O menor poder aquisitivo do brasileiro fez com que as vendas do comércio registrassem queda pelo segundo mês seguido, de acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta manhã (10). O recuo no mês de junho foi de 1,4% comparativamente a maio, sendo o pior resultado em seis meses. Na comparação com junho do ano passado, o recuo foi de 0,3%.
Segundo o IBGE, a retração das vendas em junho foi disseminada, atingindo sete das oito atividades pesquisadas. Contudo, os maiores impactos no resultado vieram dos segmentos de tecidos, vestuário e calçados, com queda de 5,4% nas vendas e de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com retração de 0,5%.
O levantamento é uma fotografia do momento pelo qual atravessa a população brasileira, principalmente a mais vulnerável, a mais impactada pela inflação. Dentre as atividades, a mais pressionada pelos índices inflacionários, segundo o IBGE, são as vendas dos supermercados.
“Entre abril e maio, houve variação de 4% na receita e de 1% no volume de vendas, indicador em que a pesquisa já desconta a inflação. De maio para junho, essa atividade teve queda de 0,5% no volume, mas variou 0,3% em receita. Isso significa que há amplitude menor da inflação, mas o suficiente para que o volume tivesse uma variação negativa, apesar de a receita ficar no campo positivo”, explica o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
No entanto, mesmo com a retração de junho, o nível de vendas dos supermercados segue 2,3% acima do patamar pré-pandemia. Já o setor de tecidos, vestuário e calçados ainda segue 9,9% abaixo do patamar pré-pandemia.
“Essa atividade teve uma queda intensa na passagem de maio para junho. Ao longo do ano, houve altas ligadas a uma nova estratégia adotada por essas empresas de também se lançar no comércio eletrônico, de fazer vendas virtuais de forma mais forte do que se fazia antigamente, já que, nesse setor, experimentar um produto antes de comprar é muito importante”, complementa o pesquisador.
Lembrando que a taxa de maio foi revisada pelo instituto, de alta de 0,1% para baixa de 0,4%. Assim, o indicador ficou pelo segundo mês seguido em queda, após quatro taxas positivas.
Em dois meses, o setor acumula retração de 0,8% ante o bimestre anterior. O resultado de junho corresponde à menor variação negativa para o comércio desde dezembro de 2021, quando a taxa ficou negativa em 2,9%.
Vendas do comércio acumulam perda de 0,9% em 12 meses, ante 0,4% no acumulado dos 12 meses imediatamente anteriores
Apesar da retração forte no mês de junho, as vendas do comércio no país acumulam alta de 1,4% no primeiro semestre em comparação ao mesmo período de 2021. Isso significa que o percentual continua 1,6% acima do patamar pré-pandemia de Covid-19, em fevereiro de 2020. No segundo semestre do ano passado, o segmento registrou baixa de 3,0%.
Nos primeiros seis meses do ano, seis atividades apontaram crescimento. Entre as maiores variações estão livros, jornais, revistas e papelaria (18,4%), tecidos, vestuário e calçados (17,2%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (8,4%). Por outro lado, duas atividades tiveram queda: móveis e eletrodomésticos (-9,3%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,8%).
Contudo, em 12 meses os dados continuam em trajetória decrescente. Nos 12 meses encerrados em junho, o setor acumula perda de 0,9% contra queda de 0,4% no acumulado dos 12 meses imediatamente anteriores. Isso indica um desaquecimento das vendas do varejo, que está 4,6% abaixo da melhor marca histórica, apontada em outubro de 2020.
Quando avaliado o indicador de comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, o recuo nas vendas foi de 2,3% em junho ante maio, sendo que o maior item pressionado foi o de veículos, motos, partes e peças, com retração de 4,1%.
No âmbito das unidades da federação, as vendas encolheram em 23 das 27 existentes. Na dianteira da lista de maiores recuos estão Minas Gerais (-7,7%), São Paulo (-2,5%) e Espírito Santo (-2,5%).
Na contramão, a única atividade que cresceu em junho frente o mês de maio foi a de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,3%). Mas, de acordo com o pesquisador do IBGE, esse crescimento se deve à alta dos preços dos medicamentos. “Esse é um tipo de produto que, na maioria das vezes, você não consegue substituir. Isso aumenta o dispêndio de uma família que pode ter que gastar nessa atividade e diminuir o consumo em outras”, analisa Cristiano.
Redação ICL Economia
Com informações da Agência de Notícias do IBGE