A menos de dois meses das eleições, o governo começa a pagar hoje (9), por meio da Caixa Econômica Federal (CEF), os benefícios turbinados aprovados pela chamada PEC das Bondades, que elevou para R$ 600 o valor da parcela do Auxílio Brasil, bem como do Auxílio Gás, com valor equivalente a 100% do botijão, e criou o auxílio caminhoneiro (Benefício Emergencial aos Transportadores Autônomos de Carga – BEm Caminhoneiro).
A conta aos cofres públicos ficará acima de R$ 13 bilhões, sendo R$ 12,1 bilhões destinados ao Auxílio Brasil de R$ 600, além de R$ 624 milhões ao Auxílio Gás de R$ 110. Os valores também consideram R$ 381,8 milhões de recursos destinados ao pagamento das duas primeiras parcelas do BEm Caminhoneiro. O auxílio para taxistas terá os pagamentos iniciados em 16 de agosto.
O volume total de recursos do pacote benefícios, medidas eleitoreiras do governo Bolsonaro, que duram somente até o fim deste ano, é estimado em R$ 41,25 bilhões.
Para analistas, o benefício do Auxílio Brasil está mal desenhado por não levar em consideração o tamanho das famílias e o grau de pobreza dos beneficiários.
O diretor do FGV Social, Marcelo Neri, em entrevista à Folha de S. Paulo, diz que talvez seja um desenho vantajoso do ponto de vista eleitoral, mas certamente o pacote de benefícios está muito longe do que pode ser feito com os mesmos recursos em termos de combate à pobreza.
Neri considera também que houve um grande retrocesso com o que ele chama de “armadilha das generosidades” com os benefícios, em conjunto com a liberação de empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, e alerta para uma montanha russa da pobreza no ciclo eleitoral. “Em todas as eleições federais desde 1982, sem exceção, a pobreza caiu em ano pré-eleitoral, e na grande maioria delas, houve aumento de pobreza depois das eleições. Isso está especialmente forte agora”, ressalta.
Empréstimo consignado tem como alvo benefícios turbinados
O empréstimo consignado tem sido alvo de muitas críticas entre os analistas, principalmente a maneira como será oferecido, podendo comprometer até 40% dos benefícios do Auxílio Brasil.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), por exemplo, informou que “vê essa aprovação dos benefícios como um retrocesso na luta contra o superendividamento da população, principalmente entre os mais pobres”.
Os especialistas explicam que as famílias que solicitarem um empréstimo para regularizar as contas atuais podem comprometer a renda de maneira muito significativa a partir de 2023 e questionam como essas famílias, comprometendo R$ 160 de seu auxílio para pagar o consignado, vão viver com apenas R$ 240, a partir de janeiro quando o valor voltará aos R$ 400.
Discurso de Bolsonaro se resume a apelos para banqueiros baixarem juros
Alheio a essa situação dos mais vulneráveis, o presidente Jair Bolsonaro resume seu discurso a pedir a banqueiros que reduzam a taxa de juros de empréstimos consignados para pessoas que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), um tipo de pensão pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda.
Durante um evento na sede da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em São Paulo, nesta segunda-feira (8), o presidente disse: “faço um apelo para vocês agora, vai entrar o pessoal do BPC (Benefício de Prestação Continuada) no empréstimo consignado, isso é garantia, desconto em folha. Se puderem reduzir o máximo possível porque ainda estamos atravessando, estamos no final da turbulência para que possamos mostrar que não somos mais um país do futuro, é do presente”.
Sem uma política econômica que combata com efetividade a inflação e retome o crescimento do país, Bolsonaro se esquiva de suas responsabilidades e tenta iludir a população com suas frases de efeito e pedidos ao empresariado que beiram o ridículo.
Recentemente ele fez um pedido aos donos de supermercado para que controlassem o aumento de preços, solicitando que eles tivessem o “menor lucro possível” sobre os alimentos da cesta básica. No evento, nesta segunda-feira (8), Bolsonaro voltou a falar sobre o pedido: “fiz uma vídeo conferência com os donos de supermercados do Brasil. Apelei para eles: “dá para diminuir a margem de lucro do produto da cesta básica?”.
Redação ICL Economia
Com informações das agências