Veio à tona mais um capítulo do escândalo envolvendo pagamento de propina a pastores à época em que Milton Ribeiro estava à frente do Ministério da Educação. O empresário do setor da construção civil Ailson Souto da Trindade, candidato a deputado estadual pelo PP no Pará, revelou que Ribeiro deu aval para que contratos de obras federais de escolas fossem negociados em troca de propina paga em dinheiro vivo, escondido no pneu de um automóvel, para os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo aponta que o acordo de propina previa pagamento em dinheiro vivo, no valor de R$ 5 milhões, que seria escondido na roda de uma caminhonete para ser levado de Belém (PA) até Goiânia (GO), onde está a sede da igreja dos pastores.
Ribeiro pediu demissão do cargo de ministro em 28 de março em meio a denúncias sobre um suposto esquema informal de obtenção de verbas envolvendo os dois pastores, que não têm cargo público. O STF (Supremo Tribunal Federal) abriu inquérito para investigar o caso de propina, e a revelação do empresário traz novos elementos à investigação.
Ribeiro e os dois pastores chegaram a ser presos por suspeita de propina. Aliás, em um telefonema interceptado pela PF (Polícia Federal), o ex-ministro revelou à filha que o presidente Jair Bolsonaro (PL) teria lhe alertado sobre a operação, revelando indícios da interferência do presidente na operação.
Na ocasião, prefeitos relataram que os pastores cobravam propina, em dinheiro vivo, além de compra de bíblias e até ouro para liberar verbas.
Em carta entregue ao presidente com seu pedido de demissão, Ribeiro disse ter “plena convicção que jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário. As suspeitas de que uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade”.
O empresário da construção civil, segundo o Estadão, é a 12ª pessoa a relatar esquema de corrupção na pasta, jogando por terra a narrativa do presidente e seus seguidores de que não há corrupção no governo Bolsonaro.
Na entrevista concedida ao jornal, o empresário sustentou ter ouvido do então ministro, no MEC, em 13 de janeiro do ano passado, que obras públicas estariam garantidas a ele. Mas, em troca, ele deveria “ajudar” a igreja dos pastores. Foi então acertado com o pastor Gilmar o repasse de R$ 5 milhões em propina, em dinheiro vivo, na roda da caminhonete.
Caso de propina no MEC era mascarado por contratos fictícios firmados entre empresa e igreja
Segundo relato do empresário à reportagem do Estadão, o então ministro da Educação fez uma reunião com todos os prefeitos, no prédio do MEC, em 13 de janeiro do ano passado. “Depois houve o coquetel, num andar mais acima. Lá, a gente conversou, teve essa conversa com o ministro. Eu não sabia nem quem era o ministro. Ele se apresentou: ‘Eu sou Milton, o ministro da Educação, e o Gilmar já me passou o que ele propôs para você e eu preciso colocar a tua empresa para ganhar licitações, para facilitar as licitações. Em troca você ajuda a igreja. O pastor Gilmar vai conversar com você em relação a tudo isso’”, disse o empresário.
O pagamento da propina seria mascarada por meio de um contrato fictício firmado entre a igreja de Gilmar e a empresa de Trindade. “Eles falaram: ‘existe uma proposta para tu fazer isso (as obras)’. Aí eu disse: ‘que proposta?’. ‘Bom, a gente está precisando reformar umas igrejas e estamos precisando também construir alguns templos, no Maranhão, no Pará, e também outros lugares. Então estamos precisando de R$ 100 milhões para fazer isso’. Aí eu falei: ‘mas o que que eu vou ganhar em troca? Como é que vai acontecer? A igreja vai contratar minha empresa?’ ‘Não, a gente faz um contrato, entendeu? Faz o contrato com a empresa, a igreja contrata a tua empresa e eu consigo articular para tua empresa fazer as obras do governo federal’”, teria dito Arilton, um dos pastores, conforme narrou o empresário.
No entanto, para que as obras fossem garantidas, o primeiro repasse, no valor de R$ 5 milhões em propina, deveria ser pago dois dias após o encontro. O empresário disse ter argumentado que não poderia fazer o negócio daquela forma. “Eu disse: ‘não, gente, vamos fazer em conta porque como é que eu vou saber… se não der certo, como vou provar que eu paguei?’ Aí eu fiquei com medo desse tipo de negociata. Daí queriam R$ 5 milhões logo e, depois de 15 dias, queriam mais R$ 50 milhões”, revelou.
De acordo com a reportagem, as datas dos encontros relatados pelo empresário batem com o registro de entrada dele no ministério, em Brasília, com fotos nas redes sociais e com a agenda de Milton Ribeiro e dos pastores à época.
O empresário e candidato a deputado estadual responde por crime de estelionato, após ser acusado de aplicar golpes com promessa de liberação de empréstimos para beneficiários do Bolsa Família. Ele diz que jamais foi intimado judicialmente e, por isso, ainda não recorreu. Ele também afirmou não haver impedimento eleitoral.
Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo