Foi divulgada na terça-feira (26) a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, que será lançada oficialmente em ato na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP (Universidade de São Paulo), no dia 11 de agosto. Trata-se de um manifesto em defesa da democracia, inspirado na “Carta” de 1977, lida pelo jurista e professor Goffredo da Silva Telles Jr., que pedia o restabelecimento do estado democrático de direito e manifestava repúdio ao regime militar. A nova versão tem ganhado assinaturas de peso nas áreas jurídica, empresarial e financeira do país, além de artistas, políticos, escritores, jogadores de futebol, ex-ministros, professores universitários e advogados.
O texto, em um tom duro, defende o sistema eleitoral e o respeito ao resultado das eleições de outubro. “São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”, diz um trecho do manifesto.
O documento surge dias depois do encontro do presidente Jair Bolsonaro com embaixadores, no qual ele coloca em dúvida o processo eleitoral brasileiro por meio das urnas eletrônicas. Bolsonaro tem aparecido em desvantagem nas pesquisas de intenção de votos, atrás do primeiro colocado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre os signatários do manifesto estão Arminio Fraga, economista e ex-presidente do Banco Central; Candido Botelho Bracher, ex-presidente do Itaú; Claudio Haddad, ex-presidente do Insper; José Guimarães Monforte, ex-presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil; e José Olympio Pereira, ex-presidente do Credit Suisse no Brasil.
Um segundo manifesto em defesa da democracia é preparado por empresários
Somando-se à Carta aos Brasileiros, entidades, sindicatos e associações empresariais preparam outro documento, também com o viés em defesa da democracia e da Justiça Eleitoral.
O texto será intitulado “em defesa da democracia” e deve ser publicado nos principais jornais do país, com assinatura de entidades do empresariado, como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
No ano passado, a Fiesp recuou da ideia de subscrever um manifesto em defesa da democracia. Na época, a entidade era presidida por Paulo Skaf. Sob a condução de Skaf, a entidade patrocinou uma campanha contra medidas adotadas no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. O “pato da Fiesp”, mascote da ação da entidade, tornou-se um símbolo dos protestos contra a petista, que foram cruciais para seu impeachment.
Políticos governistas se irritam com manifesto em defesa da democracia
Irritados com a adesão de empresários e banqueiros ao movimento de defesa da democracia, políticos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro têm se manifestado contra a carta. A manifestação mais contundente partiu de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, que disse em uma rede social que banqueiros assinaram o manifesto pela defesa da democracia em razão da perda de arrecadação de R$ 40 bilhões com o PIX. “Então, presidente, se o senhor faz alguém perder R$ 40 bilhões por ano para beneficiar os brasileiros, não surpreende que o prejudicado assine manifesto contra o senhor”, disse Ciro Nogueira, via Twitter.
No ICL Notícias desta quarta-feira (27), o economista Eduardo Moreira rebateu a fala do ministro, dizendo que se trata de “fake news” e que é “exagerada”, pois os bancos, segundo informações veiculadas pela imprensa, teriam deixado de arrecadar, na verdade, R$ 1,5 bilhão. “Os bancos, na verdade, não deixaram de arrecadar nada! Em 2020, conforme levantamento que fizemos a partir de dados públicos, eles arrecadaram R$ 38 bilhões com operações de TED e DOC. Em 2021, esse valor foi de R$ 36 bilhões. Além disso, os bancos faturam o equivalente a R$ 150/dia com operações comerciais via PIX. Ou seja, mais uma notícia mentirosa desse governo para confundir. Os bancos ganharam muito no governo Bolsonaro”, criticou.
Eventos programados para 11 de agosto
Para a leitura dos dois manifestos, estão programados eventos para o dia 11 de agosto na Faculdade de Direito da USP, no centro da capital paulista. Um deles deve reunir empresários e representantes da sociedade, às 10h, no Salão Nobre, quando será lido o manifesto das entidades empresariais e associações. No outro, às 11h30, será feita a leitura da nova edição do manifesto “Carta aos Brasileiros”, no pátio da faculdade.
Para a Carta aos Brasileiros, as entidades ainda estão colhendo assinaturas no documento, que pode ser acessado clicando aqui.
Redação ICL Economia
Com informações das agências