No Brasil do avanço da fome, da pobreza e da inflação de alimentos em alta, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, não consegue convencer aqueles que ganham até dois salários mínimos a mudarem seus votos. Pesquisa Datafolha divulgada ontem à noite (18) mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tirou o Brasil do Mapa da Fome quando ocupou a Presidência do país, oscilou positivamente em um ponto percentual, para 55%, enquanto Bolsonaro manteve os 23% ante o levantamento anterior naquele grupo de eleitores, que representam 51% da amostra do Datafolha.
De modo geral, a pesquisa mostra Lula com 47% das intenções de voto, enquanto o presidente está com 32%. Em terceiro lugar aparece Ciro Gomes (PDT), com 7%, seguido de Simone Tebet (MDB), com 2%
Meses antes das eleições presidenciais, Bolsonaro aprovou um pacotaço de auxílios para tentar turbinar seus números nas pesquisas de intenções de votos. Ao menos até o momento, tem falhado em seu intento.
Em 9 de agosto, começaram a ser pagos o Auxílio Brasil de R$ 600 e os benefícios para taxistas e caminhoneiros. A equipe da campanha do presidente já contava estar colhendo os frutos dessas iniciativas nas pesquisas eleitorais, mas os levantamentos recentes jogaram um balde de água fria no time bolsonarista, que agora tenta abrandar o discurso.
Obviamente que, em um país tão desigual quanto o Brasil, o Auxílio Brasil com aumento de R$ 200 faz muita diferença para milhões de brasileiros. Mas, se o programa traz alívio, também é recebido com desconfiança. O eleitor não é bobo e sabe que o pacote de benesses de Bolsonaro vai durar até 31 de dezembro, ou seja, trata-se de uma medida eleitoreira, para ganhar votos nas eleições. O eleitor mais vulnerável socialmente tem a consciência de que, sob Bolsonaro, a vida piorou, ainda que fossem descartados os efeitos maléficos da pandemia de Covid-19. Até aqui, o presidente deixa claro para quem governa: os mais ricos, onde se encontra grande parte de seu eleitorado. Essa impressão é mostrada em números.
Pesquisa Quaest divulgada no dia 17 de agosto mostra que dois em cada três eleitores consideram que as medidas econômicas do governo servem principalmente para “ajudar a eleição de Bolsonaro”. Apenas um terço opina que o objetivo é “ajudar as pessoas”. Esse segmento que vê benemerência no governo é majoritariamente bolsonarista.
A cerca de um mês e meio antes do primeiro turno das eleições, em 3 de outubro, não é impossível que Bolsonaro consiga crescer nesse eleitorado, mas a impressão que se tem com o resultado do Datafolha é de que o eleitor mais pobre seja mais influenciado pelo passado, durante o governo Lula, quando a vida dos mais vulneráveis apresentou importante melhora.
Contudo, vale considerar que o presidente tem a máquina nas mãos e deve continuar lançando mão de artilharia pesada para tentar virar o jogo. O Datafolha mostra que Bolsonaro subiu três pontos em cerca de 20 dias no levantamento, chegando aos 32%, mesma taxa que o levantamento do Ipec (antigo Ibope) havia detectado recentemente. Esse indicador praticamente reduz as chances de Lula vencer as eleições já no primeiro turno, mas analistas avaliam que virar o jogo deve ser tarefa quase impossível para Bolsonaro.
Isso porque o índice de rejeição do presidente é alto – ele continua sendo rejeitado por 51% dos eleitores. Ou seja, a maioria absoluta dos brasileiros diz que não votaria de jeito nenhum no atual ocupante do Palácio do Planalto.
Pesquisa Datafolha mostra ‘efeito Michelle’ entre os evangélicos. Mas corte regional aponta Lula imbatível no nordeste
No eleitorado feminino, mais impactado pelo Auxílio Brasil, o Datafolha também não mostrou mudanças significativas. No entanto, no recorte religioso, Lula ganha entre os católicos, enquanto Bolsonaro amplia a sua margem entre os evangélicos, o que pode ser um indicativo do efeito da presença mais forte da primeira-dama Michelle Bolsonaro na campanha. Evangélica, as participações dela em eventos públicos, com um discurso que remete a uma “guerra santa” entre bons e maus, têm sido bem recebidas nesse eleitorado, no qual Bolsonaro tem 49% das intenções de votos (29% de mulheres), enquanto Lula tem 32%. Mas, deve-se ressaltar, entre os religiosos já não há tantos votos a conquistar.
Porém, quando se trata do corte regional, o ex-presidente Lula segue rei no nordeste (27% da amostra da pesquisa), com 57% a 24% para Bolsonaro. Foco das campanhas nessa primeira etapa, o populoso sudeste (43% da amostra) ainda dá folga ao petista: 44% a 32% de Bolsonaro.
Na região sul (14% dos ouvidos), o petista tem 43% e Bolsonaro, 39%. O atual presidente mantém vantagem no centro-oeste (7% dos ouvidos), região onde o agronegócio é forte, batendo Lula por 42% a 36%. Já no norte (8% dos eleitores), há empate com Bolsonaro à frente (43% ante 41%).
Nas perguntas espontâneas, sem mostrar a lista de candidatos, Lula é o mais citado, com 40%, seguido por Bolsonaro (28%). Dizem não estar decididos sobre o voto 22%.
Pesquisa mostra que 75% dos eleitores estão decididos em quem votar
O levantamento Datafolha mostra ainda que grande parte dos eleitores já está certa sobre o candidato em quem votarão nas eleições 2022. Segundo a pesquisa, 75% deles se dizem totalmente decididos sobre a opção que já tomaram — índice que era de 71% no levantamento anterior, em julho.
Os percentuais são ainda maiores se considerados apenas os entrevistados que apoiam os dois primeiros colocados. Os eleitores de Lula têm 83% de certeza de que votarão nele ante 80% de Bolsonaro.
No quadro geral, 25% dizem que o voto ainda pode mudar até a data da eleição. Os percentuais de indecisão são superiores entre mulheres —29% admitem reconsiderar a decisão, ante 21% dos homens— e entre jovens de 16 a 24 anos —nesse grupo, 36% respondem que ainda podem rever a escolha.
O Datafolha ouviu 5.744 eleitores em 281 municípios. A pesquisa, contratada pelo jornal Folha de S.Paulo e pela TV Globo está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR-09404/2022.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias