As famílias e as empresas pagaram taxa de juros mais altas em junho deste ano, segundo as Estatísticas Monetárias e de Crédito divulgadas ontem (29) pelo Banco Central (BC). A taxa média de juros para pessoas físicas no crédito livre chegou a 51,5% ao ano, com aumento de 1,1 ponto percentual em relação a maio e de 11,7 pontos percentuais em 12 meses.
Nas contratações com empresas, a taxa livre cresceu 0,7 ponto percentual no mês e 8,1 pontos percentuais em 12 meses, alcançando 22,6% ao ano. No crédito livre, os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e para definir as taxas de juros cobradas dos clientes.
A alta taxa de juros bancários médios ocorre em um momento de aumento da taxa básica de juros da economia, a Selic, definida em 13,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). No governo Bolsonaro, a taxa está no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano.
Para pessoas físicas, o destaque foi o cartão, com alta de 2,1 pontos percentuais no mês, alcançando 78,7% ao ano. No crédito rotativo, que é aquele tomado pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão e dura 30 dias, houve aumento de 1,6 ponto percentual no mês, para 370,4% ao ano. Após os 30 dias, as instituições financeiras parcelam a dívida. No caso do cartão parcelado, os juros subiram 0,5 ponto percentual, para 173,2% ao ano.
Desde abril de 2017 uma regra obriga os bancos a transferirem, após um mês, a dívida do rotativo para o parcelado (que tem taxa de juros mais baixa). No caso do parcelado (ainda no cartão de crédito), os juros passaram de 172,7% para 173,2% ao ano. Considerando o juro total do cartão de crédito, que leva em conta operações do rotativo e do parcelado, a taxa passou de 76,6% para 78,7%.
Também influenciaram o aumento da taxa de juros para as famílias as taxas do cheque especial, com alta de 1,3 ponto percentual (129,2% ao ano), e o crédito pessoal não consignado, que subiu 1,2 ponto percentual (87,5% ao ano).
O rotativo do cartão e o cheque especial são duas modalidades de crédito emergencial muito acessadas em momentos de dificuldades, e a intenção do governo com a regra era permitir que as taxas do rotativo recuassem, pois o risco de inadimplência (em tese) cai com a migração para o parcelado.
No crédito livre às empresas, houve incrementos na maioria das modalidades, especialmente em capital de giro, alta de 1,3 ponto percentual, para 23,3% ao ano; cheque especial, aumento de 2 pontos percentuais, chegando a 316,9% ao ano; e desconto de cheques, que subiu 1,5 ponto percentual, alcançando 36,8% ao ano. Já o financiamento a importações caiu 3,7 pontos percentuais, para 8,8% ao ano, assim como o cartão de crédito, que teve recuo de 1,9 ponto percentual nos juros, para 29,9% ao ano.
Enquanto que no crédito livre os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir a taxa de juros cobrada dos clientes, no crédito direcionado, há regras definidas pelo governo. É basicamente destinado aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito.
No caso do crédito direcionado, a taxa média para pessoas físicas ficou em 10,4% ao ano em junho, alta de 0,1 ponto percentual no mês. Para as empresas, a taxa de juros caiu 0,7 ponto percentual para 11,5% ao ano no mês passado.
No total, nas contratações de crédito livre e direcionado, a taxa média de juros do Sistema Financeiro Nacional (SFN) aumentou 0,5 ponto percentual no mês e 8,1 pontos percentuais em 12 meses, alcançando 28,1% ao ano.
De acordo com o BC, a inadimplência (considerados atrasos acima de 90 dias) tem se mantido estável há bastante tempo, com pequenas oscilações, e está em 2,7%. Nas operações de crédito para pessoas físicas, está em 3,5% e para pessoas jurídicas em 1,4%.
Taxa de juros contribui para o endividamento das famílias, que bateu recorde em julho
O endividamento e a inadimplência das famílias brasileiras bateram recorde em julho, de acordo com pesquisa divulgada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
Segundo o levantamento, 78% das famílias brasileiras estão endividadas, e 29% estão com contas atrasadas –altas de 0,7% e de 0,5%, respectivamente, na comparação com junho. Os números são os maiores desde o início da pesquisa, em 2010, e refletem o aumento das concessões de empréstimos.
Em junho, o estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional ficou em R$ 4,956 trilhões, com aumento de 1,6% em relação a maio. O crescimento em 12 meses da carteira chegou a 17,8% em junho. O saldo do crédito correspondeu a 53,9% do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços que o país produz.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias