Pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (17) mostra que o início do pagamento de benefícios pelo governo federal, incluindo o Auxílio Brasil, não alterou a diferença entre Lula (45%) e Bolsonaro (33%), que se mantém em 12 pontos percentuais. Esses números referem-se à pesquisa estimulada, quando a lista de candidatos é apresentada ao eleitor.
Um fato a notar é que Lula supera a soma de todos os outros candidatos (45% a 43%), e com isso venceria a eleição no primeiro turno, de acordo com o levantamento, porque assim teria mais de 50% dos votos válidos – total de votos descontados os brancos e nulos.
O quadro regional também aparece inalterado. No Nordeste a vantagem de Lula continua sendo alta, 40 pontos. Nas outras regiões, os candidatos continuam empatados dentro da margem de erro (margem de erro no Sudeste, 4 pontos; Sul, 6 pontos; Centro-Oeste, 8 pontos; e Norte, 8 pontos).
As informações da pesquisa foram divulgadas pelo diretor do Instituto Quaest, Felipe Nunes, em seu perfil no Twitter. PhD em Ciência Política, Nunes é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Segundo Nunes, há dois movimentos que merecem destaque na pesquisa de hoje. Um deles é que a ofensiva de Bolsonaro sobre os evangélicos continua dando bons resultados. Subiu de 19 para 24 a diferença entre os dois candidatos neste segmento. Diferença nos católicos, no entanto, permanece próxima dos 25 pontos em favor de Lula.
“Mas a expectativa de diminuição da diferença dos candidatos entre os que recebem o Auxílio foi frustrada. Ao invés de diminuir, aumentou de 23 para 30 pontos a vantagem de Lula sobre Bolsonaro nesse grupo”, destaca Nunes.
Há duas hipóteses possíveis para explicar essa reversão do efeito do Auxílio. A primeira, seria a de que a população não dá crédito a Bolsonaro, porque não sabe que ele é o ‘pai’ da proposta. “Não parece ser este o caso, já que aumentou quem diz que ele é o responsável.”
Também não se sustenta a ideia de que Bolsonaro não seja responsável pela redução do preço dos combustíveis. Quase 45% dão esse crédito a ele.
A segunda hipótese possível é a de que Bolsonaro não atrai crédito político, porque os eleitores desconfiam que as medidas não teriam sido feitas para ajudar as pessoas, mas para ajudar na reeleição do presidente. Os dados sustentam essa tese: 62% acreditam nisso.
Apenas os eleitores do presidente dizem acreditar que ele esteja tomando medidas para ajudar as pessoas. Eleitores de Lula e dos demais candidatos acreditam que Bolsonaro esteja simplesmente procurando soluções que ajudem na sua reeleição.
“Mas isso quer dizer que as medidas econômicas não serão capazes de gerar qualquer efeito político? É cedo pra dizer”, avalia o diretor da pesquisa.
Avaliação do governo
Algum efeito do pagamento de benefícios já está sendo sentido em outros indicadores, por exemplo, na avaliação do governo. É a primeira vez que a avaliação positiva aparece na casa dos 29% e a avaliação negativa em 41%.
“Essa queda na avaliação negativa acontece no Nordeste e no Sudeste, e mesmo nas regiões onde a margem de erro é maior é possível perceber uma tendência de melhora na imagem do governo federal”, diz.
A avaliação negativa do governo Bolsonaro também caiu entre quem tem renda mais baixa e entre quem tem renda média. Estes são indicadores importantes de acumulo de capital político por parte do governo, o que pode vir a se transformar em intenção de voto no futuro.
Percepção da economia
Também já dá pra constatar que a percepção sobre a economia melhorou nos últimos meses, algo que pode favorecer Bolsonaro. Embora a economia continue sendo o principal problema do país (40%) está diminuindo a percepção de que a economia do país piorou no último ano. É o melhor resultado desde o começo da série histórica (52%), mesmo ainda sendo um percentual muito alto.
No campo dos sentimentos, Bolsonaro também tem o que comemorar. Continua alto o percentual de eleitores que dizem que ele está fazendo o que pode para resolver os problemas do país. Enquanto ele tem 33% das intenções de voto, 45% dizem que ele está fazendo o que pode.
Porém, Nunes destaca o crescimento da preocupação dos entrevistados com temas como a fome e a miséria. “É de cortar o coração”.
Segunda chance
Na comparação de quem mais merece uma segunda chance, Lula continua vencendo, mas a distância para Bolsonaro diminuiu: 54% acham que Lula merece uma segunda chance, enquanto 44% acham que Bolsonaro é o merecedor de uma segunda chance; eram 41% quinze dias atrás.
Outro dado relevante a favor do presidente é que aumentou a certeza de voto em Bolsonaro (de 73% para 78%) e caiu a certeza de voto em Lula (de 78% para 74%).
Enquanto isso, o medo da volta do PT quase empata tecnicamente com o medo da continuidade deste governo. A distância que era de 17 pontos em junho, agora está em 5 pontos.
“O que intriga é a dissociação entre voto e avaliação de governo. Acredito ser possível justificar isso pela alta rejeição que o presidente acumulou ao longo de seu mandato e que parou de cair este mês”, afirma o diretor da pesquisa. Bolsonaro manteve sua rejeição em 55%, enquanto Lula manteve seus 44%.
“Acredito que os eleitores de Lula vão comemorar a estabilidade da diferença entre os dois candidatos. Mas há indícios de que Bolsonaro possa voltar a crescer”, afirma ainda.
O levantamento ouviu 2.000 pessoas em 120 municípios das cinco regiões do País entre os dias 11 e 14/ago. A margem de erro é de 2 pontos percentuais e o nível de confiabilidade de 95%. Pesquisa registrada BR-01167/22.