A redução de 3,9% no preço da gasolina vendida pelas refinarias da Petrobras, que passou a valer nesta sexta-feira (29), o segundo corte em menos de duas semanas, vai resultar em uma inflação menor para este ano, segundo projeções de economistas. No entanto, até o momento, os indicadores divulgados têm apresentado queda no que se refere ao segmento de transportes, sobre o qual pesam os combustíveis, mas a inflação de alimentos continua em trajetória ascendente, impactando principalmente os mais pobres. Além disso, é preciso verificar como vai se comportar o preço do barril de petróleo e o câmbio, duas das mais importantes variáveis na formação de preços dos combustíveis, para saber como isso vai respingar no Brasil.
A inflação é um dos principais obstáculos identificados pela equipe que trabalha na reeleição do presidente Jair Bolsonaro para ele avançar nas pesquisas de intenção de votos. O governo tem sido beneficiado, em um momento pré-eleição, pela queda do preço do barril do petróleo no mercado internacional, levando a Petrobras a reduzir o preço da gasolina.
Nos últimos meses, Bolsonaro vem pressionando a empresa a evitar reajustes, os quais minam sua popularidade. Ele trocou o comando da estatal quatro vezes, enquanto o Congresso aprovou projetos para desonerar combustíveis e contornar regras fiscais e eleitorais para conceder novos benefícios, como um auxílio para amenizar o custo dos combustíveis para caminhoneiros e taxistas.
Na quarta-feira, a Petrobras definiu que o seu Conselho de Administração, onde o governo tem maioria, vai “supervisionar” decisões de reajustes tomadas pela diretoria da empresa.
Analistas explicam que o alívio no preço do combustível nas refinarias, que deve chegar às bombas dos postos, não terá efeito sobre o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de julho, uma vez que a coleta da pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) se encerra ontem (28).
Mas se espera que a redução deve impactar em cheio o IPCA de agosto, quando também serão sentidos os efeitos residuais do reajuste anterior de 4,9%, concedido no dia 19 de julho.
O corte no preço do combustível reforça a expectativa de uma deflação em agosto. Isso porque alguns economistas já colocaram na conta uma possível retração nos preços dos serviços de telecomunicações, devido à redução do ICMS sobre o setor, aprovada pelo Congresso.
Para economistas, a gasolina compromete, em média, quase 7% do orçamento das famílias. Portanto, mudanças no preço do combustível não são desprezíveis sobre o índice oficial de inflação, embora impactem menos em cadeia do que o diesel, que é usado no transporte público e no modal rodoviário.
Com o alívio, entre julho e agosto, de 4% no preço da gasolina pago pelos motoristas nas bombas nos postos de combustíveis, considerando os dois últimos cortes nas refinarias, há a perspectiva de redução de 0,25 ponto percentual no IPCA de agosto.
Preço da gasolina tem defasagem positiva em relação ao mercado internacional
Números da Abicom ( Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) indicam defasagem positiva da gasolina em relação ao preço internacional do petróleo.
Devido a isso, alguns analistas projetavam inflação em 7,3% no ano e, agora, baixaram a expectativa para 7,1% no ano. Outros já trabalham com a inflação na casa dos 6,7% em 2022.
Essas medidas de redução de impostos nos combustíveis e serviços de energia e, agora, as reduções de preços de combustíveis, corroboram para uma inflação que começa a convergir mais próxima da meta.
Fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta para o IPCA para 2022 está em 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Dessa forma, a inflação poderia ficar entre 2% e 5% neste ano.
Além disso, a redução no preço da querosene de aviação (QAV), também anunciada ontem pela Petrobras, precisa se manter por 70 a 80 dias para influenciar a coleta do IPCA, visto que o IBGE faz uma pesquisa dos preços de passagens aéreas com 70 dias de antecedência.
Em junho, o IPCA fechou em alta de 0,67%, com o indicador acumulado em 11,89% em 12 meses.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias