Em 2021, o brasileiro teve a menor renda dos últimos nove anos, início da série histórica

Mulheres, principalmente, as pretas e pardas, jovens e com baixa instrução, continuam com a menor renda diante dos estratos sociais mais privilegiados
17 de junho de 2022

O ano de 2021 marca a menor renda média real do trabalhador brasileiro desde o início da série histórica, em 2012, segundo relatório especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O rendimento médio real do trabalhador brasileiro apresentou diferenças a partir de estratos, como cor, gênero, instrução e nível de escolaridade. Mulheres, principalmente, as pretas e pardas, jovens e com baixa instrução, continuam com a menor renda diante dos estratos sociais mais privilegiados. Os dados mostram o retrato atual do Brasil, ruim para todos, mas pior para uma significativa parcela da população que tem hoje menor renda. 

“A queda do rendimento médio real do trabalhador brasileiro ocorreu justamente a partir da elevação inflacionária e do desemprego, reduzindo a capacidade de melhores negociações, ao mesmo tempo em que o poder de compra foi destruído pela inflação”, explicam os economistas do ICL André Campedelli e Deborah Magagna no Boletim Economia Para Todos Investidor Mestre. “Além disso, os problemas estruturais se mantiveram e parecem longe de serem revertidos”, completam os economistas.

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Fonte: Sidra/IBGE



Quando observado o nível de rendimento por gênero, os homens tiveram o seu pior rendimento da série histórica, iniciada em 2012, chegando a uma média de R$ 2.689,00. Entre as mulheres, a diferença continua elevada, de R$ 540,00, em média, sendo que as mulheres apresentaram um rendimento médio real de R$ 2.158,00, terceiro pior valor registrado, ficando atrás apenas de 2012 e 2013. A diferença salarial foi a menor da série, mas isso ocorreu devido às péssimas situações de reajuste dos rendimentos e não em decorrência de uma mudança estrutural do setor.

As rendas mais reduzidas disparadamente ainda são aquelas das pessoas que se consideram pretas ou pardas. Para as pessoas pretas, o rendimento atual é de R$ 1.803,00, pior valor desde 2012. Já para as pessoas pardas, atualmente, é de R$ 1.857,00, o pior valor registrado desde 2013. As pessoas brancas continuam recebendo bem acima do observado entre as demais, equivalente a R$ 3.202,00, porém, este também é o pior valor registrado desde 2012.

Em relação à escolaridade, dados da PNAD apontam que o rendimento das pessoas com ensino superior ficou bem acima dos demais, com R$ 5.134,00. No entanto, além de ter apresentado o pior resultado da série histórica, o rendimento mostrou tendência de queda.

Para aqueles com ensino superior incompleto, também foram apresentados os piores resultados já computados na PNAD, de R$ 2.404,00, enquanto que, para o ensino médio completo, o rendimento ficou em R$ 1.822,00. Na faixa do ensino médio incompleto, o rendimento foi de R$ 1.401,00. As pessoas com ensino fundamental completo receberam rendimentos melhores, de R$ 1.528,00, enquanto as pessoas com ensino fundamental incompleto receberam R$ 1.314,00.

A faixa de pessoas sem instrução foi a única com acréscimo salarial desde o começo da série, de R$ 1.038,00. Isso mostra que o mercado de trabalho está, cada vez mais, empregando essas pessoas, o que fez com que o recebimento apresentasse elevação.

Em relação à idade, as pessoas mais jovens seguiram recebendo rendimento inferior ao das demais faixas etárias. O rendimento entre 14 e 17 anos foi o pior da série histórica e ficou em um patamar de R$ 659,00. As pessoas entre 18 e 29 anos receberam, em média, R$ 1.614,00. Para aqueles entre 30 e 39 anos, o recebimento foi o pior desde 2012, de R$ 2.619,00. Na faixa etária entre 40 e 49 anos, o rendimento também foi o pior desde 2012, de R$ 2.819,00. No intervalo de 50 e 59 anos, o recebimento ficou em R$ 2.585. Para as pessoas mais idosas, acima de 60 anos, o rendimento foi de R$ 3.197,00.

Além de menor renda, mulher negra enfrenta a falta de vagas e o preconceito no mercado de trabalho

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Crédito: Envato


Um levantamento feito pela comunidade Potências Negras, em parceria com a Shopper Experience, com 812 mulheres negras (61% pretas e 39% pardas), constatou que 89% das entrevistadas já tiveram alguma dificuldade no mercado de trabalho. A falta de vagas e o preconceito lideram o ranking dos motivos. O levantamento foi realizado entre os dias 23 de março e 4 de abril. Entre as pesquisadas, 79% são das classes C e D/E e 21% são das classes A e B.

A pesquisa ainda mostrou que 63% das mulheres negras já foram discriminadas em processos seletivos para vagas de emprego, sendo que 62% afirmaram que sentiram discriminação mais de uma vez. Analisando por classe social, a classe B teve a maior proporção de discriminação: 66% do total, seguida pela classe C (63%), classe D/E (61%) e classe A (53%).


Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do Boletim “Economia Para Todos Investidor Mestre”

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