realizadas pelos senadores. Estima-se, até agora, um impacto fiscal de cerca de R$ 20 bilhões em desonerações, além das perdas arrecadatórias nos estados – que variam de R$ 25 a R$ 40 bilhões a depender do cálculo utilizado.
Alguns cálculos preliminares, por exemplo, referentes à nova regra de compensação envolvendo o IPCA na apuração da diferença, apontam que haverá mais R$ 30 bilhões em impacto fiscal.
Este cenário marca a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) desta quarta-feira (15), que deve elevar a Selic (a taxa básica de juros) em 0,50 ponto porcentual – de 12,75% para 13,25% ao ano. Na avaliação de boa parte dos integrantes do mercado, o colegiado ainda não deve indicar uma data para o encerramento do ciclo de aperto monetário com o balanço de riscos maior.
Em tese, a redução temporária de impostos incidentes sobre os combustíveis poderia atrapalhar ainda mais a tarefa do BC de levar a inflação para a meta, com um possível efeito “rebote” aumentando as chances de um terceiro ano consecutivo de rompimento da meta em 2023.
Redação ICL Economia
Com informações da Infomoney