Os anúncios eleitoreiros de cortes nos preços da gasolina e do diesel vêm sendo usados pelo governo como um dos trunfos da campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), com publicações em redes sociais e visitas a postos não só no Brasil, mas também na Inglaterra. Passadas 14 semanas do mandato do novo presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, indicado pelo governo, apenas em 5 semanas não houve anúncios de cortes no preço do combustível. Os preços da gasolina e do diesel, vendidos pela estatal, caíram 19,2% e 13,7%, respectivamente.
Os anúncios eleitoreiros são consequências, na realidade, da queda das cotações internacionais do petróleo, e têm sido feitos “a conta-gotas” para gerar notícias positivas para mais votos ao atual governo. No comando da Petrobras há 3 meses, Caio Paes de Andrade anunciou quatro vezes redução no preço do litro da gasolina e o do diesel, três vezes. A Petrobras ainda derrubou duas vezes o preço do gás de cozinha e passou a divulgar mudanças nos preços de combustíveis de aviação e do asfalto, o que não fazia quando as cotações do petróleo estavam em alta.
Caio Paes de Andrade é acusado por opositores de afrouxar as regras de governança da companhia e de acomodar aliados do governo em cargos na estatal.
Além dos anúncios eleitoreiros de cortes no preços dos combustíveis, Paes de Andrade tem acomodado na Petrobras pessoas próximas ao Palácio do Planalto e ao Exército
Nas assessorias especiais da presidência, Paes de Andrade tem acomodado outras pessoas próximas ao Palácio do Planalto e ao Exército. Um deles é o coronel Luiz Otávio Franco Duarte, que atuou sob o comando do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde. Outro é o militar da reserva Mario Pedroza da Silveira Pinheiro.
Paes de Andrade nomeou outros quatro assessores, todos eles oriundos de sua antiga equipe no Ministério da Economia. Ele era secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, quando foi nomeado à Petrobras.
“O balanço dos primeiros 90 dias da gestão de Paes de Andrade mostra que a governança da Petrobras está comprometida por indicações políticas e ataques na estrutura organizacional da empresa”, disse o o coordenador-geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar para a reportagem da Folha de S. Paulo. Segundo ele, medidas internas questionáveis estão sendo adotadas para facilitar demandas da presidência da República às vésperas das eleições.
A Petrobras diz que “todos os profissionais contratados têm as qualificações necessárias para o desempenho de suas funções e atividades”. “Destacamos também que alterações no quadro funcional fazem parte do processo de mudança de gestão em qualquer empresa.”
Sobre a aceleração dos reajustes, a empresa repetiu que que não há periodicidade definida. “A companhia segue buscando o equilíbrio dos seus preços com o mercado, mas sem o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”. “Por fim, esclarecemos que o presidente trabalha presencialmente tanto na sede, no Rio de Janeiro, como no prédio da Petrobras em Brasília; e eventualmente em São Paulo”, completou, em nota, a companhia.
Em uma aparição pública, Paes de Andrade enviou vídeo para a abertura da feira “Rio Oil and Gas”, na segunda-feira (23), no qual reforçou o foco da empresa no pré-sal e de seus esforços para descarbonizar as operações e fez propaganda do governo Bolsonaro, falando em melhoria do ambiente de negócios nos últimos anos.
A gestão de Paes de Andrade é questionada também por minoritários e sindicatos por afrouxar as regras de governança da empresa. Sua própria nomeação foi questionada e teve três votos contrários entre os dez conselheiros aptos a votar, por alegações de falta de experiência para o cargo.
Para reduzir resistências, o governo nomeou um conselho mais alinhado, formado majoritariamente por ocupantes de cargos públicos, e o Comitê de Pessoas, que analisa as indicações, não tem mais representantes dos minoritários, como em gestões anteriores.
O executivo pretende também trocar a diretoria de Governança, que tem poder de veto sobre decisões que gerem risco ou contrariem o estatuto da empresa. Até o momento, ele trocou apenas o diretor de Transformação Digital e Inovação, indicando um nome próximo ao presidente da República, o executivo Paulo Palaia.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo