O vídeo que circulou ontem (4) nas redes sociais, em que um empresário bolsonarista pratica assédio eleitoral sobre trabalhadores de sua empresa, no Pará, pressionando todos eles a votarem no presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, não é um caso isolado. Outros casos parecidos de assédio eleitoral têm sido denunciados a sindicatos ao longo da campanha e, somente ontem, quatro deles vieram à tona, incluindo o já citado.
Ao longo da campanha eleitoral, houve diversas denúncias de que empresas que praticam assédio eleitoral, cujos donos são alinhados a Bolsonaro, estariam compelindo seus empregados e fornecedores a votarem no presidente, dizendo que seus negócios estariam ameaçados se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer as eleições.
Pode-se dizer que a “moda” de praticar assédio eleitoral foi lançada nas eleições de 2018, quando um vídeo veio a público mostrando o dono das lojas Havan, Luciano Hang, um dos empresários mais bolsonaristas do país, pressionando funcionários a votarem no então candidato à Presidência. A tática usada é a mesma até hoje: uma vitória do PT nas urnas significa o fim de seus negócios. Fundada em 1986, a Havan não só sobreviveu como cresceu ao longo dos governos petistas.
Hang e outros empresários foram alvo da ação da PF (Polícia Federal) por armarem, via WhatsApp, uma conspiração golpista, um legítimo assédio eleitoral, caso Lula vença as eleições.
O caso do Pará mostra o empresário Maurício Lopes Fernandes Júnior, o “Da Lua”, de São Miguel do Guamá, ameaçando os trabalhadores que a empresa vai fechar se Lula vencer. Ele ainda oferece R$ 200 para cada um, em caso de vitória de Bolsonaro.
No vídeo, “Da Lua” diz aos trabalhadores: “Eu sei que nem todo mundo aqui vota em Lula, mas nós temos que se unir (sic) para que Lula não ganhe, porque se Lula ganhar você pode ser ter certeza que mais da metade dessa empresa vai fechar. Eu mesmo tenho três cerâmicas aqui porque ninguém vai aguentar o que vem por aí”, disse o empresário, que montou a empresa justamente em 2013, quando Dilma Rousseff era a presidenta do país.
E o empresário prossegue: “Vou pegar o nome de cada um de vocês e todo mundo, tanto com carteira assinada, sem carteira, carregador de caminhão, motorista de caminhão, lenheiro, todo mundo. Quem está aqui e quiser dar o nome, e o seu presidente ganhar a eleição, cada um vai ter 200 contos no bolso no dia seguinte de manhã, “duzentão” para cada um”, conclui.
Três denúncias de assédio eleitoral chegaram ontem ao MPT. Uma delas envolve financiador das campanhas de Bolsonaro e aliados
De acordo com a coluna Painel S.A., da Folha de S.Paulo, só de segunda para terça-feira, três casos nesse sentido chegaram ao conhecimento de órgãos como o MPT (Ministério Público do Trabalho) e a DPU (Defensoria Pública da União). Eles se somam a uma série de denúncias do mesmo teor recebidas nos últimos meses. Além de serem caracterizadas como assédio contra trabalhadores e fornecedores, as denúncias também se enquadram em crime eleitoral.
Entrevistado pela coluna, João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, disse que entidade encaminhou denúncia ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra duas empresas do Rio Grande do Sul, que enviaram comunicados a fornecedores informando corte nos negócios em caso de vitória de Lula. Já há outro caso sore assédio eleitoral em apuração.
Uma das empresas denunciadas é a Stara, do setor agrícola, que tem entre os sócios o vice-prefeito de Não-Me-Toque, Gilson Lari Trennepohl, que doou R$ 350 mil para a campanha de Bolsonaro, R$ 300 mil para Onyx Lorenzoni e R$ 25 mil para Tarcísio de Freitas, em São Paulo.
Em sua defesa, o presidente da Stara divulgou vídeo após a repercussão do caso afirmando que a carta aos fornecedores é apenas um informativo de revisão das projeções da companhia para 2023.
Outro caso envolve a Extrusor, empresa de Novo Hamburgo (RS) que comercializa máquinas e peças para a indústria do plástico. Uma carta em nome da empresa enviada aos fornecedores na terça-feira (4) afirma que, com Lula eleito, ela passará a funcionar apenas de forma virtual, cortando contratos.
A situação forçou o MPT-RS (Ministério Público do Trabalho) e o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 4ª Região a divulgarem nota conjunta afirmando que qualquer prática que restrinja a liberdade de escolha dos funcionários é ilícita e pode ser enquadrada como assédio eleitoral e abuso de poder econômico. A Stara foi notificada, segundo a coluna da Folha de S.Paulo.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e Piauí